Foram muitas as dúvidas em torno da realização ou não do jogo que opõe o Vitória de Setúbal ao Sporting, a contar para o campeonato português de futebol: os setubalenses garantiam haver um problema de saúde pública no grupo de trabalho que os impedia até de treinar, mas o jogo vai realizar-se na mesma por falta de acordo entre as partes. O caso é novo mas a história tem uma prequela: aconteceu em 2009, no concelho de Mafra e envolveu futebolistas de máscaras e tudo.

Recuemos alguns anos — nomeadamente dez e um mês, para novembro de 2009. Na altura, o Clube Desportivo de Mafra, orientado pelo treinador Filipe Moreira (hoje técnico do Vilafranquense, da II Liga), militava no terceiro escalão do futebol português e tinha um desafio para a Taça de Portugal, contra o União da Madeira.

Apesar da competição ser conhecida pela sua vertente festiva — a “festa da Taça” —, o Mafra não tinha grandes razões para sorrir: um caso de gripe A fora detetado no grupo de jogadores e o receio era grande nos dias anteriores à partida. “Foi uma semana muito atípica”, recordou Filipe Moreira à rádio Observador. “A gripe A atacou forte em alguns jogadores. No caso de outros era uma gripe perfeitamente normal”.

Sentimos que não havia condições para fazermos o jogo porque o alarme estava a tocar. Entrámos em contacto com a Federação e tentámos adiar o jogo. Mais do que um jogo de futebol, estava em causa a saúde de vários jogadores e o medo do vírus”, lembra o técnico.

O CD Mafra bem tentou, mas “a Federação alegou que não havia tantos problemas naquele momento”, diz Filipe Moreira. “E o União da Madeira já tinha as viagens todas programadas. O que é certo é que sentimos que não estavam reunidas as condições”. O grupo de trabalho estava convencido que não estavam cumpridas “condições de igualdade” e decidiu fazer um protesto criativo.

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No dia 22 de novembro de 2009, o C. D. Mafra entrou em campo com máscaras. “Foi uma decisão coletiva. No grupo de trabalho, entendemos que era uma forma de mostrar a nossa indignação. Se tínhamos medo do vírus, da tal propagação, tínhamos medo de respirar, porque na altura as pessoas até tinham medo de estar ao pé uma das outras. Era um vírus”.

Quando se vai ao hospital leva-se máscaras. Entendemos ir para o jogo e levámos máscaras para passar a imagem que não queríamos prejudicar os outros. Não queríamos passar o vírus a ninguém. Foi uma demonstração simbólica mas para dizer que nós, todo o grupo de trabalho, não nos sentíamos bem”, refere o técnico.

As preocupações também eram com o adversário, sublinha o atual treinador do Vilafranquense, Filipe Moreira: “Estávamos com receio daquilo que podia acontecer entre nós, quanto mais com o adversário, na competição, com o suor… foi uma chamada de atenção”.

Traçando paralelismos com o cenário atual, o técnico diz que “pela experiência” que acumulou com uma vida de futebol, “por vezes não são considerados determinados tipos de casos… tem de existir lei do bom senso”. As partes envolvidas, sugere, deviam “tentar arranjar soluções de acordo com aquilo que se entende que tem de ser a verdade desportiva. E a verdade, neste caso, da saúde das pessoas”.