Para o candidato democrata à presidência dos Estados Unidos da América, quem equaciona votar em Donald Trump não pode ser qualificado como negro. Ou pelo menos foi isso que o político e antigo vicepresidente de Barack Obama sugeriu esta sexta-feira, durante uma entrevista ao programa de rádio novaiorquino The Breakfast Club — um comentário polémico que já o levou a pedir desculpas publicamente.
Durante a entrevista, que pode ser vista na íntegra aqui, o mais do que provável candidato à nomeação democrata — os seus adversários foram-se retirando da corrida paulatinamente, até Bernie Sanders abandonar também a disputa — afirmou: “Se têm dificuldades em decidir se votam em mim ou em Donald Trump, então não são negros”. O momento pode ser visto no vídeo abaixo:
It’s official. 100% of black voters support Joe Biden.*
(*Any black person who votes for Donald Trump is enacting whiteness and is therefore unblack.) pic.twitter.com/REO1GgT13e
— Titania McGrath (@TitaniaMcGrath) May 22, 2020
A declaração gerou, sem surpresa, polémica instantânea, nomeadamente nas redes sociais. Aí, quer “ativistas” quer conservadores “atiraram-se” a Joe Biden, por se julgar no direito de avaliar se alguém é ou não é negro a partir da sua orientação política, como nota o jornal norte-americano The New York Times.
Uma das primeiras reações públicas, também citada pelo diário nova-iorquino, chegou do senador da Carolina do Sul Tim Scott, o único senador negro do Partido Republicano no Senado dos EUA. Na rede social Twitter, Scott recordou que “1.3 milhões de americanos negros já votaram” no então candidato presidencial, e atual Presidente, Donald Trump em 2016 e acrescentou: “Esta manhã, Joe Biden disse-nos a todos [negros eleitores de Trump] que não somos negros. Poderia dizer que estou surpreendido, mas infelizmente estou habituado a que democratas deem a comunidade negra como adquirida e intimidem aqueles que não concordam”.
Uma das conselheiras de Joe Biden, Symone Sanders, já reagiu na rede social Twitter, declarando que as palavras foram irónicas — em tom “de brincadeira” — e que Biden estava simplesmente a querer dizer que os seus pergaminhos passados na defesa da comunidade afro-americana são incomparáveis com os de Donald Trump.
The comments made at the end of the Breakfast Club interview were in jest, but let’s be clear about what the VP was saying: he was making the distinction that he would put his record with the African American community up against Trump’s any day. Period.
— Symone D. Sanders (@SymoneDSanders) May 22, 2020
Após o comentário polémico, um jornalista da CBS NEWS escreveu, na sua conta da rede social Twitter, que Biden terá afirmado: “Eu não deveria ter sido tão descuidado. Nunca, nunca, nunca tomei a comunidade afro-americana como garantida. Ninguém deveria votar em nenhum partido com base na sua raça, religião e formação”, terá acrescentado o antigo Vice-Presidente norte-americano.
MORE: "I shouldn't have been such a wise guy," @JoeBiden said later in the call with the @usblackchambers "I shouldn't have been so cavalier. … No one should have to vote for any party based on their race, their religion, their background."
— Ed O'Keefe (@edokeefe) May 22, 2020