A Associação Portuguesa de Defesa de Obras Audiovisuais (FEVIP) alertou esta quinta-feira que mais de metade das salas de cinema pode encerrar até ao final do ano se não houver mecanismos de apoio face à pandemia da covid-19.

“Estamos a atravessar um período negro, de que ninguém tem culpa e temos de encontrar soluções, todos, que nos permitam ultrapassar isto, sob pena de fechar”, afirmou à agência Lusa o diretor-geral da FEVIP, António Paulo Santos.

Segundo resolução do Conselho de Ministros, que entrou em vigor na quarta-feira, os equipamentos culturais — incluindo as salas de cinema — situados nos 121 concelhos de Portugal continental sujeitos ao confinamento parcial passam a encerrar às 22:30.

A decisão abrange grande parte das 544 salas de cinema do circuito de exibição, já que estão concentradas sobretudo nos distritos de Lisboa (144), Porto (90), Setúbal (48) e Braga (40), segundo dados do Instituto do Cinema e Audiovisual (ICA).

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“Se estas empresas encerrarem, e estamos a falar de mais de 50% das salas de cinema que podem encerrar até ao final do ano, deixamos de ter uma oferta eclética e cultural a nível do território nacional e que os portugueses gostam de ver”, alertou o diretor-geral da FEVIP.

Para responder a este encerramento, as exibidoras suprimiram as últimas sessões diárias ou anteciparam horários para cerca das 20:00, o que, no entender da FEVIP, afeta “a única sessão que era lucrativa”.

António Paulo Santos não põe em causa a decisão do Governo, embora a considere incongruente, porque tanto apela aos portugueses para ficarem em casa como garante que a atividade cultural continua a realizar-se, mas apenas até às 22:30.

“Esta incongruência tem reflexos e é perversa — não estou contra o Governo –, mas tem que se pensar no ecossistema todo. […] Encerra-se e agora vamos encontrar medidas de apoio ao setor, para que quando reabrir continue a funcionar e para que permita subsistir no período de encerramento”, disse.

António Paulo Santos recorda os “custos elevadíssimos” da exibição em Portugal e pede medidas como financiamentos com taxas de juro baixa para as empresas exibidoras e uma aplicação efetiva da flexibilização de rendas de aluguer de espaços, a maioria em centros comerciais.

“Não há apoios para o cinema, podem recorrer ao ‘lay-off’, há legislação para rendas flexíveis, mas não se consegue aplicar na prática, e estamos a falar de rendas de mais de cem mil euros por mês. Para ter uma ideia, se eu passar um filme numa sala, só em luz gasto à volta de três mil euros. Normalmente numa sala de cinema atualmente se fizer 500 ou 600 euros de bilheteira é muito”, exemplificou.

De acordo com os dados mais recentes do Instituto do Cinema e Audiovisual (ICA), até setembro registaram-se quebras de 71%, face a 2019, tanto em número de espectadores como em receita de bilheteira nas salas de cinema, sobretudo desde março.

A recuperação de receitas e espectadores tem sido gradual, mas muito aquém das estatísticas do ano passado.

Segundo o ICA, até setembro as salas de cinema registaram 3,2 milhões de espectadores, quando no mesmo período de 2019 tinham sido 11,5 milhões.

Da associação FEVIP – que não representa a totalidade das exibidoras e distribuidoras portuguesas – são membros a Big Pictures 2 Films, a Cinemundo, a NOS Lusomundo Audiovisuais, a NOS Comunicações, a Pris Audiovisuais, a SportTV, a Lanterna de Pedra Filmes, a Associação de Empresas Produtoras e Distribuidoras de Videojogos e a Associação para a Gestão de Direitos de Autor, Produtores e Editores.

A agência Lusa também tentou, sem sucesso em tempo útil, obter esclarecimentos por parte da Associação Portuguesa de Empresas Portuguesa de Empresas Cinematográficas.