As exportações portuguesas de calçado caíram 22,4%, para abaixo dos 800 milhões de dólares (672 milhões de euros), no primeiro semestre deste ano face ao mesmo período de 2019, penalizadas pela pandemia, segundo o relatório “International Footwear Trade”.

De acordo com o relatório “International Footwear Trade 1st Semester: The Impact of the Pandemic” — que, com os dados disponíveis até setembro, analisou a evolução em contexto pandémico do comércio mundial de calçado nos primeiros seis meses do ano – também as importações portuguesas de calçado recuaram significativamente (-30%), para o valor mais baixo dos últimos cinco anos, somando 261 milhões de dólares (cerca de 219,2 milhões de euros).

A quebra das vendas de calçado português para o exterior ficou, ainda assim, abaixo da diminuição homóloga global de 31,1% (menos 17 mil milhões de dólares, cerca de 14,3 mil milhões de euros) registada até junho nas exportações do setor a nível mundial e que “refletiu a disseminação da pandemia de Covid-19 por todo o globo”.

De acordo com o relatório, o calçado de couro — que representa a maior parte das exportações portuguesas de calçado — foi o que sofreu a maior quebra nas vendas nacionais em termos absolutos (menos 191 milhões de euros). Em termos relativos, este segmento vinha já sofrendo um ligeiro recuo nos três anos anteriores (de -1,5%), mas muito inferior à quebra de 22,7% registada no primeiro semestre de 2020.

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Em contraciclo, as exportações portuguesas de calçado à prova de água (‘waterproof’) aumentaram significativamente (+13,8%) nos primeiros seis meses do ano, embora continuem ainda a responder por menos de 3% do total das exportações do setor.

O relatório precisa que as exportações portuguesas de calçado caíram “de forma abrupta” em março e “quase paralisaram” em abril, somando apenas 50,9 milhões de dólares (cerca de 42,8 milhões de euros), equivalendo a 27,4% do valor registado em janeiro (185,6 milhões de dólares, cerca de 155,9 milhões de euros).

Esta tendência inverteu-se nos meses de maio e junho, com um aumento de 176,2%”, refere, acrescentando que, ainda assim, em junho as exportações portuguesas de 140,6 milhões de dólares (cerca de 118 milhões de euros) representaram apenas 75,8% dos valores de janeiro.

Os mercados da Alemanha e da Dinamarca, que apresentaram quebras nas exportações de cerca de 15%, foram os que melhor desempenho tiveram entre os mercados externos do calçado português, enquanto as vendas para Espanha, pelo contrário, registaram o dobro da quebra (30%).

A nível global, o relatório aponta um declínio acima dos 25% nas exportações mundiais de todos os segmentos de calçado, destacando-se o recuo das exportações de calçado de pele (-32,7%) e das vendas para o exterior por parte da China, que é o maior exportador mundial do setor e registou uma quebra homólogas nas exportações na ordem dos 30,4%.

A situação deteriorou-se continuamente nos primeiros meses do ano, atingindo os mínimos em abril, mês em que as exportações representaram apenas 42% do valor registado em janeiro”, nota, acrescentando que “houve uma significativa recuperação nos meses seguintes mas, em junho, as exportações ainda não tinha chegado a 80% das registadas no primeiro mês de 2020”.

Entre os vários países exportadores de calçado, a Polónia destaca-se por ter registado uma quebra de apenas 2% no primeiro semestre, uma “performance notável, em linha os ótimos resultados obtidos por este país nos últimos anos, cujas exportações cresceram a uma média anual de 25,4%”.

Já os outros principais exportadores apresentaram quebras que variaram entre os -12,7% da Bélgica aos -27,1% de Itália, país que é o segundo maior exportador mundial de calçado.

As exportações da Turquia caíram menos do que as de outros países produtores de calçado, sendo que, em fevereiro, ainda estavam em trajetória de crescimento, “possivelmente em resultado do redireccionamento de encomendas que estavam destinadas a outros países atingidos mais cedo pela pandemia”.

Contudo, lê-se no relatório, embora tenham sido menos impactadas, as exportações turcas de calçado parecem estar agora a recuperar a um ritmo mais lento do que as de outros países.

Do relatório resulta ainda que os mercados asiáticos “parecem ter resistido à pandemia melhor do que a Europa e a América”: “As importações da Coreia caíram apenas 2,8% no primeiro semestre e as da China até aumentaram, em 2,3%. Em vários países asiáticos, as importações contraíram-se significativamente em fevereiro, mas desde então que não evidenciam uma tendência definida”, refere.

Em outras zonas do mundo, “registou-se um declínio contínuo até abril e, nalguns casos, até maio, tendo só depois começado a surgir os primeiros sinais de recuperação”.