“De um lado está o génio com duas Ligas dos Campeões e oito campeonatos com o seu nome. Do outro, o antigo assistente, apenas dez meses depois de ter começado a sua carreira de técnico a solo mas já a deixar uma impressão positiva, com a conquista da Taça de Inglaterra [n.d.r. e da Supertaça]. O jogo deste sábado entre Manchester City e Arsenal é o terceiro entre Pep Guardiola e Mikel Arteta como treinadores mas o primeiro em que a questão se o pupilo consegue superar o seu mestre começa finalmente a ser colocada”, destacava a Sports Illustrated antes de um dos grandes duelos da jornada na Premier League. E esse era exatamente o principal motivo de interesse no Etihad Stadium, até pelo percurso de ambos os conjuntos desde que o ex-adjunto se mudou para Londres.

Depois de uma época que começou com a conquista da Supertaça e da Taça da Liga, o City garantiu o segundo lugar no Campeonato (ou o primeiro extra Liverpool, que cedo decidiu a questão) mas falhou na Taça de Inglaterra com uma derrota nas meias e, sobretudo, falhou na Champions, perdendo com o Lyon nos quartos. Solução para melhorar? Voltar a fazer uma aposta forte na defesa, com as contratações de Rúben Dias e Nathan Aké, além da substituição de David Silva pelo também espanhol Ferran Torres. “Olho para a chegada do Rúben Dias como tendo muita coisa em jogo. Se ele não funcionar e o City não ganhar a Premier League, é o fim do Guardiola no Manchester City. Caso contrário, pode ter o contrato renovado por mais uns anos. Está a tentar substituir o Kompany e o que é certo é que nunca teve um bom historial a contratar centrais. Até mesmo no Barcelona, costuma ser o ponto fraco das equipas dele”, destacou Jamie Carragher, ex-internacional hoje comentador.

A pressão aumenta em Manchester, a pressão começa a ser esvaziada em Londres. Apesar de não ter entrado na Liga Europa via Premier League mas sim via Taça de Inglaterra, a conquista do troféu na final com o Chelsea, a que se seguiu nova vitória com o Liverpool na Supertaça, teve ainda o condão de libertar o Arsenal de estigmas e fantasmas do passado. Mesmo que longe dos rivais mais diretos (ou que antigamente eram os adversários mais diretos), Mikel Arteta conseguiu dar uma nova alma aos gunners, reforçando também um plantel que não registou grandes saídas com Thomas Partey, Gabriel, Pablo Marí ou Cédric. Se o ataque estava ao nível dos melhores, a defesa teria de ir para o mesmo sentido. E os primeiros encontros da época mostraram essa subida, com apenas uma derrota em Anfield frente ao Liverpool entre três triunfos sólidos a abrir a Premier League.

“Acho que devíamos clarificar quem é o mestre e o aprendiz. Nenhuma pessoa que conhecesse o Mikel [Arteta] tinha dúvidas sobre o que ele conseguiria fazer num período curto de tempo. Está muito bem e sobretudo a forma como a equipa joga nesta altura mostra bem a qualidade que têm. Conseguiu recolocar o Arsenal na posição que era deles há muito, muito tempo. Ele é um competidor, um lutador e tem uma ideia clara sobre o que quer fazer dentro e fora de campo. Todas as pessoas que gostam dele devem estar mais do que satisfeitas com o que tem estado a fazer em Londres”, comentou Pep Guardiola no lançamento do encontro. Mas seria suficiente?

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Não foi. Por demérito do Arsenal, que fez uma das exibições com menos qualidade ofensiva contra os principais classificados da Premier League desde que Arteta assumiu o comando da equipa. Por mérito do Manchester City, que fez um jogo muito consistente sobretudo na primeira parte em que chegou à vantagem. Com dedo de Pep Guardiola, que revolucionou a equipa em termos posicionais e “fintou” a estratégia dos londrinos logo a abrir. Como? Rúben Dias jogou numa linha a três mais aberta do que é normal com Kyle Walker à direita e Nathan Aké à esquerda; João Cancelo alinhou como falso interior direito, no apoio a Rodri no meio-campo; Bernardo Silva foi um “vagabundo” entre linhas, a lembrar em alguns períodos o que fazia David Silva na equipa quando jogava mais recuado em relação às três unidades mais ofensivas. E o esquerdino foi um dos melhores em campo.

O golo que decidiu o encontro mostra bem essa “mobilidade extra” dos citizens: Bernardo Silva mais recuado do que é normal a construir, Agüero a descer para receber a bola, Sterling a aparecer em zona de finalização para fazer a recarga para o 1-0 após remate de Foden defendido por Leno (23′). Os londrinos ainda tiveram algumas ameaças por Pepé e Gabriel, o intervalo chegou mesmo com vantagem dos visitados e o segundo tempo confirmou apenas a maior qualidade e maturidade do City, que mostrou uma versão mais pragmática do que é normal numa equipa que mesmo não tendo a clássica linha de quatro na defesa concedeu menos oportunidades ao Arsenal.