A curto prazo, os futuros Mercedes não irão além do nível 3 de condução autónoma, que vai ser estreado no novo Classe S. Significa isto que, para já, a marca da estrela opta por ficar quase a meio da “tabela” definida pela Sociedade de Engenheiros Automóveis (SAE), cujas normas diferenciam cinco patamares de automatismo até que seja possível entregar por completo o volante à “máquina”.

O nível 3 fica a meio caminho entre a automatização parcial e a alta automatização, pelo que o sistema é condicional, isto é, pode assumir o controlo do veículo em situações de trânsito intenso, mas está previsto que solicite “ajuda” em situações pontuais. Ou seja, nada de prescindir da intervenção do condutor.

Esta decisão rompe com o rumo encetado pelo anterior líder do grupo alemão, Dieter Zetsche, que sempre viu com bons olhos o investimento na condução 100% autónoma como forma de diferenciar tecnologicamente os modelos da marca da estrela.

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Ora, depois de a Mercedes ter canalizado milhares de milhões para o desenvolvimento da tecnologia, agora Källenius vem dizer que isso não é uma prioridade, pese embora a condução autónoma seja apontada como o caminho certo para incrementar a segurança rodoviária, por um lado, e, por outro, potenciar negócios como o car-sharing. Para o fabricante alemão, o busílis da questão não está no primeiro ponto, mas sim no segundo. Isto porque apostar neste negócio, in extremis, levaria a uma redefinição da importância do título de propriedade. Afinal, para quê comprar um carro e suportar os custos que lhe são inerentes, quando se pode ter acesso a uma série deles e escolhê-los até em função das intenções do condutor, seja um jipe para um fim-de-semana de aventura, um descapotável para ir à praia ou uma berlina mais estatutária para um encontro formal.

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A Mercedes deve afirmar-se como “um fabricante de automóveis e não um fornecedor de serviços de mobilidade”, adiantou um porta-voz da companhia à imprensa alemã. Por isso, a braços com um severo plano de cortes, o CEO da Daimler deixa para outros o desenvolvimento de veículos 100% autónomos. Segundo declarações à Redaktionsnetzwerk Deutschland, a marca volta às origens e desiste de, por exemplo, ter uma frota de robôs-táxi, pois “os accionistas esperam lucros” e “é impossível ganhar dinheiro com ofertas como o car-sharing”. Portanto, a marca não vai “entrar numa corrida que não pode ganhar”.

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Quando tinha a ambição de vencer, recorde-se, a Mercedes chegou até a aliar-se à BMW, fundando uma empresa para trabalhar especificamente neste campo. Só que a actividade da DAX, assim era chamada, foi encerrada este ano. Deduz-se agora quem terá “roído a corda”. Ainda assim, o construtor de Estugarda está a trabalhar com a Bosch para desenvolver e testar software que habilite sistemas de nível 4.

Nos camiões, a lógica parece ser distinta, pois a Mercedes anunciou recentemente que vai trabalhar com tecnologia da Waymo, a divisão de condução autónoma da Google. Pode ser que veja aí, na aquisição de tecnologia chave-na-mão, uma maior possibilidade de alcançar os tão ambicionados lucros desejados pelos accionistas.