A Argentina vai debater esta quarta-feira a legalização do aborto, dias depois a um mediático caso ter abalado o país. Uma adolescente institucionalizada de 12 anos, grávida de gémeos após ter sido violada, foi impedida de abortar em Jujuy, no noroeste do país sul-americano.

E há ainda mais um detalhe que está a gerar revolta: o hospital materno-infantil Héctor Quintana preparou a jovem para “uma maternidade forçada” — realizaram uma cirurgia de “maturação fetal” e prepararam-na para uma cesariana, denuncia a Rede Direito a Decidir.

A legislação argentina permite o aborto em certas situações, reguladas pelo ILE (Interrupção Legal da Gravidez), sendo que, à luz da lei, neste caso, a jovem poderia ter abortado. A associação feminista Direito a Decidir acusa as autoridades de saúde de locais de “não garantirem o direito da jovem ao ILE” e de não preservarem a “saúde física e emocional da jovem”. E a rede frisa que não foi a primeira vez que o Ministério da Saúde argentino obstaculizou o acesso de adolescentes ao aborto.

Tendo em conta o altíssimo risco obstétrico e vital que corre uma jovem grávida sendo menor de 13 anos, somado às consequências psicoemocionais que podem gerar quando dá à luz algo que foi imposto violentamente sobre o seu corpo e a sua vida, reafirmamos que se trata de uma maternidade forçada”, afirma a associação.

A jovem, que vive na cidade de Monterrico, está sob responsabilidade da provedoria de justiça de menores da Argentina, uma vez que não conta com o apoio dos progenitores ou de uma “rede social que a acompanhe” devidamente, relata ainda a Rede Direito a Decidir. “É o estado que tem tornado esta jovem vulnerável porque ela está absolutamente sozinha, por não existir um adulto responsável no caso, é uma situação extrema”, alerta a associação.

A Câmara dos Deputados da Argentina vai esta quarta-feira discutir a legalização da interrupção voluntária da gravidez que permite a “mulheres e outras pessoas com identidades de género diversas com capacidade de gestionar” abortar até à 14.ª semana e que vai muito mais além da lei atualmente em vigor.

Também esta quarta-feira realiza-se uma vigília em Jujuy convocada pela Rede Direito a Existir a apoiar o processo de legalização do aborto.

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