Os chineses controlam de forma apertada todo o tipo de informação que circula no país, especialmente a que possua interesse estratégico ou militar, e são ainda exímios a espiar a sua própria população, com sistemas de inteligência artificial para identificar tudo e todos. Mas daí a aceitar que os automóveis modernos filmem tudo à sua volta, informação de que necessitam para fazer funcionar os seus sistemas de ajuda à condução semi-autónomos, vai um passo gigantesco que não querem dar.

De acordo com o The Wall Street Jounal, o Governo chinês não quer que os seus funcionários, bem como os militares, conduzam veículos fabricados pela Tesla. A questão gira em torno da capacidade de o sistema Autopilot recorrer às oito câmaras exteriores para registar tudo o que acontece em torno do veículo, não só para resolver a situação que tem pela frente, como para aprender a lidar melhor com situações futuras. E se esta realidade hoje é uma particularidade da Tesla, que tem um sistema de ajuda à condução mais sofisticado, vai – esperamos que em breve – estender-se aos restantes construtores europeus e americanos.

Mas há outros detalhes a que a Bloomberg também deu eco, que se prendem com a câmara interior nos Model 3 e Model Y, destinada a determinar o grau de atenção do condutor quando a circular com o Autopilot e a impedir que durma ou mude para o banco traseiro para estar mais à vontade, enquanto usa um peso para enganar o sistema de assistência à condução.

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Apesar de esta câmara interior ter permitido à Tesla afastar alguns dos condutores que se voluntariaram para testar a versão beta do chamado Full Self-Driving, por não dedicarem suficiente atenção ao sistema, a Tesla garante que não está activa nos restantes veículos. Mas os chineses não querem que ela permita identificar quem vai ao volante e, muito menos, quem está a bordo. Porém, abundam os modelos da concorrência que filmam a cara do condutor, de forma a identificar para onde está a olhar e com que atenção, para determinar o seu grau de cansaço.

Confrontado com a proibição e face à situação de privilégio de que usufrui na China, pois a Tesla é o único construtor estrangeiro autorizado a ser proprietário da sua própria fábrica (todos os restantes foram obrigados a aceitar um sócio ligado ao estado que controla 50% do capital), Elon Musk prometeu analisar a situação. Especialmente depois de se ter tornado público que um grupo de hackers teve acesso a imagens recolhidas por 222 câmaras dentro da Gigafactory Xangai. A esta acusação a Tesla respondeu que as imagens estavam guardadas em servidores chineses e que o acesso foi realizado a partir de um fornecedor local, também ele chinês.

Ainda assim, a partir deste mês, os carros da Tesla estão proibidos de entrar em instalações oficiais ou militares chinesas, com os seus condutores a serem obrigados a estacionar no exterior. Veja aqui como funciona o Full Self-Driving, ainda em fase de protótipo, mas a ser testado por cerca de 2000 clientes.