Rashad Robinson, presidente da Color of Change, é uma das caras do boicote que marcas como a Coca-Cola, Univelever ou a Adidas, entre outras 500 empresas, estão a fazer ao Facebook. Como avança o The Guardian, o ativista vai reunir-se com Mark Zuckerberg, presidente executivo e fundador da rede social, e o propósito é: que o líder do Facebook perceba que chegou altura em que estão a dizer “Basta [enough is enough]” e exigir mais ação contra o discurso de ódio nas plataformas de Zuckerberg (o que inclui o Instagram e o WhatsApp).

A conversa de Robinson, que assume que têm uma conta na rede social e faz aí também ativismo, surge depois de ter sido revelado que o responsável máximo do Facebook acredita que o boicote vai acabar por cessar. De acordo com declarações que vieram a público de Zuckerberg, e que foram posteriormente confirmadas pela empresa, atualmente a posição da rede social é uma: “Não mudaremos as nossas políticas ou abordagem em nada por causa de uma ameaça a uma pequena percentagem da nossa receita, ou a qualquer percentagem da nossa receita”.

Zuckerberg acredita que boicote de marcas vai acabar “em breve”

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Não obstante, é isto que Robinson quer mudar. O ativista é responsável por um grupo online que tem exigido “justiça racial” no Facebook há vários anos. Ao jornal britânico, explica como tem conseguido agora mais tração. “Desta vez, o que fizemos de diferente é ir diretamente até grandes anunciantes que também não foram capazes de obter mudanças na plataforma: anunciantes que veem seus anúncios no Facebook a aparecer ao lado de conteúdo supremacista branco e nacionalista branco e que têm visto Mark Zuckerberg a ver-se como demasiado poderoso para ter de os ouvir“, diz.

“Mas o importante aqui é que isto realmente decorre do facto de termos esgotado todas as outras vias”, refere o ativista que já ajudou a criar outros boicotes a empresas. E deixa a questão: “Mark [Zuckerberg] fechou o nariz a organizações de justiça social. Continuará a fechar também para os grandes anunciantes?”

Passámos horas e horas a tentar levar a nossa avante com o Facebook. Fomos atacados pela empresa através de agentes pagos e ainda aparecíamos de volta à mesa [de negociações]. Fizemos tudo isso porque acreditamos que as nossas eleições e impedir o ódio são [causas] extremamente importantes. Mas chegamos ao ponto em que temos de dizer que basta”.

[Ouça o podcast da App da Vizinha sobre o boicote ao Facebook]

Que boicote é este ao Facebook?

E continua: “Acho que o significado cultural de tantas grandes marcas a afastarem-se é enorme”. “Eles também não podem simplesmente creditar isto a ativistas malucos estranhos, porque não se pode realmente chamar de estranhos à Unilever ou à Coca-Cola”, refere. Além disso, o ativista refere que há marcas que se juntaram ao boicote que querem financiar a sua associação. Porém, deixa-lhes agora uma condição: deixem de pagar por publicidade no Facebook”. “Ok, se as vidas de negros importam [Black Lives Matter], quero que parem de anunciar no Facebook”, diz.

Mark Zuckerberg passa o seu tempo a dar-nos palestras sobre liberdade de expressão. É algo arrogante para um bilionário dizer aos ativistas negros sobre liberdade de expressão, como se a luta por mudanças sociais e progressos que os negros têm não fosse uma das linhas de base da liberdade de expressão”, disse.

Para a reunião, que foi pedida pelo Facebook, diz Robinson, a exigência vai ser a de que a empresa tenha verdadeiros peritos em direitos civis para continuar a fazer os seus produtos. “Não temos vergonha das nossas exigências, não temos vergonha da nossa campanha. Estou pronto para entrar com os ouvidos abertos, pediram uma reunião e estou ansioso pelo que têm a dizer”, refere.

O boicote de 530 empresas ao Facebook tem ganhado tração e visibilidade, principalmente depois de a Coca-Cola ter afirmado que, “durante um mês”, ia cessar todos os recursos que investe em marketing digital nas redes sociais. Contudo, daqui a um mês o cenário pode mudar e o Facebook pode não ser obrigado a ceder às pressões. Como refere o jornal britânico, não se sabe o peso económico ao certo que estas marcas têm na atividades das redes sociais de Zuckerberg, podendo até ser um boicote irrelevante do ponto de vista económico.

Para já, o impacto direto que o Facebook teve devido a este boicote foi na valorização das suas ações. No final de junho, as ações do Facebook caíram cerca de 9% devido ao anúncio do boicote, um valor que tem vindo a ser recuperado.