Terminou esta terça-feira mais uma edição da Semana da Moda de Londres. O romantismo esteve no ar, dos imponentes estampados florais às rendas, volumes e detalhes vitorianos. Os portugueses Marques’Almeida regressaram à cidade que os catapultou para a ribalta. Na Burberry, Riccardo Tisci continua a reforçar o nascer de uma nova era dentro de uma das mais históricas marcas britânicas. O desfile, que aconteceu na passada segunda-feira à tarde, começou por trazer um manifesto ambiental. Tal como a recente apresentação de Gabriela Hearst, em Nova Iorque, também este se declarou neutro em carbono. “Compensámos os nossos impactos, como os voos dos convidados que viajaram para Londres só para assistir ao desfile, o recinto e a produção do evento, através de projetos REDD+ com certificação VSC que previnem a desflorestação e conservam a floresta tropical na Amazónia brasileira”, leu-se em comunicado.

Em cima da passerelle, no que à moda diz respeito, a Burberry não se mostrou menos atenta às prioridades dos nossos dias. Os fatos de três peças, as camisas e trench coats modificados (Tisci usou e abusou desta peça) e a seleção de cores, que pode facilmente resumir-se em branco, bege e cinzento, foram marcos de sobriedade. As plumas e rendas, que marcaram o final do desfile, somadas aos hoodies, franjas e estampados de desenhos naturalistas, tornaram mais complexo o rumo da coleção, batizada de “Evolution”.

Kendall Jenner, Gigi Hadid e Irina Shayk foram as estrelas do casting da Burberry © Getty Images

“O trench coat e o xadrez vão sempre ser ícones da marca, mas a sociedade muda, o mundo está a mudar e agora as pessoas querem vestir coisas diferentes — e não interessa de que país vêm. Por isso, a globalização do estilo é hoje uma outra abordagem”, explicou Tisci à Vogue após o desfile. O criador continua investido em contribuir para a revolução que ele próprio encetou quando assumiu a direção criativa da Burberry, no início do ano passado. Aos poucos, o método italiano do designer dilui-se nos códigos de vestuário da marca. Das aproximações ao streetwear aos jogos de transparências e sobreposições, o estilo, outrora defendido como tipicamente britânico vai perdendo rigidez, abrindo espaço para a leveza e para a ousadia. Quanto ao famoso xadrez, desta vez nem chegou a aparecer.

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O meu vestido é maior que o teu

Mas o que seria da semana da moda londrina sem as elaboradas composições florais, sem as silhuetas campestres ou as volumosas saias de tule? Por estes dias, o sotaque britânico parece ir muitos mais nesta direção. Erdem deu tudo na estamparia. Os motivos florais ficaram ainda mais expressivos com o exagero de volumes e proporções dos coordenados, quase todos compostos por vestidos invariavelmente longos. Com outros mil bouquets, os jogos de Richard Quinn seguiram um rumo diferente. Os seus volumes são teatrais, enquanto as cinturas marcas e os ombros exagerados comunicam drama. No final do desfile, o jovem prodígio apresentou algumas propostas desafiantes para noivas.

Final do desfile da Erdem © Isabel Infantes/PA Images via Getty Images

Simone Rocha levou o seu charme idílico para um velho (agora recuperado) teatro vitoriano. A criadora continua a combinar o melhor de dois mundos — os seus folhos, rendas e bordados não podiam ter um ar mais tradicional, enquanto as peças continuam a ser pensadas para um styling contemporâneo e citadino. Não é por acaso que as calças por baixo de saias e vestidos marcaram o álbum de imagens do desfile. Um dia antes, no sábado, os volumes do tule e da organza já tinham pisado a passerelle. Não contente, ao estreitar o corredor, a britânica Molly Goddard fez com que as peças roçassem os joelhos de que assistia ao desfile na primeira fila.

Final do desfile de Richard Quinn © Victor VIRGILE/Gamma-Rapho via Getty Images

De Kane a Beckham, o bom pragmatismo britânico

Não é que Christopher Kane seja conhecido pela exuberância dos seus padrões florais, mas desta vez, o romantismo ultra moderno do criador escocês surgiu especialmente girly. Além dos prints, a coleção ficou marcado pelos fatos (saia e casaco) de toque acetinado, pelos vestidos com folhos, rendas e bordados. Também JW Anderson confirmou o vestido como a peça estrela da próxima estação quente, pelo menos no que depender das previsões britânicas. Drapeados, leves e assimétricas, estas peças aproximam-se do que seria uma deusa guerreira num qualquer futuro apocalítico. O fato e o trench coat vieram logo a seguir, prova de que Jonathan Anderson, que acumula a direção criativa da própria marca e da espanhola Loewe, continua de pés bem assentes no chão.

Antes do desfile propriamente dito, Victoria Beckham começou por proporcionar uma bela fotografia de família, com David e os miúdos — Brooklyn, Romeo, Cruz e Harper –, sentados na primeira fila, emoldurados por Anna Wintour e Edward Enninful, diretor da Vogue britânica. O mundo surpreendeu-se com o ritmo a que as crianças crescem e houve mesmo quem se escandalizasse quando Victoria levou a mais pequena, de 8 anos, a visitar os bastidores. “Provavelmente, não será o ambiente mais saudável para uma miúda pequena”, lê-se num dos muito comentários feitos nas redes sociais.

Desfile de Victoria Beckham © NIKLAS HALLE’N/AFP/Getty Images

De certa forma, todo o aparato familiar acabou por ofuscar a coleção de Victoria Beckham para o próximo verão. Compreensível, porém injusto. “Há um grande foco nos vestidos”, disse à revista Vogue. Das peças vaporosas, às quais os folhos ainda concederam mais movimento, juntaram-se as peças de alfaiataria, tudo empacotado numa vibe vinda diretamente dos anos 70. O guarda-roupa de Beckham é pragmático, atento às necessidades do quotidiano da mulher e dificilmente se perde em divagações conceptuais ou exageros teatrais. Sóbria do princípio ao fim, a serenidade dos beges e tons pastel só foi quebrada pelas cores enérgicas escolhidas para os vestidos. O verde e o roxo saltaram à vista. Na fotogaleria, veja as imagens deste e de outros desfiles da Semana da Moda de Londres. Em Milão, o calendário arranca já esta quarta-feira e estende-se até 23 de setembro, dia em que o desfile de Alexandra Moura encerra o programa.