O Teatro Maria Matos, em Lisboa, vai voltar a abrir portas a 15 de julho. A reabertura do espaço, que esteve encerrado e foi concessionado a privados no âmbito de uma remodelação da rede de teatros municipais de Lisboa, esteve inicialmente prevista para abril, mas foi adiada para julho devido à pandemia do novo coronavírus.

A data foi anunciada esta quinta-feira pela empresa e promotora privada de espectáculos Força de Produção, que venceu o concurso para a exploração privada do espaço durante cinco anos e que ali promoverá, ao longo dos próximos meses, a apresentação de espectáculos como “Avenida Q” e concertos de artistas como Salvador Sobral, Afonso Cabral e a banda Clã.

Em comunicado, a promotora revela as linhas de orientação que guiarão a programação futura do Teatro Maria Matos e dá detalhes sobre os espectáculos que ali acontecerão nos próximos meses.

O teatro funcionará, numa fase inicial e até as medidas de contenção da pandemia decretadas para o setor continuarem em vigor, com uma lotação mais reduzida, de 230 lugares. Os promotores prometem uma “oferta cultural de qualidade, diversificada e para o grande público”, que terá como “eixo central” de programação o Teatro — “em temporadas de média e longa duração” —, a música — “através de concertos, festivais e outras iniciativas” — e as artes performativas.

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O que se poderá ver e ouvir, de “Avenida Q” aos Clã e Salvador Sobral

O destaque maior vai inevitavelmente para a produção teatral “Avenida Q”, um musical que já passou por várias salas do país e que em Portugal estreou-se em 2017, no Teatro Trindade, em Lisboa, onde foi visto durante menos de dois meses (entre 11 de fevereiro e 2 de abril) por 17.600 espectadores, como refere a revista Sábado.

Avenida Q. Nos bastidores de “uma Rua Sésamo em esteróides”

A versão portuguesa do espectáculo que se estreou na Broadway em 2003 foi um sucesso de bilheteiras e voltará em 2020 aos palcos no Teatro Maria Matos. Estará em cena entre 15 de julho (na véspera há um ensaio solidário) e 1 de novembro, todas as 4ª, 5ª, 6ª e sábados às 21h e todos os domingos às 18h. A autoria do espectáculo é de Robert Lopez, Jeff Marx e Jeff Whitty, Henrique Dias e Rui Melo trabalharam na adaptação e o elenco conta com atores como Diogo Valsassina, Inês Aires Pereira, Manuel Moreira e Rui Maria Pêgo, entre outros.

As restantes novidades de programação anunciadas passam por concertos, agendados para as segundas-feiras e terças-feiras. Os primeiros serão atuações da banda Clã (a 20 de julho, às 22h), que lançou já este ano um novo disco de canções originais, e de Cabrita, novo projeto do saxofonista João Cabrita, que vai revelar a 3 de agosto e em palco temas do seu primeiro álbum a solo, que tem edição agendada para 1 de outubro. O concerto de Cabrita (3 de agosto, às 21h) terá participação especial de Surma.

Seja como for, aqui na Terra estes serão sempre o Clã

Há ainda concertos agendados de Afonso Cabral (4 de agosto), vocalista dos You Can’t Win, Charlie Brown que em 2019 editou o seu primeiro álbum a solo, e de Salvador Sobral em dose tripla: primeiro com o seu projeto de interpretação de canções de Jacques Brel (10 e 11 de agosto, às 21h), depois com a sua banda Alma Nuestra, que editou recentemente um primeiro álbum (17 e 18 de agosto, às 21h) e por fim com o seu projeto musical a solo, que no último ano originou a edição de um álbum intitulado Paris, Lisboa (a 24 e 25 de agosto, às 21h).

Até ao final do verão, está ainda anunciada mais uma performance musical: a dos RUGE, projeto de música e poesia do jornalista, escritor e músico Rodrigo Guedes de Carvalho (a 7 e 8 de setembro, às 21h).

Também a cafetaria do Teatro, que ganhará um novo nome — “Maria vai com todos” — terá programação complementar à sala principal, mas a abertura e programação deste espaço para pequenas apresentações “não avançará nesta primeira fase”.

Os bilhetes para os espectáculos já agendados estarão brevemente disponíveis online — na plataforma Ticketline — e nos “locais habituais”, adianta o comunicado. A bilheteira do teatro abrirá apenas a 14 de julho, véspera de reabertura do Maria Matos.

Bruno Nogueira, Filipe Melo e Nuno Rafael como consultores artísticos

O comunicado da promotora privada que assegurará durante os próximos cinco anos a programação e exploração comercial do antigo teatro municipal de Lisboa indica ainda algumas novidades quanto ao futuro do Maria Matos.

Uma delas passa pelos consultores de programação: para decidir o que acontecerá no teatro, foram convocados desde logo a Academia de Produtores Culturais (responsável por “desenvolver uma série de iniciativas junto da comunidade”), Bruno Cochat — que ficará com o “extenso plano de atividades pedagógicas do teatro” a seu cargo — e o maestro Cesário Costa, que trabalhará como consultor “na área da música clássica”, coordenando ainda a iniciativa “Concertos Comentados”.

Força de Produção vai dirigir o Teatro Maria Matos

Para programar o “Festival Presente” foi chamada Alexandra Neves Silva e para aconselhamento na área de programação musical, humor e programação alternativa “a ter lugar em vários espaços do teatro” foram chamados Nuno Rafael, Filipe Melo e Bruno Nogueira.

O primeiro, Nuno Rafael, é guitarrista e músico, tendo feito parte do grupo Humanos e acompanhado vários artistas ao longo dos últimos anos — é por exemplo colaborador regular e parceiro próximo de Sérgio Godinho há muitos anos. Ficará com a responsabilidade do aconselhamento à programação musical. O pianista, autor de banda desenhada e realizador de cinema Filipe Melo contribuirá para as áreas da programação musical e cinematográfica e o humorista e ator Bruno Nogueira deverá ser consultor para as áreas de teatro e humor.

Em dias livres, espaço é cedido a outros artistas e promotores

De acordo com a promotora que assegurou a concessão do espaço, até ao dia 30 de setembro todas as segundas-feiras e terças-feiras livres, isto é, sem programação anunciada, estarão “abertas a acolhimentos”, com as receitas de bilheteira a reverter integralmente para quem ali organizar concertos ou exibições de teatro. Trata-se de um “desafio lançado a produtores e promotores de forma a apoiar os artistas no período de instabilidade que atravessamos”.

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A Força de Produção garante assim estar disponível para ceder o espaço, durante as segundas-feiras e terças-feiras livres de programação, a quem ali queira organizar atuações e apresentações, desde que estes assumam “os custos referentes aos recursos humanos necessários à realização dos espectáculos”.

Ainda no campo da colaboração com a comunidade e a sociedade civil, os novos gestores do Teatro Maria Matos anunciam que vão ceder “uma das salas de trabalho do teatro a associações que promovam os mesmos valores que regem a filofosia pedagógica do Maria Matos”. Estes valores são, adiantam já, a “igualdade”, a “liberdade de pensamento”, o “cruzamento entre as artes”, a “empatia” e a “inclusão”. A primeira organização que terá uma das salas de trabalho do teatro a seu dispor, mal o teatro reabra, será o Grupo EducAR – Plataforma de Educadores Antirracistas.

Agora que o teatro Maria Matos foi concessionado a privados, a rede de teatros públicos e municipais conta agora com três espaços, o São Luiz, o LU.CA – Teatro Luís de Camões (especializado em produções infanto-juvenis) e o Teatro  do Bairro Alto, que, tendo uma dimensão muito menor do que a do Teatro Maria Matos, tentará assegurar a aposta anterior deste teatro em produção musical e teatral mais experimental.

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Acrescem a estes espaços como a Galeria Zé dos Bois, a Culturgest – Fundação CGS (que tem como diretor artístico o antigo diretor do Teatro Municipal Maria Matos, Mark Deputter), o Centro Cultural de Belém e o Teatro da Trindade — gerido pela Fundação Inatel —, entre outras salas.

O Cineteatro Capitólio funciona nos mesmos moldes do Teatro Maria Matos, ou seja, foi concessionado a privados (neste caso, à promotora de espectáculos Sons em Trânsito). Há ainda cinco espaços municipais cedidos a companhias de teatro: Teatro Aberto, Galeria da Mitra/Teatro Meridional, Teatro da Comuna, Teatro Cinearte – A Barraca e Teatro Taborda.