No meio das muitas novidades que estão a ser expostas no Salão Automóvel de Xangai, que ainda decorre, um dos momentos que suscitou mais curiosidade junto dos visitantes foi quando uma proprietária de um Tesla se dirigiu ao stand da marca norte-americana no certame chinês e se manifestou em cima de um dos veículos expostos, envergando uma t-shirt em que acusava o seu Model 3 de travar mal, o que alegadamente teria provocado um acidente que colocou em perigo a sua família. Face à acusação, a Testa ripostou, provando que o condutor travou pouco e foi o sistema de travagem de emergência que evitou danos mais graves.

A queixosa aproveitou o público e os órgãos de informação presentes no salão para divulgar o seu problema, enquanto o fabricante alegava que tinha analisado os dados recolhidos pelos sensores e câmaras do modelo, durante o acidente, tendo concluído que o carro funcionou na perfeição. E segundo Elon Musk declarou à Bloomberg, a Tesla desafiou a cliente a mandar analisar o sistema de travagem por uma entidade independente, o que a cliente aparentemente recusou.

A partir do momento em que o assunto se tornou público, a Tesla ficou numa situação delicada face à gravidade das acusações avançadas pela condutora chinesa, o que a levou a passar ao ataque. Como todos os seus veículos registam em tempo real tudo o que acontece a bordo, da pressão realizada sobre o pedal do travão e do acelerador, ângulo do volante e se o Autopilot está ou não activado, gravando ainda as imagens de tudo o que é captado pelas câmaras exteriores e interior, a Tesla conhece sempre as condições em que se dão os acidentes. Mais do que conhecer, pode prová-lo e fornecer essa informação, sempre que solicitada, às autoridades responsáveis.

Se os dados relativos aos Tesla comercializados em todo o mundo são armazenados na Califórnia, os pertencentes aos modelos vendidos na China são guardados no país, por exigência do Governo local, alegadamente por uma questão de segurança nacional. O construtor norte-americano recorreu a esses dados, os relativos ao sistema de travagem sobre o qual incidiram as críticas da chinesa, e enviou-os para o China Market Supervision News (CMSN), que os publicou, juntamente com a análise.

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O registo da pressão aplicada no travão (à direita) e a correspondente velocidade do veículo (à esquerda), nos momentos antes do embate

De acordo com os dados recolhidos nos instantes que antecederam o acidente, o Tesla seguia a 118,5 km/h quando o condutor carregou no pedal do travão, mas com uma força de somente 45,9 bar, dificilmente compatível com uma travagem de emergência. De acordo com a CMSN, o condutor foi depois aumentando a pressão até aos 92,7 bar, até que a travagem de emergência foi automaticamente activada, elevando a pressão sobre o circuito de travagem para 140,7 bar, com o ABS a ser accionado 1,8 segundos antes da colisão. Foi o contributo do sistema que trava ao máximo o veículo quando o condutor não o faz, na iminência de um embate, que permitiu reduzir a velocidade a que o Model 3 da condutora chinesa seguia para apenas 48,5 km/h.

A divulgação desta informação deverá colocar um ponto final na polémica, sobretudo porque a Tesla se prontificou a partilhar todo o material reunido relativo ao acidente com qualquer parte interessada, da queixosa à companhia de seguros, passando pela entidade governamental responsável. De recordar que o sistema de travagem automática de emergência, felizmente hoje de série na maioria dos veículos, foi introduzido porque diversos estudos provavam que, em caso de embates iminentes, os condutores nunca aplicavam o máximo de pressão sobre o travão que o veículo poderia suportar, não reduzindo assim tanto a velocidade quanto seria possível.