O economista-chefe da consultora Eaglestone Securities considerou que o reforço da participação da Sonangol no Banco de Poupança e Crédito e no Banco Económico é “claramente positivo” pelo reforço financeiro que traz. Em entrevista à agência Lusa, Tiago Dionísio reconheceu que “o negócio principal da petrolífera não é propriamente o setor financeiro”, mas acrescentou que este reforço acionista traz vantagens.

“A Sonangol é uma empresa com grande dimensão e portanto dá conforto ter um acionista forte, robusto, com capacidade de investimento nos bancos”, apontou, salientando que “se fosse um acionista fraco, seria mais complicado recapitalizar esse banco em caso de necessidade, por isso ter um acionista forte como a Sonangol é claramente positivo”, disse, quando questionado sobre as vantagens e desvantagens do reforço da participação acionista da Sonangol na banca.

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O Banco de Poupança e Crédito e o Banco Económico foram os dois bancos que o Banco Nacional de Angola identificou como necessitando de uma recapitalização, num comunicado divulgado no final do ano passado, e no qual se estabelece junho como o prazo limite para este aumento de capital. O programa de privatizações anunciado pelo Governo vai no sentido de reduzir o peso do Estado em vários setores, acrescentou Tiago Dionísio, considerando que “o setor financeiro é estratégico para qualquer Estado e, por isso, haverá sempre um ou dois bancos públicos”, mas ainda assim pode haver uma evolução.

Quem sabe se daqui a uns anos a Sonangol não vende a sua participação nesses bancos, mas para já tem de ser um passo de cada vez; olhando para os investidores locais e para o programa de privatizações, acho que não têm propriamente uma capacidade muito elevada para investir nos grandes setores, por isso Angola vai ter de atrair investidores estrangeiros, e vai demorar algum tempo”, concluiu o analista.

O setor bancário em Angola apresentou um melhoramento muito significativo nos lucros em 2018, com os resultados a mais que triplicarem para 1,621 mil milhões de dólares, mas largamente influenciados pela forte depreciação do kwanza nesse ano, segundo a mais recente análise feita pela Eaglestone aos bancos angolanos.

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Os indicadores que refletem a qualidade dos ativos melhoraram ligeiramente nesse ano, o que é explicado pela transferência de parte dos ativos problemáticos do BPC para a Recrédit, um veículo financeiro criado para gerir o crédito malparado no setor financeiro, que no caso de Angola chegou quase a 30%.

Deste crédito que os bancos têm dificuldade em cobrar, “mais de 90% está concentrado em cinco grandes bancos, o que representa, por isso, riscos sistémicos claros”, lê-se no relatório que analisa a banca em Angola em 2018, e que aponta o BPC como o destino de dois terços deste crédito malparado. Para a Eaglestone, “o pico de crédito malparado já deve ter sido ultrapassado, mas a questão está longe de ser resolvida, porque os bancos mais fracos, e por vezes subcapitalizados, vão ver a sua atividade cada vez mais difícil no atual contexto”.

No relatório, antevê-se que o Banco Nacional de Angola continue a ter um “papel ativo na defesa da estabilidade do setor” e que continue a trabalhar no plano de reestruturação do BPC.

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O Consórcio Internacional de Jornalismo de Investigação (ICIJ) revelou no dia 19 de janeiro mais de 715 mil ficheiros, sob o nome de ‘Luanda Leaks’, que detalham esquemas financeiros de Isabel dos Santos e do marido, Sindika Dokolo, que terão permitido retirar dinheiro do erário público angolano, utilizando paraísos fiscais. A investigação revela ainda que, em menos de 24 horas, a conta da Sonangol no EuroBic Lisboa, banco de que Isabel dos Santos é a principal acionista, foi esvaziada e ficou com saldo negativo no dia seguinte à demissão da empresária da petrolífera angolana.

O EuroBic já anunciou que a empresária vai abandonar a estrutura acionista, o mesmo acontecendo na Efacec e já depois de os três membros não executivos do conselho de administração da NOS ligados a Isabel dos Santos terem anunciado a sua saída da operadora de telecomunicações.

A empresária angolana já refutou o que descreveu como “alegações infundadas e falsas afirmações” e anunciou que vai avançar com ações em tribunal contra o consórcio de jornalistas que divulgou a investigação ‘Luanda Leaks’. Além disso, Isabel dos Santos reafirmou que os investimentos que fez em Portugal tiveram uma origem lícita.