Conduziu o número 44 da Mercedes até ao lugar que lhe era destinado, aquele que já lhe é natural: o do vencedor. À frente, porém, o número 1 não era branco como habitualmente, não era igual ao dos restantes ocupantes do pódio como habitualmente, não dizia apenas winner. Era dourado, destacava-se e dizia world champion. Pela sétima vez na carreira, pela sétima vez em 12 anos, Lewis Hamilton conduziu até à placa que dizia world champion. Tirou um momento para ficar sozinho no carro, foi cumprimentado por Vettel, ainda tinha as lágrimas a escorrer quando tirou o capacete. Baixou a cabeça, subiu para cima do monolugar e levantou os braços. Era campeão do mundo mais uma vez.

As imagens do piloto inglês nos minutos que se seguiram ao momento em que igualou os sete títulos de Michael Schumacher já correram o mundo. Foi a história do dia, do fim de semana, dos próximos dias. Lewis Hamilton partiu de sexto no Grande Prémio da Turquia, criticou a pista de Istambul durante toda a qualificação, conseguiu ganhar a corrida e nem precisou de se preocupar com Valtteri Bottas para garantir a conquista do Mundial a três etapas do fim. Fez com que um jogo de pneus durasse 50 voltas, teve uma exibição praticamente perfeita debaixo de chuva e foi simplesmente melhor do que os outros. Algo que nem o próprio consegue negar.

Como Schumacher nos títulos, como Senna no impacto, único nas causas: Lewis Hamilton, um fenómeno à parte na Fórmula 1

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“Quero mais fins de semana destes, mais condições complicadas como estas. Quantas mais oportunidades como estas tiver, mais possibilidades tenho de mostrar aquilo que sou capaz de fazer. Hoje, mereço o meu próprio respeito. Os meus pares sabem o quão difícil este dia foi. Eles sabem que não é o carro. Não poderia ter feito isto com um incrível grupo de pessoas que está atrás de mim mas há outro piloto ótimo que tem o mesmo carro e que hoje não acabou onde eu acabei”, disse Hamilton depois da corrida, recordando que Bottas também tem um Mercedes e só conseguiu cruzar a meta em 14.º.

Com o sétimo título assegurado, tanto para o piloto como para a Mercedes, as duas partes já deixaram de lado o suspense e assumiram que a renovação de contrato está bem encaminhada — um acordo que deve chegar a 40 milhões de libras. Hamilton também tocou no assunto este domingo e garantiu que quis deixar claro que merecia mais anos na Fórmula 1 com uma série de performances acima da média nesta reta final de campeonato. “Há dias em que pensas: ‘O que é que acontece se eu começar a cometer erros ou se ficar pior? O meu poder de negociação diminui, a minha reputação cai por um penhasco?’. Há cenários na vida em queremos assinar rápido e assegurar o futuro. Mas eu aposto em mim mesmo. Conheço-me melhor do que qualquer outra pessoa, melhor do que nunca. Quis deixar o contrato de lado e esperar até o trabalho estar feito. Agora temos três corridas no Médio Oriente e são três corridas que quero ganhar. Mas vamos assinar o contrato, tenho a certeza disso”, explicou o inglês. Ou seja, e em resumo, Hamilton é desde já candidato a superar o recorde de Schumacher em 2021, depois de o ter igualado este ano, e a tornar-se o líder isolado de vitórias em Mundiais de Fórmula 1.

Chegou a hora H, o dia que todos pensámos ser só daqui a décadas: Lewis Hamilton é novamente campeão do mundo e iguala recorde de Schumacher

O piloto de 35 anos comentou ainda o facto de Peter Hain, o vice-presidente do grupo parlamentar britânico que representa a Fórmula 1, ter anunciado que vai endereçar a Boris Johnson a recomendação de que Lewis Hamilton seja condecorado Cavaleiro da Ordem do Império Britânico — ou seja, que passe a ser um Sir. “Quando penso nessa honra, de ser Cavaleiro, penso em pessoas como o meu avô, que serviram na Guerra. O capitão Tom Moore esperou 100 anos por essa grande honra. E depois temos os médicos e enfermeiros que estão a salvar vidas durante o período mais difícil de sempre. Penso nestes heróis não celebrados e não olho para mim como um herói não celebrado. Não salvei ninguém. É uma honra incrível que só um número pequeno de pessoas vê concedida”, atirou.

Direto e pragmático como sempre, Lewis Hamilton só foi emotivo como nunca quando falou precisamente sobre o que acabou de alcançar — mas até aí decidiu deixar o foco da atenção numa causa maior. “É o pináculo da minha vida até agora. Mas há uma vitória muito maior para a qual todos temos de trabalhar juntos. Trata-se de insistir na igualdade, para criarmos um futuro melhor. Tivemos uma espécie de acordar este ano e as pessoas estão a começar a ser responsabilizadas e a responsabilizar-se e a entender que isso não é uma coisa má. Só significa que temos de trabalhar mais e não ser tão teimosos e abrir mais as nossas mentes e educar-nos um bocadinho melhor para insistirmos num mundo mais justo. Não vou parar de lutar por isso e depois nos meus tempos livres talvez vá continuando a correr durante algum tempo”, concluiu, em jeito irónico, o piloto da Mercedes.