Lisboa recebe este sábado oficialmente o ‘testemunho’ de Oslo para ser a Capital Verde Europeia 2020, desenvolvendo ao longo do ano uma programação que inclui a plantação de 20 mil árvores, exposições e conferências. A cerimónia de abertura incluirá a passagem de testemunho de Oslo (Noruega) para Lisboa e um ‘flash mob’.

O momento vai contar com as presenças do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, do secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, do primeiro-ministro, António Costa, e do presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina.

Das várias iniciativas que fazem parte da programação de Lisboa Capital Verde Europeia 2020, a câmara destaca a exposição “O mar como nunca o sentiu”, da autoria da artista portuguesa Maya, que pode ser visitada no Oceanário de Lisboa, no Parque das Nações, com um custo de 19 euros. A exposição apresenta “imagens filmadas exclusivamente em Portugal e transmite uma mensagem profunda sobre a ligação ancestral do Homem com o Mar”, referiu a câmara, em comunicado.

No domingo serão plantadas um total de 20.000 árvores: 4.000 em Rio Seco (Ajuda), 6.000 no parque do Vale da Ameixoeira (Santa Clara), 9.000 no parque do Vale da Montanha (Areeiro/Marvila) e 1.000 no corredor verde de Monsanto.

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O objetivo da autarquia é ter mais 100 mil árvores na cidade até 2021, em relação às 800 mil existentes atualmente.

Segundo o vereador da Câmara Municipal de Lisboa responsável pelos pelouros do Ambiente, Estrutura Verde, Clima e Energia, José Sá Fernandes, a atribuição da distinção é “um reconhecimento do trabalho que tem sido feito”, mas também pelos compromissos que a autarquia de Lisboa tem para o futuro.

O galardão tem distinguido cidades europeias que “são referência sempre que se fala de sustentabilidade e ambiente”, como Copenhaga, Estocolmo e Oslo. As áreas verdes, a água e as energias renováveis foram eleitas pelo autarca como os três elementos em que “o caminho é ambicioso”, mas credível.

Ao assumir-se como capital verde, Lisboa assume também compromissos como ser uma cidade europeia de referência ao nível da mobilidade em 2030 e atingir a neutralidade carbónica até 2050, segundo o vereador Sá Fernandes. A autarquia anunciou que pretende atingir até então metas como a redução das viagens em automóvel de 57% para 33%, a diminuição de 60% das emissões de dióxido de carbono e a obtenção de uma potência fotovoltaica instalada de 100 megawatts.

A capital portuguesa, que viu a produção de lixo aumentar significativamente com o crescimento turístico, está também, entre outras medidas, a criar um sistema para rega e lavagem das ruas com água reutilizada e a planear que, até ao final do próximo ano, mais de 90% dos moradores tenham a menos de 300 metros de casa um espaço verde com pelo menos dois mil metros quadrados.

O município associa também a inauguração de algumas obras, como o parque verde da Praça de Espanha, à Capital Verde Europeia 2020. No mês de abril, está prevista a inauguração do Museu da Reciclagem (ReMuseu), em Alcântara, assim como a realização da conferência “Urban Future Global Conference” entre os dias 01 e 03.

Ao longo do ano, estão previstas um conjunto de conferências, iniciativas com escolas e universidades, espetáculos, exposições e festivais sobre o tema da sustentabilidade ambiental. O programa está disponível no portal lisboagreencapital2020.com.

Associação Zero é mais ambiciosa com as medidas

O trânsito na cidade de Lisboa precisa de “uma solução mais ambiciosa”, defende a associação ambientalista Zero, que espera que exista vontade política para “aumentar a exigência” e restringir a circulação no centro da cidade.

“Quando nós olhamos para a cidade de Lisboa temos que perceber que aqui se concentram muitos empregos e, portanto, apesar da oferta de transporte público, há demasiados carros a vir para a cidade e isso tem um reflexo direto na qualidade do ar de algumas zonas críticas”, disse à agência Lusa o presidente da Zero – Associação Sistema Sustentável Terrestre.

A propósito da atribuição do título Lisboa Capital Verde Europeia 2020, que terá uma cerimónia oficial marcada para este sábado à tarde, Francisco Ferreira esteve com a Lusa em três locais da cidade – Campo Grande, Restauradores e zona ribeirinha – onde falou sobre alguns dos maiores problemas ambientais da capital, nomeadamente o aeroporto, o trânsito e o elevado número de navios cruzeiros que passam pelo Tejo.

Na Praça dos Restauradores, na Baixa da cidade, “aquela que é considerada a pior zona em termos de qualidade do ar”, embora existam outras também com problemas, desde o Parque das Nações, Cais do Sodré e zonas próximas da 2.ª Circular, o presidente da Zero falou da poluição e dos problemas do trânsito.

“Esta é a zona verdadeiramente nobre da cidade e é uma zona que, em nosso entender, deveria obviamente não ter trânsito ou ele ser extremamente limitado”, defendeu.

Na Avenida da Liberdade, onde existe uma estação de monitorização, os valores limites de dióxido de azoto são ultrapassados, em grande parte devido à circulação de veículos a gasóleo, que emitem muito mais poluentes do que os veículos a gasolina.

Portanto, disse o presidente da Zero, “seria desejável que Lisboa também tomasse medidas proibindo este tipo de veículos ou, indo mais longe, e retirando mesmo todos os veículos a combustão e apostando numa mobilidade suave nesta área”.

“Lisboa tem realmente grandes problemas relacionados com o trânsito. O primeiro é o espaço que o total dos automóveis ocupa, o segundo é a qualidade do ar. Nesta zona [Baixa lisboeta], os cálculos apontam para que as pessoas vivam menos seis meses, ou seja, perdem seis meses de sua esperança de vida por causa dos níveis associados, quer aos dióxidos de azoto, quer também às partículas que são bastante elevadas”, argumentou.

Reconhecendo que a expansão do metropolitano é relevante, Francisco Ferreira considerou que isso não é impeditivo que se faça “uma verdadeira revolução a impedir que muitos dos veículos no dia a dia venham de outros concelhos”.

“Precisamos de uma solução ambiciosa para Lisboa nesta matéria”, apelou.

Questionado se há vontade política para restringir a circulação de veículos no centro da cidade, o presidente da associação ambientalista disse esperar que sim: “Nós esperamos que haja essa vontade política que haja realmente um aumento de exigência e que surjam planos para esta zona ser vivida por quem aqui quer passear e não por quem vai atravessar aqui [nos Restauradores] e na zona da Baixa.

Francisco Ferreira destacou ainda que outro “aspeto crucial” para o centro da cidade é o facto estar cada vez mais despovoada, já que isso também faz parte do ambiente e da sustentabilidade.

“Ou seja, os preços são como todos sabemos extremamente elevados e temos uma cidade que à noite está completamente vazia a não ser para a diversão, que também tem problemas, nomeadamente em termos de ruído, e não é uma cidade de vivida. Lisboa não é diferente de outras capitais que cada vez estão mais atraentes do ponto de vista turístico, mas tem que saber conter esta fome de transformar tudo em alojamento local e em hotéis”, preconizou.