Na sequência do artigo de opinião “Ah, Ah, Ah, podem rir os grandes devedores”, publicado a 14 de setembro, recebemos de Nuno Vasconcellos, ex-líder da Ongoing, o seguinte Direito de Resposta, que publicamos ao abrigo da Lei nº.2/99, de 13 de Janeiro:

“Mais uma vez, vejo meu nome incluído de forma indevida na lista de pessoas que lesaram os bancos portugueses. Agora, a menção é feita no artigo “Ah, Ah, Ah, podem rir os grandes devedores”, assinado pela jornalista Helena Garrido, no Observador. Quero deixar claro, antes de qualquer outra manifestação, que jamais ri nem tratei com desrespeito os credores das dívidas contraídas pela empresa que fundei e dirigi, a Ongoing. Ainda assim, sempre sou tratado como se tivesse obtido benefícios pessoais em razão da bancarrota que atingiu os bancos portugueses.

Mesmo sendo vítima de uma mentira que, repetida mil vezes, acabou sendo vista como verdade, quero, em respeito aos leitores desse veículo, prestar alguns esclarecimentos. Em primeiro lugar, nunca contrai em nome pessoal, nem no de empresas sob a minha responsabilidade, empréstimos junto a qualquer banco público. Jamais deixei dívidas para a população pagar nem fugi para outro país.

Vivo no Brasil há mais de dez anos e visito Portugal com regularidade. Tenho minha vida limpa, sem qualquer condenação, e não preciso apelar para o recurso da fuga para me livrar de qualquer responsabilidade. Os empréstimos concedidos a empresas pelas quais eu era responsável foram feitos junto a bancos privados, não do povo português! Entre esses bancos estão o Crédit Suisse e o Nomura International, duas das maiores instituições financeiras do mundo que, evidentemente, não são portuguesas. Também fiz negócios como o BCP e o Banco Espírito Santo, do qual fui acionista durante muitos anos, cuja falência foi a principal causa da derrocada do meus negócios em Portugal.

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Toda dívida que tive com os bancos acima foi negociada e paga. Nada ficou por pagar, exceto ao Novo Banco, numa operação que passo a explicar, insisto, em respeito aos leitores do Observador. A administração do banco (criado a partir dos ativos do antigo BES) preferiu não negociar a dívida e optou por executar os ativos reais dados como garantia das linhas de crédito.

Entendo que alguns executivos, por razões políticas, gostem de ter um bode expiatório para esconder do povo português as terríveis decisões que tomaram ao criar o Novo Banco e deixar falir o BES — que arrastou em sua queda várias empresas que geravam empregos e recolhiam impostos em Portugal. A péssima gestão dos banqueiros e reguladores, como a do Banco de Portugal, não é de minha responsabilidade! A decisão saiu, sim, muito cara aos contribuintes portugueses, mas nada tive a ver com ela.

No momento em que o BES me concedeu os empréstimos, muito antes da crise que o levou à falência, pediu as garantias que entendeu necessárias e eu as ofereci! Todo o crédito que me foi concedido era garantido por ativos reais! Entre eles havia empresas sólidas, como ZON e Altice, terrenos valiosíssimos, na região central de Lisboa, quintas maravilhosas, empreendimentos turísticos com campos de golfe, entre outros. Todo o capital e os juros da dívida estavam cobertos por esses ativos e sempre que me foi pedido reforço das garantias, atendi a solicitação na medida do possível.

As essas operações foram registradas em cartório, o que torna fácil constatar a veracidade de minhas informações. O banco, repito, era privado e não público. Não era, portanto, de todos os portugueses. Se algum mau negócio foi feito com meus empréstimos, não foi por minha responsabilidade!… Posso ser acusado de ter negociado bem, nada além disso. Muito sinceramente, porém, duvido que algum banco tenha feito mau negócio com meus créditos…

Algumas das empresas pelas quais eu era responsável, é bom que fique claro, não puderam arcar com o peso dos impostos que deviam. Assumi de imediato toda a responsabilidade pelos tributos e, pessoalmente, fechei com o fisco português um acordo que estou a honrar ainda hoje. E que vou continuar a honrar até o final. Esse acordo também está registrado em cartório, o que facilita a comprovação de minhas informações a respeito.

Honrei meus compromissos em Portugal com todos os que aceitaram negociar. Não tenho problemas com a Justiça, nem no meu país, nem em qualquer outro lugar. Espero, de cabeça fria e sem pré-julgamentos, que o Observador e a jornalista Helena Garrido encontrem o lado justo, verdadeiro e correto desta longa história.

Fiquei muitos anos calado. Tenho sido caluniado na comunicação social, desprestigiado, com factos totalmente errados e sem provas, sem que eu pudesse, na altura, corrigir. Esse sim, foi um erro pelo qual eu e minha família ainda pagamos! Nada mais me fará silenciar. A partir de agora, com calma e serenidade, procurarei registrar meu lado da história e repor toda a verdade.

A falsidade das acusações encontra seu ponto mais alto no site do Bloco de Esquerda, onde sempre sou mencionado como um condenado pela Justiça portuguesa e com dívidas junto ao BCP. Mentira! Pior: o BCP, depois de fechar um acordo para a resolução de todo o crédito junto do banco, agiu de má fé ao tentar recuperar, no Brasil, o que não era dele por direito. Nesse caso, como em muitos outros, a justiça foi feita e o pleito do BCP foi considerado indevido, em duas instâncias.

A falência da Ongoing não foi fraudulenta e nunca houve, de minha parte, qualquer tentativa de fugir de minhas obrigações. Não pretendo, na mesma medida, assumir mais obrigações do que aquelas que me cabem nesse episódio lamentável. Sempre deixei claro a todos os credores de que não dispunha — como não disponho — de bens pessoais que pudessem ser dados em garantia das operações. Isso sempre foi dito com clareza em todas as negociações de crédito que solicitei, nas quais ofereci como garantia e foram aceitos, bens de propriedade de minha família.

Acho, portanto, no mínimo estranha a referência irônica e insistente ao facto de o único bem registrado em meu nome ser uma moto d’água — sempre mencionado como uma suposta prova de minha intenção de tentar ocultar patrimônio que pudesse ser eventualmente recuperado para pagamento de dívidas que, na prática, já foram liquidadas. Da mesma forma, considero mal intencionada a menção recorrente a “investigadores privados” que o Novo Banco teria contratado para vasculhar minha vida no Brasil. Se é verdade que pessoas estiveram à minha procura com essa finalidade, as perguntas a serem feitas são: onde está o relatório da investigação? O que foi encontrado? A resposta é: nada encontrado. Não porque eu tenha procurado ocultar algum bem, mas porque tais bens jamais foram dados em garantia a empréstimos em Portugal, mesmo porque nunca existiram.

Atenciosamente,

Nuno de Almeida e Vasconcellos”