Os famous five na corrida ao Caldas, na verdade são só dois (ou três) e foi isso que mostrou o debate público entre os cinco candidatos à liderança do CDS esta segunda-feira na RTP. João Almeida não conseguiu descolar-se do rótulo da continuidade e tentou puxar para o mesmo barco Francisco Rodrigues dos Santos. Já o líder da Juventude Popular focou-se em atacar João Almeida, mas sofreu ataques de Filipe Lobo d’Ávila, que pôs de parte uma coligação anti-Almeida, mesmo que para isso tenha sido desafiado por Carlos Meira num pacto forjado ao almoço no restaurante Camelo, em Viana do Castelo.

O outsider Meira foi o aliado útil de “Chicão”: calçou as galochas e não se importou de atirar o partido para a lama, comparando-o a uma “vaca leiteira” com “mamite“, com o objetivo último de atingir Almeida. O debate trouxe uma novidade face ao que a campanha tem sido: Lobo d’Ávila conseguiu afirmar-se como uma terceira via em vez de desaparecer no meio de uma bipolarização João Almeida-Rodrigues dos Santos. Já Abel Matos Santos mostrou-se preocupado com a refiliação de Manuel Monteiro e também prometeu não dar a mão a Francisco Rodrigues dos Santos.

O debate azedou entre aqueles que são tidos como os dois principais candidatos. Quando Meira insistia que João Almeida era o membro daquela mesa com mais responsabilidade na queda de Cristas, o atual porta-voz lembrou que não era o único que fazia parte da direção de Cristas: “Somos três aqui“. O líder da JP, que já se tinha apressado a dizer que só tinha feito parte da direção de Cristas, por “inerência”, atacou: “Dizer isso é um ato abstruso, que revela desonestidade intelectual. Estares a comparar-me com um porta-voz. Sabes que prezamos muito a autonomia da JP, sempre fomos zelosos nessa autonomia”.

Enquanto isso, João Almeida aproveitava para lembrar como era mais experiente. E se já antes tinha dito que todos os “candidatos” foram responsáveis pelo resultado nas legislativas (para visar ‘Chicão’, que foi o número dois que falhou a eleição no Porto), desta vez falaria mesmo por cima do adversário: “Candidatei-me, candidatei-me, contra o líder e tive 46%“. Tinha um objetivo: lembrar que Rodrigues dos Santos também o poderia ter feito contra Cristas há dois anos já que não concordava com a líder.

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Carlos Meira, que nunca parou de atacar o único deputado do CDS que é candidato, deleitava-se: “Já vejo o João Almeida nervoso“. O mesmo Carlos Meira mostrou uma notícia impressa sobre as acusações de ‘bullying’ feitas pelos funcionários do CDS à atual direção, lembrando que João Almeida era o porta-voz. Tentou colá-lo a esse caso, bem como à venda de um imóvel do partido no Porto a uma governante angolana. Para atacar João Almeida, atacou também os dirigentes do CDS nos últimos anos e disse que o CDS foi transformado “numa vaca leiteira, de produção de leite, de dar de mamar a muita gente, com avenças“.

Uma vaca leiteira que, segundo explicou, sofre de “mamite“, doença que provoca falta de leite. E nada tem a ver com o célebre penúltimo apelido do célebre falso-militante Jacinto Capelo. Por consequência da “mamite”, avisou Meira, “muitos fugiram, outros foram para empresas privadas [numa alusão a Adolfo Mesquita Nunes e Paulo Portas] e outros ficaram.”

Francisco Rodrigues dos Santos não quis enfiar a ‘carapuça’ de ter sido candidato às legislativas e ter feito parte da direção de Cristas e disse que em “reuniões privadas” manifestou essa discordância da estratégia e que também o fez publicamente. Quanto a ideias, quer um diretor financeiro no CDS,  reforçar a ACT para acabar com os falsos recibos verdes, quer que a justiça também seja forte com os mais fortes (e não apenas com o “pequeno meliante”) e a descida do IRC. Pelo meio utilizou várias frases que trazia na algibeira e que tem repetido constantemente em campanha, como pedir “votos para as ideias e não ideias para os votos”.

João Almeida apostou em lembrar que é o mais experiente e “o melhor preparado para liderar o partido já na segunda-feira”. Além disso, relativizou outra vez o Chega e o Iniciativa Liberal, que considera “pequeninos”, já que “só representam um quinto do CDS no Parlamento, seu pior resultado”. E tem uma meta à Paulo Portas na cabeça: “O CDS tem de ter pelo menos dois dígitos”.

No meio da guerra João Almeida-Francisco Rodrigues dos Santos, apareceu Lobo d’Ávila, que atacou os dois. Quando ‘Chicão’ falava num CDS capaz de formar maiorias, o antigo secretário de Estado lembrou que já houve e que o partido acaba de sair do tempo da “ambição máxima”. Lobo d’Ávila não perdoou: “Tu fizeste parte dessa ambição máxima. Foste candidato dessa ambição máxima”.

Lobo d’Ávila quer o CDS a regressar à sua identidade que “não vai atrás do que é sexy do momento“. Sexy, como Cristas quis fazer, e como Pires de Lima propôs um dia. O candidato quer que o partido regresse “à matriz democrata-cristã”, pois é nesse ponto que “faz a diferença relativamente aos partidos novos”.

Abel Matos Santos garantiu, tal como Lobo d’Ávila, que não vai desistir da candidatura. Rejeita que o CDS seja “uma versão pequenina do PSD” e não quis falar do país antes de arrumar a casa. “Temos um problema interno para resolver”, lembrou.  E aí colocou Manuel Monteiro como uma das prioridades a resolver: “O CDS tem de mostrar que é um partido de pluralidade, democrático, onde não existem vetos de gaveta de ex-presidentes que queiram voltar.”

Abel Matos Santos e Carlos Meira esforçaram-se por lembrar que o CDS tem sido uma vaca leiteira, dos interesses de alguns. Francisco Rodrigues dos Santos e João Almeida tentaram explicar que o CDS não é uma vaca qualquer (capaz de maiorias e de voltar à representação que teve no passado). E Filipe vestiu a pele de Lobo (d’Ávila) e não foi meigo com a continuidade, onde fez questão de colar ‘Chicão’.