O Liverpool até começou relativamente bem a temporada, andou na liderança da Premier League mas acabou por afundar-se por uma série de razões que foram mexendo de forma crescente com a equipa, das ausências no eixo central recuado (Van Dijk, Joe Gomez, Matip, depois os adaptados Fabinho e Henderson) às muitas lesões no plantel, passando pela quebra do rendimento ofensivo também pela longa ausência de Diogo Jota ao desgaste físico de um calendário demasiado denso que nunca olhou a quem estava ou não disponível. Tudo isso e mais algumas coisas explicam as dez derrotas em 20 encontros realizados no ano civil de 2021 e ajudam a perceber a “ressaca” depois dos títulos europeu e nacional. No entanto, havia aparentes sinais de retoma, com três triunfos consecutivos como não acontecia desde outubro. Chegou Madrid, caiu tudo. E de forma retumbante. 

LeBron pode tapar o buraco financeiro mas ninguém tapa aquele buraco na defesa: Real vence Liverpool com bis de Vinícius

Durante 45 minutos, o Liverpool foi verdadeiramente atropelado pela estratégia dos espanhóis, que abdicaram de Asensio para reforçar o meio-campo com Valverde deixando mais soltos na frente Vinícius e Benzema, e não conseguiram fazer sequer um remate à baliza de Courtois, saindo a perder por 2-0 ao intervalo num resultado que era até simpático perante mais uma bola no poste e outras duas oportunidades flagrantes. Depois, entre a melhoria dos ingleses, o golo de Salah deu alguma esperança apesar da derrota por 3-1, abrindo ainda mais o apetite para um jogo sempre histórico e que prometia ser um dos mais emotivos dos quartos mas que começou da pior forma, com uma cena há muito ausente nos principais países europeus até pela ausência de adeptos.

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Na chegada a Anfield, o autocarro do Real Madrid foi apedrejado por alguns adeptos entre as centenas de reds que se concentraram nas ruas perto do estádio, entre potes de fumo vermelhos e cânticos que deveriam ser apenas de apoio à equipa da casa mas que se manifestaram também contra a comitiva espanhola. Não houve feridos mas os efeitos do ataque ficaram bem visíveis, com alguns responsáveis a limparem os estilhaços dos vidros. Isto no dia em que, por antecipação, dezenas de adeptos passaram por Anfield para recordar a tragédia de Hillsborough que aconteceu faz amanhã 32 anos e vitimou um total de 96 pessoas antes de uma meia-final da Taça de Inglaterra entre os reds e o Nottingham Forest em Sheffield, na maior tragédia do futebol inglês.

“É uma pena que aconteçam estas situações, hoje é uma festa para o futebol. É um dos melhores jogos que qualquer adepto pode ver no mundo e é lamentável. Os dirigentes do Liverpool já nos pediram desculpas”, disse Emilio Butrageño, antigo mítico avançado do Real que é agora diretor de relações institucionais do clube. “Só temos de condenar de forma inequívoca as ações que provocaram os estragos no autocarro do Real Madrid na sua chegada a Anfield. É um comportamento totalmente inaceitável, uma vergonha provocada por alguns indivíduos. Pedimos as mais sinceras desculpas pela angustia causada e vamos trabalhar com a polícia para perceber os atos e identificar os responsáveis”, comentou um porta-voz do clube, citado pelo As. Incidente a lamentar, incidente ultrapassado e todos os olhos estavam focados no jogo e no que poderia fazer o Liverpool.

“Faremos tudo o que pudermos, isso é claro. Precisamos de um desempenho perfeito se quisermos ter apenas uma oportunidade, apenas uma. Acho que a forma como jogámos e como o Real jogou em Espanha não parece promissora mas o bom é que podemos jogar melhor. Mas temos que fazê-lo. Real Madrid, não venham aqui e pensem que a eliminatória já acabou. Vai ser difícil, mas vamos tentar, prometo. É tudo o que podemos dizer”, tinha prometido Jürgen Klopp na antecâmara de uma partida que poderia ainda salvar a temporada frente a um Real Madrid que parecia ter perdido fulgor mas que num ápice, e com muitas baixas também à mistura, ficou a um ponto da liderança da Liga após a vitória frente ao Barcelona e tinha dois golos de avanço em Anfield.

Entre a colocação de Fede Valverde como lateral direito pelas lesões de Carvajal e Lucas Vázquez (Odriozola não conta até como terceira opção…) e a recuperação num 4x3x3 pelo Real Madrid e a aposta do Liverpool no mesmo sistema tático mas com Milner e Firmino de início ficando Thiago Alcântara e Diogo Jota no banco, o encontro começou praticamente com uma oportunidade flagrante de Salah após assistência de Mané que Courtouis travou com os pés (2′) e teve depois mais uma enorme defesa do belga numa transição com remate à entrada da área em arco de Milner (11′). O Liverpool entrava melhor mas não conseguiu materializar esse arranque, vendo mesmo uma bola no poste da baliza de Alisson após remate de Benzema desviado em Nathan Philips (20′).

A partida entrou depois num ritmo mais ao jeito dos espanhóis, com uma “varridela” de Casemiro a Milner a incendiar por instantes os ânimos junto ao banco do Liverpool antes de uma fase de maior monotonia, mais jogada a meio-campo e sem espaço nem tempo para transições que conseguissem desequilibrar um rumo onde o Real se mostrava confortável perante o ataque organizado do Liverpool. Só mesmo Wijnaldum, numa grande rotação sobre Kroos que lhe permitiu virar em posse para soltar em Mané antes de mais um remate por cima de Salah (41′) e depois em mais uma oportunidade flagrante na área que errou o alvo (42′), conseguiu mexer na partida que chegou sem golos ao intervalo mas com a ideia de que os britânicos não estavam ainda “arrumados” entre uma exibição quase irrepreensível da defesa dos merengues que voltou a ter Éder Militão em destaque.

O Liverpool tinha de arriscar tudo para evitar a eliminação e começou com duas boas oportunidades nos dois minutos iniciais do segundo tempo de Firmino, a rematar cruzado para defesa de Courtois (46′) e a cabecear de forma desenquadrada após centro de Alexander-Arnold (47′), mas os minutos foram passando sem que o Real Madrid revelasse muitos problemas em travar o ataque muitas vezes previsível do Liverpool e Klopp arriscou ainda mais a meia hora do final, com Ozan Kabak e Milner a darem lugar a Thiago Alcântara e Diogo Jota entre o recuo de Fabinho para central. Vinícius ainda teve uma boa oportunidade em transição para defesa de Alisson, Diogo Jota rematou às malhas laterais após uma grande jogada individual mas os minutos foram passando com os visitantes cada vez mais confortáveis em campo e a segurarem um nulo que valeu passagem às meias-finais, onde vão agora encontrar os ingleses do Chelsea depois de eliminarem o FC Porto em Sevilha.

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