O presidente da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (ARSLVT), Luís Pisco, disse em declarações à Rádio Observador que esteve reunido com os privados esta quarta-feira e denunciou que estes não mostraram disponibilidade para tratar as pessoas infetadas com Covid-19 em Lisboa. Até ao momento, os hospitais privados têm-se mostrado prontos para receber esses doentes, de forma a aliviar o Serviço Nacional de Saúde (SNS), mas agora Luís Pisco acusa os privados de inverterem essa posição.

Hospitais privados não estarão disponíveis para receber doentes Covid-19

Entretanto, esta quinta-feira de manhã, os maiores grupos privados do País já vieram reagir e desmentir as declarações do presidente da ARSLVT. A CUF garante que tem estado a apoiar o SNS no combate à pandemia, “quer com o tratamento de doentes com Covid-19, quer com o reforço na resposta aos cuidados de saúde gerais”, informando que atualmente os hospitais do grupo CUF têm treze doentes internados com o novo coronavírus, tendo internado, desde o início da pandemia, 173 doentes com Covid-19.

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O grupo hospitalar privado reafirmou ainda a sua disponibilidade para continuar a apoiar o SNS no tratamento de doentes Covid e não-Covid, mediante a sua capacidade, que está a ser avaliada, “mantendo-se a preocupação de continuar a garantir a resposta aos doentes não-Covid, o que é absolutamente fundamental para a população”, defende.

A CUF acrescenta ainda que tem vindo a aumentar a sua capacidade de resposta aos doentes não-Covid, tendo já retomado, desde maio, cerca de um milhão de consultas, mais de 500 mil exames, 90 mil urgências, 30 mil cirurgias, nove mil sessões de radioterapia e sete mil sessões de quimioterapia, “estando igualmente a apoiar o Serviço Nacional de Saúde na redução das listas de espera cirúrgicas, através do SIGIC – Sistema Integrado de Inscritos para Cirurgia, realizando uma média de 600 cirurgias por mês”.

Também através de comunicado, o grupo Luz Saúde começa por revelar que nunca foi sequer contactado pela ARSLVT sobre o assunto e acaba a garantir que a informação veiculada por Luís Pisco não corresponde à verdade: “Temos capacidade para receber doentes Covid-19 e não-Covid. A informação de que os grupos privados, nomeadamente a Luz Saúde, não demonstraram interesse em receber doentes Covid do SNS não corresponde à verdade”.

De acordo com o texto enviado ao Observador, a ARS Norte terá sido a única que já questionou o grupo a propósito da sua capacidade de internamento — sendo que, no caso, a pergunta diria respeito apenas ao Hospital da Luz Arrábida.

Apesar da disponibilidade, o grupo Luz Saúde não avança números concretos sobre a capacidade das suas unidades — “A resposta depende das necessidades concretas que o Estado identificar e que variam naturalmente de região para região” — e revela que em setembro solicitou uma reunião a Diogo Serras Lopes, Secretário de Estado da Saúde, que deverá ter lugar “nos próximos dias”.

“Esperamos vir a ter uma clarificação relativamente às necessidades concretas do SNS no atual contexto de evolução da pandemia e como poderá o Grupo Luz Saúde integrar o plano de contingência do Ministério da Saúde em cada momento”, diz o comunicado, a propósito do encontro.

Associação Portuguesa de Hospitalização Privada: Presidente da ARSLVT tem “posicionamento pouco institucional e nada adequado ao momento sério que o SNS atravessa”

A Associação Portuguesa de Hospitalização Privada (APHP), que na quarta-feira se reuniu com a Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (ARSLVT), também veio dizer entretanto, em resposta enviada à Lusa, que “em momento algum os hospitais privados recusaram colaboração” e que ficou decidido que a ARSLVT os informaria do plano que teria, para analisarem “em que termos os hospitais privados deveriam intervir”.

“A declaração do presidente da ARS Lisboa e Vale do Tejo, num posicionamento pouco institucional e nada adequado ao momento sério que o SNS atravessa contrasta, aliás, com o que tem acontecido com outros dirigentes”, critica a APHP.

A associação diz que a disponibilidade dos hospitais privados se mantém e insiste que, “tal como os portugueses, [os hospitais privados] desconhecem a existência de qualquer plano de atuação” e que “sem esse instrumento não é possível tomar decisões”.

“Os hospitais privados estão a desenvolver a sua atividade com normalidade e, se for necessário afetar recursos de outra forma, por conveniência e necessidade do sistema de saúde, terá então de se reorganizar as estruturas de acordo com o plano que estiver definido”, refere a nota.

Criticando a posição assumida publicamente pelo presidente da ARSLVT, a APHP lembra que, no caso da ARS Norte, por exemplo, “houve solicitação da capacidade instalada e tem havido diálogo com os prestadores no sentido de encontrar soluções para problemas concretos. Refira-se também que a Entidade Reguladora da Saúde inquiriu os hospitais privados sobre a capacidade instalada e essa informação foi atempadamente remetida”, acrescenta.

Os privados recordam ainda que, no âmbito da pandemia de covid-19, “cederam ventiladores, cumpriram as diretivas da DGS em relação às cirurgias não urgentes e às consultas planeadas, remeteram informação sobre capacidade instalada, reservaram camas a pedido de hospitais do SNS”.

Dizem ainda que têm estado a recuperar a atividade que não pôde ser realizada no período do confinamento e que, “tendo mantido a oferta, estão a permitir a redução da carga sobre o SNS, ao mesmo tempo que contribuem de forma ativa para a realização de centenas de testes COVID e para a atividade cirúrgica de doentes do SNS”.

Sobre a posição assumida pelo presidente da ARSLVT, a associação afirma: “Esta descoordenação detetada torna evidente que deve ser o Ministério da Saúde a centralizar os contactos, sem ruídos localizados que provoquem os mal entendidos como o de ontem, a estabelecer o plano de atuação para a covid e a resposta aos doentes não-covid e a definir em que termos pretende que os hospitais privados deem a sua colaboração”.

“Disponibilidade existe, mas a sua efetivação depende de uma proposta concreta por parte do Ministério da Saúde”, afirmam.

Os privados viram-se envolvidos, em abril, numa polémica sobre o pagamento dos custos dos doentes que a eles recorreram, sem terem sido reencaminhados pelo SNS, no âmbito da pandemia de covid-19.

Na altura, quando confrontada sobre este assunto, a ministra da Saúde esclareceu que o Estado só asseguraria os custos dos tratamentos dos doentes encaminhados pelo SNS.