O Polo Arqueológico de Viseu afirmou este sábado que “nenhum troço da muralha afonsina foi demolido” no decorrer das obras na zona histórica da cidade, refere um comunicado, contrariando o relatório que a vice-presidente da Câmara citou aos jornalistas.

A Câmara Municipal de Viseu enviou este sábado um comunicado de imprensa que cita um “esclarecimento do Polo Arqueológico de Viseu, produzido em conjunto com a equipa de arqueólogos responsável pelo acompanhamento da obra”.

A requalificação em causa, continua o documento, “previa a demolição das construções que existiam no local: duas casas, muito arruinadas, construídas entre a 2.ª metade do século XIX e os inícios do século XX, com acesso a partir da Rua Cónego Martins e logradouro acessível a partir da Travessa D. Zeferino”.

“Durante a demolição verificou-se que parte das construções do século XIX/XX tinham sido construídas diretamente sobre um troço da Muralha Afonsina, aproveitando a construção mais antiga como alicerce e parede”, refere o relatório dos arqueólogos, citado no comunicado de imprensa enviado pela autarquia.

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Neste sentido, continua a nota, “os arqueólogos confirmam assim que apenas aquelas construções foram demolidas” e esclarecem que “face a dúvidas levantadas na semana passada sobre a muralha afonsina, que nenhum troço daquela estrutura secular foi demolido durante as obras que se estão a realizar no Centro Histórico de Viseu”.

“Aliás, foi a presença de uma equipa de Arqueologia, exigida por lei e pelo Município de Viseu, que, durante a demolição das construções mais recentes, permitiu a identificação e preservação de mais um achado arqueológico de enorme valor”, refere.

Na quinta-feira, a vice-presidente da Câmara de Viseu reconhecia aos jornalistas, após a reunião do executivo e tendo em conta as acusações de um vereador da oposição (PS), Pedro Bailla Antunes, que “foi efetuada uma demolição parcial do muro ou troço da muralha”.

“Não obstante, e conforme foi referido pela equipa de arqueologia, não se sabia à data que seria efetivamente um troço da muralha”, reconheceu, na quinta-feira, Conceição Azevedo, após “pesquisa no processo” para reagir às acusações da oposição.

“Efetivamente, aquilo que dizem que foi destruído, como também diz o relatório de arqueologia, é que quando se estava a proceder às obras não se tinha percebido que aquilo era, de facto, que o que estava ali em causa, era um troço da muralha afonsina e isso foi dito pela equipa de arqueologia”, justificava.

Conceição Azevedo acrescentava ainda que, em “uma das construções a muralha não é muito expressiva” e “aquilo parecia quase um muro, uma construção normalíssima”, enquanto “na outra não, a muralha é muito expressiva”.

O comunicado enviado este sábado pela autarquia, com os esclarecimentos do Polo de Arqueologia, esclarece que “foram estes trabalhos de remoção das paredes do século XIX/XX, que permitiram identificar e manter todo o troço da Muralha Afonsina”.

O documento refere que, com isso, foi possível “realizar uma escavação com vista a recolher informação que permitisse caracterizá-la mais detalhadamente”, o que “permitiu colocar a descoberto um troço da Muralha Afonsina com dois lances que formam uma esquina”.

“O troço de Muralha Afonsina identificado no âmbito da obra foi integralmente registado e preservado. Foi a presença de uma equipa de arqueologia durante a demolição das construções mais recentes que permitiu a sua identificação”, explica a equipa do Polo Arqueológico de Viseu, na nota de imprensa enviada pela Câmara.