Cerca de meia centena de pessoas juntaram-se este sábado junto ao Padrão dos Descobrimentos, em Lisboa, como expressão do movimento internacional One Million, em defesa de mudanças e da melhoria das condições de vida na África do Sul.

Com o Tejo como pano de fundo e a evocação das descobertas que levaram os portugueses até ao extremo sul do continente africano bem presente, a concentração decorreu num clima pacífico – apesar da vigilância de quase uma dezena de polícias – e animado, com música, dança e até doces típicos do país sul-africano.

A maioria vestia camisolas pretas com o nome do movimento ou camisolas verdes da seleção de râguebi, os ‘Springboks’, além das bandeiras.

Em declarações à Lusa, a coordenadora da concentração do movimento One Million em Lisboa, Lauren Almeida, vincou a importância de chamar a atenção do mundo para a situação atual que se vive na África do Sul, onde “há um grande problema com a gestão de fundos governamentais”, e apelou aos sul-africanos expatriados “para se unirem pela paz, amor e prosperidade” no país.

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“Existem muitas atrocidades no país: homicídios, crimes, violações. No entanto, o mais importante é que, em junho, o Tribunal Constitucional considerou a lei eleitoral inconstitucional e deu 24 meses para se alterar e haver eleições diretas, onde possamos votar por pessoas que possam ser responsabilizadas e não por partidos. Neste momento, são as pessoas dentro desses partidos eleitos que decidem quem ocupa os cargos”, explicou.

A viver entre a África do Sul e Portugal nos últimos dois anos, Lauren Almeida, de 32 anos, salienta que os problemas existentes “já têm décadas”, mas pioraram nos últimos anos e a pandemia de covid-19 “veio agravar as condições de vida”. Contudo, não perde a esperança de ver o país unir-se em prol de uma mudança real no curto prazo.

“Há muitos problemas que precisam de ser resolvidos. O movimento One Million quer ser a voz pela África do Sul e defender os direitos das pessoas. Este é um sinal de que os sul-africanos conseguem mobilizar-se, acredito e tenho a convicção de que é um movimento que vai crescer em defesa do país”, sublinhou.

Entre os manifestantes, Carlos Arantes, de 51 anos, ia tirando fotografias e filmando as atividades da concentração. Com dupla nacionalidade, sul-africana e portuguesa, este antigo emigrante mora agora no Bombarral, depois de viver entre os cinco e os 48 anos na África do Sul, país onde construiu família e pelo qual continua a ter um sentimento especial, fortalecido pela preocupação com o estado atual da ‘nação arco-íris’.

“Estamos a tentar que haja uma mudança de política por parte do Governo sul-africano, nomeadamente ao nível da corrupção e na ajuda aos mais desfavorecidos”, frisou, acrescentando: “Não se trata de uma só pessoa, é todo um sistema: o Governo e, na minha opinião, até a oposição, que não tem feito o suficiente para obrigar o ANC [Congresso Nacional Africano, na sigla em inglês] a mudar de política”.

Segundo Carlos Arantes, a pressão da comunidade internacional que o movimento One Million visa criar será fundamental para provocar a alteração da situação atual, relembrando que “o Apartheid acabou há mais de 20 anos também devido à pressão” dos outros países.

“Faço minhas as palavras do nosso ícone Nelson Mandela: Se o ANC fizer o que o governo do Apartheid vos fez, então façam ao ANC o que fizeram ao governo do Apartheid”, sentenciou.

O movimento One Million foi fundado por Jarette Petzer e Joanita Van Wyk e a manifestação global de hoje pretende mobilizar pelo menos um milhão de sul-africanos, nacional e internacionalmente, contra a crise que o país enfrenta e lutar por uma nova lei eleitoral, num momento em que se debate também com a pandemia de covid-19.