As autoridades norte-americanas afirmam que a Huawei consegue aceder a redes móveis em todo o mundo através de “backdoors” [portas de entrada escondidas], que foram desenhadas para serem utilizadas pelas forças policiais, avançou o The Wall Street Journal nesta quarta-feira. As autoridades não acreditam, contudo, que as empresas de telecomunicações que compram equipamentos à Huawei tenham conhecimento do nível de acesso que a empresa tem às suas redes.

“Temos provas de que a Huawei é capaz de aceder secretamente a informações confidenciais e pessoais nos sistemas que mantém e vende no mundo todo”, disse à publicação norte-americana Robert O’Brien, consultor para a segurança nacional.

A empresa chinesa nega as acusações. “A Huawei nunca teve nem nunca terá acesso a redes de telecomunicações, nem temos capacidade para fazê-lo. O Wall Street Journal está completamente ciente de que o governo dos EUA não tem nenhuma prova que sustente as suas alegações e, ainda assim, escolheu repetir as mentiras que estão a ser divulgadas pelas autoridades americanas”, lê-se no comunicado enviado às redações.

A empresa chinesa diz ainda que “é apenas um fornecedor de equipamentos” e que, “neste papel, seria impossível aceder a redes de clientes sem a sua autorização e visibilidade. Não temos capacidade para ignorar operadoras, controlar acessos e obter dados de redes sem sermos detetados por todo os firewalls ou sistemas de segurança normais. Na verdade, até o The Wall Street Journal admite que as autoridades norte-ameircanas são incapazes de adiantar pormenores concretos sobre as tais “backdoors” que que falam”.

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Ao The Verge, o responsável pela segurança da Huawei, Andy Purdy, também negouas acusações: “Negamos veemente a alegação de que temos esta capacidade [de aceder a redes móveis]. E também negamos ter acedido indevidamente a informações ou dados sobre clientes”.

Desde maio de 2019 que a Huawei está numa lista negra norte-americana, por representar uma ameaça à segurança nacional, proibindo-a de negociar com empresas dos EUA. Em agosto, foi implementado um embargo que permitia às empresas norte-americanas continuarem a negociar temporariamente com a marca chinesa. Esse embargo foi entretanto renovado até 16 de fevereiro, altura em que se deverá saber qual é a decisão final em relação à empresa.

Agora, as autoridades norte-americanas dizem que a Huawei mantém “backdoors” em algumas das redes em que é fornecedora, como os equipamentos de 4G vendidos em 2009. Apesar de não haver provas solidificadas sobre isto — ou se estas portas alguma vez foram usadas –, as queixas estão a ser cada vez mais detalhadas e a terem como porta-voz alguns dos nomes de topo da segurança nacional norte-americana.

Os EUA têm deixado vários alertas aos países aliados, como Portugal, que estejam a pensar utilizar equipamentos da Huawei na implementação da rede 5G. Segundo os EUA, a partilha de informação secreta mudará automaticamente assim que a Huawei tenha permissão para ser fornecedora de equipamentos.

Donald Trump tentou dissuadir o primeiro-ministro britânico Boris Johnson, para que este impedisse a empresa chinesa de participar nas redes 5G do Reino Unido. Mas o governo de Boris Johnson acabou por fechar negócio com a empresa chinesa, apesar de lhe impôr algumas limitações — a Huawei não vai poder ter mais de 35% de quota de mercado, nem equipamentos em redes sensíveis, como bases militares ou centrais nucleares.

Ao The Verge, Andy Purdy disse não estar surpreendido com as acusações: “Os EUA estão comprometidos com isto e acho que estão a ser motivados pela situação geopolítca entre a China e os EUA. Não estão dispostos a considerar os factos e as evidências e farão o possível para bloquear a possibilidade de fornecermos produtos para redes de comunicação em todo o mundo”.

No comunicado enviado às redações, a Huawei diz que a “cibersegurança e a privacidade dos utilizadores é a sua principal prioridade. “Se os EUA descobrirem que a Huawei violou [as normas], pedimos novamente solicitamos que divulguem as provas específicas em vez de usar os jornalistas para espalhar boatos”.

*Artigo atualizado dia 13 com a reação da Huawei.