Portugal faz parte de um grupo de três países europeus onde a primeira vaga da pandemia de Covid-19 teve um “baixo efeito” no aumento total da mortalidade, conclui um estudo realizado por investigadores do Imperial College of London, esta quarta-feira apresentado.

De acordo com o estudo, que analisa as mortes adicionais que ocorreram entre meados de fevereiro e finais de maio num total de 21 países industrializados e publicado na revista Nature Medicine, o efeito da Covid-19 em Portugal foi dos mais baixos do universo analisado.

O “baixo efeito” na mortalidade foi sentido em Portugal, na Áustria e na Suíça.

Segundo o documento, coordenado pelo investigador Majid Ezzati, a Covid-19 provocou diretamente 1.396 mortes em Portugal, o que, de acordo com o método matemático usado, significa um aumento da mortalidade (direta e indireta) de cerca de 2.900 pessoas (em Portugal) no período em causa e relativamente aos números habituais de anos anteriores.

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Estes números representam um “excedente de mortalidade” de cerca de 13% no país.

A análise identifica quatro grupos de países consoante o número total de mortos na primeira vaga da pandemia.

“O primeiro grupo compreende países que evitaram um aumento detetável da mortalidade em geral e inclui a Bulgária, a Nova Zelândia, a Eslováquia, a Austrália, a República Checa, a Hungria, a Polónia, a Noruega, a Dinamarca e Finlândia”, refere o estudo.

O segundo e terceiro grupos de países “experimentaram um efeito baixo a moderado da pandemia nas mortes em geral e incluem Áustria, Suíça e Portugal (baixo efeito) e França, Países Baixos e Suécia (efeito moderado)”, acrescenta a análise.

Por último, o quarto grupo de países, onde a mortalidade aumentou fortemente durante o período em causa relativamente aos valores comuns de anos anteriores e onde constam a Bélgica, a Itália, a Escócia, a Espanha e Inglaterra e País de Gales.

No total dos 21 países, registaram-se, entre meados de fevereiros e final de maio, “cerca de 206.000 mortes a mais do que o esperado se a pandemia da Covid-19 não tivesse acontecido”, conclui este estudo.

Inglaterra e País de Gales, bem como Espanha, foram os Estados mais afetados, com um aumento de entre 37% a 38% na mortalidade em relação aos níveis esperados na ausência de uma pandemia — o que representa um nível muito acima da média de 18% do conjunto dos países analisados.

Na lista dos países europeus onde a primeira vaga da pandemia provocou maior aumento da mortalidade seguem-se a Itália, a Escócia e a Bélgica.

O estudo alerta que a doença causada pelo vírus Sars-Cov-2 causou diretamente mais de um milhão de mortes em todo o mundo, segundo as contagens oficiais, mas também resultou em mortes indiretas, devido aos efeitos sociais e económicos e à perturbação dos sistemas de saúde (atrasos nos diagnósticos, adiamento de cirurgias, diminuição da atividade física, aumento de suicídios e violência intrafamiliar, entre outros fatores).

Por outro lado, a diminuição do tráfego rodoviário e a melhoria da qualidade do ar durante o confinamento evitaram algumas mortes que teriam ocorrido se não se tivesse registado uma pandemia.

O conhecimento desses efeitos indiretos é “necessário para entender o real impacto da pandemia em termos de saúde pública”, explicam os investigadores do Imperial College London.

“Este número (206.000) é semelhante ao número total de mortes por cancro de pulmão e é mais do dobro das mortes ligadas à diabetes ou a cancro de mama nesses países durante um ano inteiro”, sublinhou o Instituto nacional de Estudos Demográficos (INED), um associado do estudo, em comunicado esta quarta-feira divulgado.

De acordo com os autores, as diferenças de país para país “refletem variações nas características da população, nas políticas, na resposta à pandemia e na prontidão dos sistemas de saúde pública”.

“Os resultados deste trabalho de investigação poderão ajudar a implementar políticas públicas que irão limitar a mortalidade em futuras vagas da pandemia“, defendeu o INED.

Segundo um dos autores da análise, “os países que desenvolveram testes eficazes e abrangentes e campanhas de rastreamento de contacto a nível local, e aqueles que implementaram medidas de contenção precoces e eficazes tiveram um número menor de mortes durante a primeira vaga” de covid-19.

“Numa altura em que estamos a entrar na segunda vaga, programas de testes e rastreamento e apoio a pessoas que tenham de se isolar representam a medida mais importante para minimizar o impacto da pandemia”, defendeu.

Os investigadores usaram dados sobre a mortalidade desde 2010 nos países estudados, para estabelecer quantas mortes seriam, normalmente, registadas no período em causa caso a pandemia da Covid-19 não tivesse ocorrido.

A comparação entre esses números e o número de mortes realmente registadas durante este período permitiu deduzir que o excedente ao habitual é atribuível à Covid-19.

Os países escolhidos para o estudo foram aqueles que têm uma população superior a quatro milhões e sobre os quais a equipa de investigadores possuía dados semanais de mortalidade, discriminados por faixa etária e sexo, desde pelo menos 2015.