Francisco Rodrigues dos Santos até chegou ligeiramente atrasado, mas no discurso já trazia o plano para direita para os próximos anos. Na abertura da segunda convenção do Movimento Europa e Liberdade — o grande encontro das direitas — o novo líder do CDS diz que é preciso aum líder para voltar a convencer o país: “Mais do que federar, fundir ou coligar-se, o centro direita tem de se reconhecer num líder agregador“. Sem se auto-designar esse líder, o presidente centrista diz que o CDS vai personificar a “Primavera que a direita tem de atravessar para se reinventar e renascer”.

E como é isso se faz? Francisco Rodrigues dos Santos avisa que só com uma maioria no Parlamento: “É hoje claro que para a direita voltar ao Governo, não basta ganhar eleições, é ainda necessário eleger a maioria dos deputados”. O objetivo última na primavera de Chicão é assim a direita voltar ao poder e deve ser, defende, “em torno desse objetivo que a questão estratégica da aliança dos partidos de direita tem de ser colocada“.

Francisco Rodrigues dos Santos fez ainda um guião de como a direita deve agir nos três grandes atos eleitorais. Quanto às autárquicas, o líder do CDS propõe “listas comuns, sempre que isso sirva o melhor interesse das populações e sempre que isso permita vencer a esquerda“. Aqui, depois de uma primeira reunião com Rui Rio, o grande objetivo é PSD e CDS unirem-se onde não são concorrentes e onde possam, juntos, defrontar o PS.

No que diz respeito a presidenciais, Francisco Rodrigues dos Santos destaca que a aliança dos partidos da direita deve procurar “unir em lugar de fragmentar“. Isto sugere que o CDS não apontará para um candidato próprio, mas tende a apoiar Marcelo Rebelo de Sousa.

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Depois destes dois atos, vem então o objetivo último desta primavera que se prevê longa: as legislativas. Para essas eleições o líder do CDS quer construir “uma proposta de compromissos que ofereça aos portugueses uma solução de governo”. A equação é simples: no fim do dia, tem de haver mais deputados não-socialistas do que socialistas, pois governos minoritários de direita é algo que a esquerda dificilmente voltará a permitir.

O encontro das direitas já aceita Ventura, continua a levar negas de Rio e convenceu Portas

Sem dizer se conta com André Ventura neste plano que tem para a direita, Rodrigues dos Santos parece dar uma alfinetada no líder do Chega quando diz que “o populismo, onde quer que ele se aloje, resulta sempre da fraca solidez do regime, e só pode ser combatido pelos partidos que, em lugar de falar ao povo, alimentando-se e amplificando o seu descontentamento, se põem do seu lado e oferecem soluções equilibradas“.

Esta grande união de direita, avisa o líder do CDS, só se fará se o partido que lidera estiver forte. Francisco Rodrigues dos Santos disse ainda que “o CDS não desistirá do combate à eutanásia”, defendeu um melhor sistema de justiça e prometeu combater o “clientelismo” e a “corrupção”.

Centeno tem de ter período de nojo, não pode ser governador

Do ponto de vista da reforma do sistema político, Francisco Rodrigues dos Santos defendeu a “limitação de mandatos para todos os cargos políticos eletivos”. E depois atirou a Mário Centeno, dizendo que o CDS quer “impedir que os governantes possam desempenhar, sem um período de nojo alargado, cargos onde beneficiem das suas próprias decisões ou onde a sua imparcialidade esteja comprometida”.

Francisco Rodrigues dos Santos diz que Mário Centeno só pode ser governador do Banco de Portugal na próxima legislatura e diz que “a salubridade da vida publica exige que a direita se indigne e não permita que o ministro das Finanças passe de governante a governador”. E avisa: “Quem quer deixar de ser jogador para passar a ser árbitro, tem pelo menos de esperar elo próximo campeonato, que é como quem diz, pela próxima legislatura“.