As discussão estava adormecida há semanas, depois da inflamada troca de comentários entre o ministro das Finanças holandês e o primeiro-ministro português António Costa. Agora, dois dias após a União Europeia ter apresentado um Fundo de Recuperação de 750 mil milhões de euros em jeito de empurrão para as economias afetadas, uma revista holandesa faz capa com a frase: “Nem mais um cêntimo para o Sul da Europa”.

Mais do que o título na capa da conservadora Elsevier Weekblad, que chegou às bancas nesta quinta-feira, o que está a incomodar muitas pessoas no Twitter, é o cartoon que veiculara mensagem de que existe uma discrepância de produtividade entre países do Norte e países do Sul da Europa.

A capa da Elsevier Weekblad

Na parte superior da imagem, estão representados os trabalhadores nórdicos. Aí mesmo pode ler-se uma crítica aos apoios de 500 mil milhões de euros propostos na semana passada por Macron e Merkel. Por baixo, uma mulher de biquíni e um homem de bigode numa esplanada surgem em representação do ócio associado aos países do Sul, onde Portugal se inclui.

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“O Fundo pretende ser uma doação incondicional aos países mais afetados economicamente pelos bloqueios do coronavírus. A proposta da chanceler alemã e do presidente francês significa uma transferência de dinheiro do Norte para o Sul da Europa”, pode ler-se no artigo que acompanha a capa da Elsevier Weekblad.

A publicação classifica a proposta como perverso. “[…] Os países do sul da Europa não são, de forma nenhuma, pobres e têm dinheiro suficiente. Eles também podem melhorar facilmente as suas economias através de reformas como as que foram implementadas no Norte”, lê-se ainda.

“Nada contra os holandeses. Tudo contra racistas” foi parte da reação do eurodeputado do Bloco de Esquerda José Gusmão nas redes sociais. Sobretudo no Twitter, a capa tem suscitado reações negativas por parte de vários utilizadores. “É falso e um pouco nojento”, lê-se numa partilha feita por um holandês. Um português escreve: “Não vou responder à vossa xenofobia na mesma moeda”.