Com o punho erguido em sinal de vitória e de máscara branca, que tirou escassos segundos depois de assomar à varanda sul da Casa Branca, — eis como se apresentou Donald Trump este sábado à tarde naquele a que convencionou chamar um “protesto pacífico” em honra das forças de segurança, perante várias centenas de apoiantes reunidos no relvado.

Diagnosticado com Covid-19 há uma semana, depois de ter testado positivo para o novo coronavírus, o presidente dos Estados Unidos regressou aos eventos públicos quando ainda subsistem dúvidas sobre o seu estado de saúde e contra as indicações dos especialistas independentes que têm assegurado na imprensa americana que regressar à vida pública tão cedo pode não só fazer piorar a sua condição (são frequentes os agravamentos da Covid-19 na segunda semana da doença) mas também colocar terceiros em risco.

Talvez por isso, a primeira coisa que Donald Trump fez questão de fazer, já sem máscara no rosto, foi garantir que se sente bem. “Não sei quanto a vocês, mas eu sinto-me ótimo”, disse à multidão amontoada sobre a relva, em claro incumprimento da distância de segurança recomendada em tempo de pandemia.

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De acordo com o New York Times, para o evento desta tarde, foram enviados mais de dois mil convites. Várias centenas de pessoas, segundo o mesmo jornal, compareceram no encontro, organizado por Candace Owens, uma conhecida ativista conservadora pró-Trump, parte do movimento Blexit, por que Kanye West dá a cara e que pretende, mimetizando a saída do Reino Unido da União Europeia, incentivar o abandono do Partido Democrata por parte da comunidade afro-americana. Apesar de as máscaras serem obrigatórias, nem todas as pessoas as mantiveram colocadas durante todo o tempo, deu para perceber através das transmissões televisivas. Para além de terem sido sujeitos à medição da temperatura à chegada à Casa Branca, todos os presentes tiveram também de preencher um formulário com contactos.

Depois de agradecer as orações feitas pela sua recuperação e pelas melhoras da mulher, Melania, Trump saudou os elementos das comunidades negra e hispânica presentes, e voltou a garantir: “A nossa nação vai derrotar este terrível vírus da China, como lhe chamamos. Estamos a produzir tratamentos e medicamentos poderosos, estamos a curar as pessoas, que vão recuperar, e a vacina vai chegar muito, muito rapidamente, em tempo recorde”.

Depois, e porque faltam apenas 24 dias para as eleições presidenciais, passou ao ataque, sempre centrado nas forças de segurança e nas comunidades afro-americana e latina: “Não podemos deixar que o nosso país se transforme numa nação socialista”, arengou, perante uma plateia entusiástica. “Durante meio século os governos democratas só trouxeram calamidade, pobreza e problemas. O Sleepy Joe Biden traiu os negros e os latinos. As casas, as igrejas e as lojas dos negros têm sido incendiadas por fanáticos de esquerda, pessoas totalmente más — eles sabem o que andam a fazer —, ainda assim Biden gosta de chamar-lhes manifestantes pacíficos.”

Apesar de se ter apresentado com uma voz forte e colocada e de não ter dado mostras de qualquer dificuldade em respirar, este sábado à tarde Donald Trump discursou durante pouco mais de 16 minutos — cerca de metade do tempo que costuma durar cada uma das suas intervenções, salientou também o New York Times, insinuando que talvez nem tudo esteja assim tão bem como o presidente dos Estados Unidos e o seu staff têm feito crer.

Também este sábado, a equipa responsável pela campanha do ainda presidente anunciou que Trump vai mesmo voltar à estrada, e aos comícios já na próxima segunda-feira. Mais: acrescentou até duas paragens extra à sua digressão pelo país — na terça-feira vai estar na Pensilvânia, no dia seguinte no Iowa.