A troca de argumentos aconteceu na sexta-feira à noite no Twitter: o jornalista e comentador político Daniel Oliveira escreveu um artigo de opinião no Expresso, onde defende que a recém-eleita deputada do Livre está a escolher uma forma de fazer política “demasiado pessoal” e centrada em si mesma que “desvia as atenções da política”. O artigo foi partilhado no Twitter e originou uma troca de comentários entre o comentador e a deputada, com Joacine Katar-Moreira a dizer que a “postura” de Daniel Oliveira, embora “mascarada de bom senso”, não é “muito diferente da de muitos associados à direita e sua extrema”. Daniel Oliveira não gostou da comparação.

Numa primeira reação, Daniel Oliveira desvalorizou sugerindo que a comparação com a extrema-direita tenha sido “fruto do imediatismo das redes”, mas Joacine Katar-Moreira sublinhou que “não foi imediatismo das redes nem amadorismo, inaptidão ou deriva de qualquer coisa”. Daí que Daniel Oliveira tenha respondido novamente: “Talvez desfocar-se um bocadinho de si mesma ajude a ganhar perspetiva, mesmo quando discorda das críticas. A política não se divide entre os que estão por si e contra si, muito menos a fronteira com a direita e a extrema-direita”, disse.

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E a deputada do Livre ripostou: “Começou por dizer que não elegeríamos porque a minha escolha era um tiro no pé. Falhou. Conseguimos eleger e agora diz que não temos direção e estamos numa deriva. Faz artigos em que basicamente me responsabiliza pelo racismo e ódio de que tenho sido alvo, e não quer que pessoalize?”.

A contra-resposta não tardaria: “Escrevi que teriam dificuldade em eleger por causa do contexto e por o Rui [Tavares] não ser candidato. Não a responsabilizei por ódio nenhum. Responsabilizo-a por coisas como as que aqui escreveu sobre mim, que tornam evidente uma absurda necessidade de polarização em torno sempre de si”, escreveu Daniel Oliveira na mesma rede social.

Na origem da troca acesa de argumentos está um artigo publicado por Daniel Oliveira, que já foi apoiante do Livre, a criticar a conversão daquele partido a uma “agenda identitária”. “Joacine tem sido atacada de forma abjeta. Por ser negra e assumir que isso é relevante. E a sua gaguez foi usada como motivo de escárnio. Mas é ela que escolhe a sua própria narrativa política. Ao decidir escrever um texto sobre a sua gaguez e ao desdobrar-se em declarações sobre si mesma, escolheu desviar as atenções da política”, escreveu. E acrescentou: “A conversão súbita do Livre à agenda identitária — onde está o partido de Rui Tavares? — apanhou-o impreparado. Os seus protagonistas correm desembestados e sem direção política por um campo de minas. Até cada exibição gratuita de experiências pessoais se transformar em bandeiras vazias de reivindicações políticas. Até o tempo que a gaguez precisa no regimento e a indumentária de um assessor se transformarem no que sobra do que devia ser uma luta emancipatória. Tudo demasiado pessoal.”