A terceira seca consecutiva no sul de Moçambique deverá manter aquela região do país como a mais exposta a uma crise alimentar, refere o último relatório da Rede de Sistemas de Alerta Antecipado de Fome (rede Fews, sigla inglesa).

O relatório que faz a previsão até setembro mantém as tendências já descritas nos meses anteriores e, além do sul, inclui Cabo Delgado (norte) no mapa laranja (cor do nível 3, “crise”, numa escala de um a cinco, sendo este último o mais grave) que aponta para a falta de alimentos.

Na província de Cabo Delgado, a causa da fome que vai crescendo no dia-a-dia dos habitantes é provocada pelo abandono dos campos, com o alastrar do conflito armado com grupos insurgentes que em dois anos já terá provocado perto de 400 mortos e cerca de 160 mil deslocados. No sul, a seca persiste, refletindo uma ameaça que paira sobre a África Austral.

Março tem sido caracterizado por precipitações significativamente abaixo da média em todo o país, particularmente na região centro e sul”, lê-se no relatório da rede Fews.

Na região central, “as culturas não têm sido tão afetadas devido às boas condições de humidade do solo desde o início da estação”, enquanto na região sul, “a maioria das colheitas falhou devido a uma terceira estação de seca consecutiva”.

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Com base em estimativas de satélite do Índice de Satisfação das Necessidades de Água (WRSI, sigla inglesa), “prevê-se que a produção agrícola esteja acima da média de cinco anos na região norte, próxima da média de cinco anos na região central e abaixo da média de cinco anos na região sul”.  Quanto aos preços dos produtos agrícolas essenciais, atingiram o seu pico sazonal em fevereiro e espera-se que comecem a diminuir com o início da colheita em abril.

Os preços acima da média dos grãos de milho persistem devido à oferta de mercado abaixo da média da época passada”, acrescenta, indicando que os preços “foram 26% a 85% mais altos do que em 2019 e 20% a 100% [o dobro] acima da média de cinco anos”.

Estes preços “anormalmente elevados” estão a restringir o poder de compra dos agregados familiares mais vulneráveis, particularmente os afetados pelos ciclones de 2019 e que ainda dependem fortemente das compras de alimentos no mercado, conclui.

A rede FEWS Net foi criada pela Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid) em 1985 para apoio à tomada de decisões na gestão de apoio humanitário.