De 20 de outubro a 8 de novembro, 18 etapas, o encerrar da temporada do World Tour de ciclismo. A pandemia roubou três etapas à Vuelta, cancelou o arranque nos Países Baixos e a passagem por Portugal e restringiu o percurso a Espanha e França mas não deixa de ser a última das três Grandes Voltas da modalidade. E arrancava esta terça-feira em Irún, no País Basco.

Originalmente agendada para começar no fim de agosto e acabar no início de setembro, a Vuelta foi obviamente afetada pela pandemia e pelas alterações feitas a todo o calendário do ciclismo internacional. Ainda assim, não deixa de ser a última das três Grandes Voltas a acontecer e contava com um percurso marcado por muita montanha, com prevalência do norte espanhol e com apenas um contrarrelógio.

Primoz Roglic (Jumbo-Visma), o esloveno que viu o compatriota Tadej Pogacar roubar-lhe a conquista do Tour no derradeiro contrarrelógio, é um dos grandes favoritos à vitória — até por ser o campeão em título, já que venceu a Vuelta do ano passado. Também Chris Froome, que ganhou a competição em 2011 e 2017, surgia como um dos nomes fortes nesta que é a última Volta que completa com a INEOS antes de se mudar para a Israel Start-Up Nation. A par do esloveno e do britânico apareciam ainda Tom Dumoulin e Richard Carapaz como possíveis protagonistas de uma surpresa.

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Já o contingente português era este ano composto por cinco ciclistas: dois pesos-pesados, um estreante, um reforço de última hora e um estreante que é simultaneamente um reforço de última hora. Nélson Oliveira (Movistar), o último português a ganhar uma etapa numa Grande Volta antes de Rúben Guerreiro já este ano no Giro (Vuelta, 2015), e Rui Costa (UAE Emirates), campeão do mundo em 2013 e vencedor de três etapas do Tour, eram os principais donos da experiência do grupo português que esta terça-feira partia de Irún. Depois, surgiam os estreantes, os gémeos Ivo e Rui Oliveira (UAE Emirates), sendo que este último só nas últimas horas confirmou que iria competir na prova para substituir o italiano Alessandro Covi. Por fim, o outro nome que só surgiu já em cima da hora, Ricardo Vilela, que também foi chamado para substituir um colega de equipa da Burgos-BH.

Com o receio principal a passar pela pandemia e pela possibilidade de contágios dentro do pelotão, a organização da Vuelta olhava principalmente para o Giro — onde duas equipas já desistiram devido a casos positivos — para saber com o que contar. “Estamos preocupados desde março. Temos de reforçar as medidas e aprender com a experiência das outras corridas. O importante é detetar onde pode haver algum contágio. Hoje em dia não há limites à realização de testes e vamos resolvendo os incidentes se surgirem, porque é uma corrida flexível”, explicou Javier Guillén, o diretor da Vuelta. Certo é que, depois dos testes realizados este domingo, todos os 498 ciclistas do pelotão testaram negativo para a Covid-19 — já na sequência de um primeiro susto, em que foram detetados dois positivos no staff da Sunweb e da Bahrain-McLaren.

A etapa inaugural desta terça-feira contava então com um percurso de 173 quilómetros entre Irún e Arrate. Numa corrida em que os fugitivos nunca conseguiram cavar grandes distâncias para o pelotão, um dos grandes destaques acabou por ser a fragilidade de Chris Froome: numa subida de terceira categoria na primeira etapa da Vuelta, o britânico não conseguiu responder ao ritmo do grupo em que estava inserido, mostrou não ter força para manter o contacto e estava totalmente desligado do resto da equipa, que corria no topo do conjunto.

A pouco menos de 15 quilómetros do fim, Rui Oliveira e Rui Costa surgiam no grupo que liderava a corrida. Já dentro dos exigentes cinco quilómetros finais de subida, o conjunto da frente começou a partir e muitos ciclistas mostraram não ter andamento para responder ao ritmo admirável que Iván Sosa (INEOS), lá na frente, ia impondo — incluindo os dois portugueses. Nos últimos minutos, um grupo formado por Sosa, Roglic, Enric Mas e Sepp Kuss destacou-se na liderança e foi assistindo a ataques soltos de cada um.

No final, Roglic, o campeão em título, acabou por superiorizar-se à concorrência e venceu a primeira etapa da Vuelta, tornando-se também o primeiro a vestir a camisola vermelha depois da desilusão do Tour. O esloveno juntou-se assim ao compatriota Jan Tratnik, que venceu a etapa desta terça-feira do Giro, e ambos confirmaram que a Eslovénia é mesmo o país a ter em conta neste ano de ciclismo — principalmente depois da vitória de Pogacar em França. Richard Carapaz foi segundo, Daniel Martin, da Israel Start-Up Nation, fechou o pódio. Rui Costa foi o melhor português, ao terminar em 23.º.