Depois de esta terça-feira dizer que se chama Messias mas “não faz milagres”, em resposta ao elevado número de mortos provocados pelo novo coronavírus no Brasil, Jair Bolsonaro responsabilizou agora os governadores do país pelas vítimas mortais.

“Essa fatura deve ser enviada aos governadores. Pergunte ao senhor João Doria [governador de São Paulo], ao senhor [Bruno] Covas [prefeito de São Paulo], porque eles adotaram medidas restritivas e as pessoas continuam a morrer”, disse esta quarta-feira o presidente brasileiro à entrada da residência oficial, em Brasília, segundo a Folha de S. Paulo. “A minha opinião não vale, o que vale são os decretos de governadores e prefeitos. Não adianta a imprensa colocar na minha conta essas questões, não adianta botar a culpa em mim”, acrescentou Bolsonaro. Questionado sobre qual é então a responsabilidade do presidente brasileiro na pandemia, o chefe de Estado atirou: “A pergunta é tão idiota que nem lhe vou responder”.

Mortes no Brasil: “Lamento, mas quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagres”, responde Bolsonaro

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As declarações de Jair Bolsonaro surgem no dia em que o Brasil registou um aumento recorde de novos casos: nas últimas 24 horas, foram registadas mais 6.276 pessoas infetadas, num número total que já ascende aos 78 mil. O país é já o 11.º na lista das nações com mais casos positivos, aproximando-se da China, e soma agora 5.466 vítimas mortais, 449 registadas na última atualização. Na conferência de imprensa de apresentação dos novos dados, o recém-empossado ministro da Saúde disse não saber quando é que o Brasil vai atingir o pico da pandemia e indicou que uma “segunda vaga” é uma possibilidade real. Nelson Teich acrescentou ainda que a escassez de ventiladores é um “ponto crítico” no país e afirmou que o Brasil nunca teve “tantos problemas grandes ao mesmo tempo”.

De recordar que o presidente brasileiro criticou as medidas de isolamento social aplicadas por alguns Estados do país e chegou a indicar que a Covid-19 não passava de “uma gripezinha” e que os brasileiros precisavam de trabalhar para evitar um colapso económico. Esta terça-feira, em declarações que acabaram por correr mundo, Jair Bolsonaro garantiu que “nunca ninguém negou que haveria mortes”. “E daí? Lamento, mas quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagres”, disse o presidente, num trocadilho com o próprio nome completo, Jair Messias Bolsonaro. “As mortes de hoje, a princípio, foram de pessoas infetadas há duas semanas. É o que eu digo para vocês: o vírus vai atingir 70% da população. Infelizmente, é verdade”, concluiu.

Juiz do Supremo Tribunal Federal brasileiro aceita abrir inquérito contra Bolsonaro a pedido da PGR

Jair Bolsonaro está ainda a braços com outras polémicas internas. O presidente brasileiro foi acusado por Sérgio Moro, ex-ministro da Justiça que se demitiu na semana passada, de ter interferido pessoalmente na substituição do diretor-geral da Polícia Federal (acusação que já culminou na abertura de um inquérito pela PGR) e ainda viu um dos filhos, Carlos, ser tido como o líder de um esquema de fake news. O presidente nomeou André Luiz Mendonça para tomar a pasta de Moro — que entretanto já se desdobrou em elogios a Bolsonaro — e tentou escolher Alexandre Ramagem, um amigo pessoal, para liderar a Polícia Federal. O nome de Ramagem foi vetado pelo Supremo Tribunal Federal mas Bolsonaro já garantiu que será ele o próximo diretor-geral da autoridade.

O presidente brasileiro desautorizou a Advocacia-Geral da União, o organismo responsável pela fiscalização da justiça do país, e garantiu que é dever do órgão “recorrer” do veto do Supremo. “Quem manda sou eu e eu quero o Ramagem lá. Eu quero o Ramagem lá. Vamos fazer tudo para o Ramagem. Se não for, vai chegar a hora dele e eu vou botar outra pessoa”, disse Bolsonaro, acrescentando ainda que o “sonho” de nomear Alexandre Ramagem para o cargo “brevemente se concretizará”.