Cerca de 40% dos técnicos e diretores técnicos das instituições particulares de solidariedade social (IPSS) de Portugal sofrem de burnout (cansaço extremo), revela um estudo realizado pela Associação Nacional de Gerontologia Social (ANGES) a 339 trabalhadores.

A avaliação multidimensional, a que a agência Lusa teve esta quarta-feira acesso, conclui que a grande maioria dos trabalhadores inquiridos (73,7%) sente-se satisfeito com a sua vida, mas somente 59,9% “perceciona a sua saúde física e psicológica como razoável”.

Em declarações à agência Lusa, o coordenador do estudo, Ricardo Pocinho, adiantou que os trabalhadores que laboraram por turnos apresentam valores de ‘burnout’ mais elevados, sobretudo os que fazem noite.

Segundo o investigador, nos casos em que existe maior envolvimento das chefias os níveis de cansaço extremo baixam e regista-se também um comprometimento laboral mais elevado. Ricardo Pocinho adianta que a formação profissional dos inquiridos ajuda a diminuir os índices de ‘burnout’, que no caso de auxiliares e ajudantes atinge os 87%, de acordo com um outro estudo realizado há dois anos.

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O estudo revela também que 80,5% dos inquiridos considera o seu salário injusto, embora a esmagadora maioria (95,3%) refira estar satisfeito com as suas funções profissionais.

Cerca de uma centena dos trabalhadores respondeu ao inquérito do estudo já depois de declarada a pandemia da Covid-19 e, segundo Ricardo Pocinho, “não houve alterações significativas”.

“A pandemia agora serve de desculpa para muita coisa, mas antes as organizações sociais já tinham elevados problemas”, salientou.

A “Avaliação Multidimensional dos Trabalhadores das Organizações Sociais em Portugal — ‘Burnout’ e ‘Engagement'” teve como objetivo analisar os fatores de risco para o desenvolvimento de esgotamento físico e mental nos trabalhadores e nos responsáveis de cargos diretivos.

Além do coordenador Ricardo Pocinho, a equipa de investigadores contou com a participação de Pedro Carrana, Bruno Trindade, Cristóvão Margarido, Rui Santos e Gisela Santos.

O estudo da ANGES, sediada em Coimbra, que teve início em setembro de 2019 e terminou este mês, foi dirigido a meio milhar de trabalhadores, tendo respondido 339, “valor acima das expectativas, já que metade era suficiente para medir a amostra”, frisou o coordenador. Tratou-se de um estudo piloto que vai ser alargado a todas as IPSS portuguesas a partir de setembro, “de preferência” com o apoio do ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social.