A atuação da polícia durante o desmantelamento de um acampamento improvisado de migrantes no centro de Paris na noite de segunda-feira está a gerar críticas e indignação, tendo o Governo francês pedido um relatório sobre os incidentes registados.

Na segunda-feira à noite, a polícia dispersou algumas centenas de migrantes e ativistas que tinham montado um acampamento improvisado com dezenas de pequenas tendas numa praça no centro da capital francesa, numa ação que pretendia reivindicar nomeadamente alojamentos de emergência.

Após terem derrubado as tendas, as forças policiais recorreram a gás lacrimogéneo e a granadas atordoantes para dispersar as pessoas, tendo perseguido algumas dessas pessoas pelas ruas. Existem relatos que algumas foram agredidas com bastões.

Ainda na noite de segunda-feira, e através da rede social Twitter, o ministro do Interior francês, Gérald Darmanin, classificou as imagens do desmantelamento do acampamento como “chocantes” e pediu “um relatório detalhado” sobre os incidentes ao prefeito da polícia de Paris, Didier Lallement.

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Segundo as agências internacionais, a polícia de Paris esclareceu que o acampamento foi desmantelado porque era ilegal e que “convidou” os migrantes a procurarem alojamento em locais disponibilizados pelo Estado ou por organizações de ajuda.

Esta terça-feira de manhã, as ministras da Cidadania e da Habitação francesas, Marlène Schiappa e Emmanuelle Wargon, respetivamente, defenderam um apoio “sem demora” para estes migrantes que estão novamente a vaguear nas ruas parisienses após o desmantelamento do acampamento improvisado.

As duas ministras mobilizaram as administrações estaduais para que soluções de atendimento sejam encontradas sem demora para estas pessoas em situação de angústia”, indicou um comunicado assinado pelas duas representantes.

A atuação das forças policiais está a gerar críticas e a indignação de vários setores da sociedade, nomeadamente de partidos ecologistas e de esquerda, indicatos e de associações que fornecem ajuda a migrantes, que denunciaram “imagens chocantes” e uma “deriva liberticida”.

Várias organizações estão esta terça-feira a trabalhar para tentar encontrar uma solução de alojamento temporário para estes migrantes, entre 200 e 300 pessoas, retirados à força do acampamento improvisado.

A maioria dos migrantes que estavam neste acampamento são oriundos do Afeganistão, da Somália e da Eritreia.

Segundo Corinne Torre, chefe da organização Médicos Sem Fronteiras em França, alguns destes migrantes tiveram o seu pedido de asilo rejeitado, enquanto outros estão num limbo burocrático enquanto tentam requerer o pedido de asilo.

Este acampamento improvisado foi montado no centro da capital francesa uma semana depois da polícia ter desmantelado um grande acampamento de imigrantes em situação irregular erguido junto do Estádio de França, na zona norte de Paris, onde mais de 2.000 pessoas se fixaram gradualmente desde agosto.

Os incidentes envolvendo a polícia parisiense surgem numa altura em que o Parlamento francês vai votar, previsivelmente esta terça-feira, um projeto-lei que visa expandir alguns poderes e fornecer uma maior proteção às forças policiais.

Por exemplo, prevê que a publicação de imagens de agentes policiais com a intenção de prejudicá-los passe a ser crime, uma medida que gerou fortes protestos por parte das organizações de defesa das liberdades civis e da liberdade de imprensa.