A China rejeitou o pedido do primeiro-ministro australiano, para que o país pedisse desculpa por um tweet feito pelo porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês. Na publicação, Zhao Lijian acusa a Austrália de crimes de guerra praticados no Afeganistão, aludindo à morte de civis.

“Chocado com assassinato de civis e prisioneiros pelos soldados australianos. Condenamos veemente estes atos e exigimos que sejam responsabilizados”, lê-se no tweet.

https://twitter.com/zlj517/status/1333214766806888448?s=20

Na manhã desta segunda-feira, o primeiro-ministro australiano tinha mostrado o seu desagrado para com a publicação, exigindo a sua eliminação e um pedido de desculpas por parte do Governo chinês. “O Governo chinês deveria sentir-se totalmente envergonhado com esta mensagem. Diminui-os aos olhos do mundo”, disse Morrison.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Scott Morisson sublinhou ainda que a publicação “é totalmente escandalosa e não pode ser justificada”, e disse ter contactado o Twitter para “imediatamente” remover a mensagem que contém uma “imagem falsa e uma calúnia terrível sobre as nossas forças de defesa e os homens e mulheres que serviram naquele uniforme durante mais de 100 anos”.

O tweet, publicado na madrugada desta segunda-feira pelo porta-voz dos negócios estrageiros chinês, é acompanhado de uma fotografia em que é possível ver um soldado com uniforme e capacete com uma bandeira australiana, segurando uma faca ensanguentada no pescoço de uma criança, que segura uma ovelha. No que o The Guardian chama de “imagem digitalmente alterada”, é também possível ver uma grande bandeira australiana a cobrir aquilo que parecem figuras humanas, ao lado da bandeira do Afeganistão, composta por puzzles.

A publicação de Zhao Lijian segue-se à admissão da Austrália, a 19 de Novembro, de que o seu exército matou 39 civis e prisioneiros afegãos entre 2005 e 2016 durante o seu destacamento para o Afeganistão.

O chefe do Exército australiano, Rick Burr, disse na sexta-feira que 13 soldados foram notificados da sua expulsão, sem detalhar se estão entre os acusados, depois de terem sido investigados os crimes de guerra cometidos pelos militares.

Hu Xijin, o editor do jornal estatal chinês Global Times, defendeu o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, também através do Twitter.

“É uma caricatura conhecida que condena a morte brutal de 39 civis afegãos pelas Forças Especiais australianas”, disse Hu.

“Por que é que Morrison está zangado com a utilização que o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros faz da caricatura? É ridículo e embaraçoso que ele exija um pedido de desculpas da China”, reagiu.

As relações diplomáticas entre Camberra e Pequim deterioraram-se significativamente devido a várias declarações de responsáveis políticos, tensões comerciais entre as duas nações e medidas políticas promovidas pela Austrália.

“Há certamente tensões entre a China e a Austrália, mas esta não é a forma de as enfrentar”, disse Morrison na sua mensagem.

A Austrália vetou as empresas chinesas Huawei e ZTE de concederem concessões para a sua rede de quinta geração (5G) em 2018 por razões de segurança, e exerceu pressão legislativa para evitar interferências políticas estrangeiras, sem se referir diretamente à China.

Na frente comercial, onde o gigante asiático é o principal parceiro comercial da Austrália, Pequim aumentou os direitos de importação sobre vários produtos australianos.

Os dois países também mantêm profundas diferenças ideológicas e discordam em questões como os direitos humanos ou a militarização e a livre navegação no disputado Mar do Sul da China.