Espanha contava com apoio dos pesos pesados europeus, mas Paschal Donohoe, ministro das Finanças irlandês, ganhou o frente-a-frente com Nadia Calviño, vice-primeira-ministra espanhola, ao segundo “round”. A reunião dos ministros das Finanças da Zona Euro — por videoconferência e com votação secreta — culminou, como se esperava, numa segunda votação, que já não contou com o candidato luxemburguês, Pierre Gramegna.

Mário Centeno fez o anúncio no Twitter, dando os parabéns ao seu sucessor. E Paschal Donohoe já disse estar “profundamente honrado”. “Estou ansioso por trabalhar com todos os meus colegas do Eurogrupo nos próximos anos para garantir uma recuperação justa e inclusiva para todos, à medida que enfrentarmos os desafios futuros com determinação”, disse o ministro irlandês, que está no executivo de Dublin há seis anos — primeiro como responsável pelos Assuntos Europeus, depois liderando os Transportes, o Turismo e o Desporto e ainda assumindo a pasta da Despesa Pública e das Reformas. Em 2017, ficaria com a tutela das Finanças da Irlanda, que lhe permite hoje tornar-se o coordenador dos ministros do Euro.

Nadia Calviño também já agradeceu o apoio que teve por estes dias “das forças políticas e dos agentes sociais, de tantos amigos e também de cidadãos anónimos”. A ministra agradece, em especial, ao primeiro-ministro espanhol, Pedro Sanchez, pelo seu “total envolvimento e apoio”.

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O líder do Eurogrupo — que junta todos os ministros das Finanças da Zona Euro — é encontrado quando algum candidato reúna pelo menos 10 dos 19 votos — o que não aconteceu na primeira volta. A segunda tentativa realizou-se logo de seguida, dando a vitória a Paschal Donohoe.

O ministro das Finanças irlandês não terá contado com o apoio da Grécia e da Holanda — à primeira volta —, mas, de acordo com as contas do jornal Politico antes dessa primeira votação, teria os restantes ministros de centro-direita do seu lado — Áustria, Chipre, Letónia, Eslováquia e Eslovénia —, bem como a Lituânia, que integra o lote de países do Norte da Europa que recusam uma maior integração europeia.

Não é, no entanto, ainda possível confirmar quem votou em quem. A votação foi feita por video-conferência, de forma secreta, com os ministros das Finanças a terem disponível uma aplicação que lhes permitiu votar com anonimato. Nenhum ministro sabe quem escolheu quem e o próprio Eurogrupo só anuncia o derradeiro vencedor. Apenas alguns funcionários do Conselho Europeu têm acesso à matemática que deu a vitória ao irlandês.

Perderam os países mais influentes e, afinal, não se faz História

A vice-primeira-ministra do governo liderado por Pedro Sanchez, que é também ministra dos Assuntos Económicos e da Transformação Digital, contava com o importante apoio público da Alemanha — em que o ministro das Finanças é Olaf Scholz, do SPD, numa coligação liderada pela CDU de Angela Merkel —, mas também de França e Itália. Ou seja, juntando Espanha, as quatro maiores economias europeias e mais populosas estavam com Calviño. Só que, ao contrário de outro tipo de votações na União Europeia, em que é ponderada a população, aqui cada ministro vale um voto. E, no final, também a Alemanha perdeu.

Portugal foi outro dos países que declarou apoio a Calviño. O primeiro-ministro, António Costa, referiu esta segunda-feira que a candidatura se justificava “pelas suas qualidades pessoais, pela forte experiência que tem em matéria europeia e também pela convergência de pontos de vista” que tem mantido com Portugal “sobre o que deve ser o futuro da União Económica e Monetária”.

Antes da reunião, vários órgãos de comunicação europeus noticiavam ainda que a governante espanhola teria condições de “arrancar” ao PPE (centro-direita) o voto da Grécia (que alinha geograficamente com Espanha) e aos liberais o voto da Finlândia.

O terceiro candidato, o luxemburguês Pierre Gramegna, terá sido apoiado apenas na primeira volta pelos vizinhos da Bélgica (liberais) e da Holanda (que, apesar de terem um governo afiliado ao PPE, respeitou a tradicional aliança do Benelux). Mas não se sabe o destino desses votos na segunda volta.

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O que é certo é que a aritmética da votação no Eurogrupo não chegou para Nadia Calviño. E sendo a vitória celebrada em Dublin e não em Madrid, ainda não é desta que o Eurogrupo verá uma mulher a liderar os ministros das Finanças da Zona Euro. Nos 15 anos que leva a instituição, houve apenas três presidentes a ocupar o cargo — Jean-Claude Juncker (2005-2013), Jeroen Dijsselbloem (2013-2018) e Mário Centeno (2018-2020) — sempre homens.

Também a família socialista europeia fica com um pouco menos de poder na Europa. Em todo o caso, apesar da saída de Centeno e da derrota da vice-primeira-ministra espanhola, a Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas ainda conta com David Sassoli na presidência do Parlamento Europeu e Joseph Borrell como alto representante para a Política Externa da União Europeia.

Nos cargos de maior peso, a presidência da Comissão Europeia, assumida por Ursula von der Leyen, é ocupada ininterruptamente por membros do Partido Popular Europeu desde Durão Barroso, em 2004. E Charles Michel, ex-primeiro-ministro belga que assumiu no ano passado a presidência do Conselho Europeu, vem da família dos liberais europeístas do ALDE — Aliança dos Democratas e Liberais pela Europa (agora Renew Europe).

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