Os Painéis de São Vicente, tesouro nacional da pintura portuguesa, vão ser restaurados a partir da próxima primavera, de forma faseada para que possam ser visitáveis, afirmou terça-feira o diretor do Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), em Lisboa.

Considerada uma das obras mais emblemáticas da arte portuguesa, os painéis serão alvo de restauro através de um protocolo mecenático trienal assinado esta terça-feira entre o MNAA, a Direção-Geral do Património Cultural e a Fundação Millennium BCP, envolvendo um apoio financeiro de 225 mil euros.

Aos jornalistas, o diretor do MNAA, Joaquim Caetano, explicou que o restauro dos Painéis de São Vicente tem uma estimativa de custos “que não chega a meio milhão” de euros e que o museu nacional procura outras parcerias para custear o projeto.

O restauro do “maior retrato coletivo da pintura ocidental” contará com pelo menos quatro conservadores do museu e uma equipa de consultoria internacional, com a inclusão de responsáveis da Universidade de Ghent (Bélgica) e do Metropolitan Museum of Art (EUA).

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Sendo certo que o restauro “será sempre feito no museu”, Joaquim Caetano explicou que estão ainda por definir os procedimentos, ou seja, se os trabalhos de restauro serão feitos ‘in loco’ onde os painéis estão expostos, o que permitiria aos visitantes acompanhar a evolução, ou se serão retirados em blocos para outro espaço.

Sobre a duração do restauro, e embora o apoio mecenático da Fundação Millennium BCP diga respeito a três anos, o diretor do MNAA não se compromete com uma data final e avisa: “Não deixaremos que seja feita qualquer intervenção apressada para cumprir calendários comerciais ou políticos”.

“Dentro de três anos, o essencial estará feito. É uma obra de tal importância e que levanta tantos problemas, técnicos, históricos, deontológicos, que sabemos quando começa, mas será o próprio restauro a marcar esse ritmo. Não vamos fazer restauros à pressa para cumprir o protocolo”, disse.

Joaquim Caetano disse ainda, em forma de alerta, que o restauro “não vai responder, de certeza” às especulações, dúvidas e teorias em torno da mais emblemática obra da pintura portuguesa. “Isso é outro tipo de investigação e para o qual temos de aprender a lidar com o que se consegue saber e o que não se consegue saber” sobre as figuras retratadas na pintura.

Os painéis foram descobertos em finais do século XIX, no Paço Patriarcal de São Vicente de Fora, em Lisboa, e, na altura, por não terem assinatura e datação visíveis e inequívocas, suscitaram um enorme mistério e fascínio por parte de várias gerações de estudiosos e académicos. A autoria dos painéis foi descoberta por José de Figueiredo e atribuída a Nuno Gonçalves através da interpretação de um monograma revelado durante o primeiro restauro da pintura, na década de 1930.

O protocolo assinado esta terça-feira prevê ainda uma intervenção de restauro na Coleção Della Robbia, de escultura de cerâmica vidrada policromada, do acervo do MNAA.

Na cerimónia, a ministra da Cultura, Graça Fonseca, sublinhou que protocolos mecenáticos como o que foi assinado terça-feira, entre entidades públicas e privadas, são “da maior importância para o património português”.

“Para crescer ainda mais, a Cultura precisa do compromisso do setor privado. A economia, para ser mais próxima, mais humana, deve apoiar projetos culturais”, disse.

No final, aos jornalistas, e a propósito da atual situação do MNAA, já por diversas vezes revelada – da necessidade de recursos humanos, de renovação de espaços e expansão do próprio museu —, Graça Fonseca escusou-se a adiantar dados sobre a verba para a Cultura, inscrita na proposta de Orçamento do Estado para 2020.

“Quando o orçamento chegar à Assembleia da República, quando houver discussão e o aprovarmos, aí falaremos sobre as questões que está a colocar, de reforço de meio e a possibilidade de alargar os quadros dos equipamentos culturais”, disse.