Uma conta-corrente oficiosa entre o Sport Lisboa e Benfica e o Desportivo das Aves, acordos secretos sobre direitos de preferência, contratos duvidosos na cedência de jogadores e um dívida que deveria ter impedido o Aves de estar na I Liga. Estas são algumas das revelações de uma investigação do jornal Público, divulgada neste sábado, que aponta para uma relação entre os dois clubes que irá muito além de uma normal boa relação entre dois emblemas que competem no mesmo campeonato profissional de futebol.
Segundo o Público, o clube nortenho chegou a dever dois milhões de euros em direitos económicos de passes de jogadores. Nesta fase, a conta pende para o sentido do clube da Luz: um saldo desfavorável para os avenses de quase 800 mil euros. A SAD do Benfica desvaloriza, porém, argumentando que tem contas-corrente com todos os clubes com quem tem relações comerciais, bem como com fornecedores e clientes.
A investigação do Público partiu do contrato de cedência do atleta Luquinhas, que foi comprado pelo Benfica ao Vilafranquense e um mês depois foi cedido ao Aves, com o Benfica a manter direito sobre 50% dos direitos económicos de uma eventual futura transferência. Mas o contrato dizia que caso Luquinhas fosse vendido ao FC Porto ou ao Sporting, o Aves teria de pagar cinco milhões de euros ao Benfica, isto além dos 50% dos direitos económicos que os encarnados tinham conservado.
O Benfica tinha, aliás, direito de preferência sobre o destino de Luquinhas numa eventual transferência futura e podia, a qualquer momento até 2021, recomprar o jogador por 100 mil euros. E, caso isso acontecesse, Luquinhas receberia o mesmo salário que recebia no Aves. Mas, revela o Público, o caso de Luquinhas esteve longe de ser um caso isolado: contratos com cláusulas semelhantes terão sido assinados relativamente a atletas como Carlos Ponck, Hamdou, Derley e Ricardo Mangas, entre vários outros jogadores que foram cedidos pelo Benfica ao Desportivo das Aves, sem que em muitos casos fossem tornadas públicas as verbas envolvidas.
Outro problema que liga Benfica e Aves, revelado pelo Público, é a dívida que o clube nortenho tinha ao Benfica – 223 mil euros relacionados com a transferência do cabo-verdiano Carlos Ponck para um clube turco. Ponck tinha sido comprado ao Benfica por um milhão de euros (este valor, sim, foi tornado público nas contas do Benfica) mas o Aves dividiu o pagamento em parcelas, a primeira das quais caucionada por um cheque emitido, pessoalmente, pelo chinês Wei Zhao, investidor no Desportivo das Aves.
Esse cheque deveria ter sido substituído por outro cheque, emitido pela SAD do Desportivo das Aves, mas isso ainda não aconteceu. Este é um valor em débito que deveria ter feito com que o Aves não pudesse inscrever-se na I Liga, já que essa inscrição está condicionada à não existência de dívidas entre os clubes, além de dívidas à Segurança Social e ao fisco.