Não foi bem um arranque, antes uma espécie de ensaio para a convenção a sério — pelo menos, é o que está prometido para a manhã deste sábado. O eurodeputado José Gusmão avisou logo: a sessão “internacionalista” do BE, pensada para aquecer os motores da XII convenção do partido, seria “diferente de todas as outras”. Por entre as restrições pandémicas, coube a Marisa Matias subir ao palco para fechar a noite com críticas ao Governo — adivinha-se que tenha sido apenas a primeira dose de uma convenção em que a relação com o PS será o assunto omnipresente.

No Centro de Desportos e Congressos de Matosinhos, o Bloco instalou-se a meio gás, com metade da sala ocupada por cadeiras distanciadas entre si, as já tradicionais setas desenhadas no chão e meio pavilhão vazio. A ideia foi que apenas os delegados daquela zona — Porto, Matosinhos, etc — e os que precisaram de apanhar voos (Madeira e Açores) viessem à noite de abertura da reunião magna do partido.

O comício de abertura foi, por isso, breve e dedicado a um tema específico — a defesa do levantamento das patentes das vacinas, que o Bloco tem vindo a defender nos últimos meses com insistência. Durante a sessão, que contou com José Gusmão e Marisa Marisa, mas também com o deputado especialista em Saúde Moisés Ferreira, a investigadora Teresa Summavielle e o representante da Intersindical galega Xosé Luís Rivera Jacomé, acumularam-se os apelos ao levantamento das patentes e uma série de críticas políticas fortes — primeiro à Europa, depois ao Governo.

“O Governo português teve uma oportunidade única de fazer a diferença e desperdiçou-a”, criticou Marisa Matias, numa referência aos meses em que Portugal está a presidir à União Europeia — “seis meses bem tristes”, resumiu. E continuou a disparar contra António Costa: nesta questão, e enquanto líder da UE durante estes meses, o Executivo “decidiu mais uma vez ser bom aluno”, escolheu como sua marca “o isolamento da UE” sobre o levantamento das patentes, “uma marca de quem não quer fazer a diferença e lutar pelo interesse comum”.

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E continuou por ali fora: foram seis meses em que as prioridades não foram “nem a agenda de combate à pobreza, nem o pilar social, nem as alterações climáticas, nem a defesa da Saúde pública”, lamentou, lembrando as posições de figuras, do Papa à Organização Mundial da Saúde, que defendem o levantamento das patentes para acelerar a produção das vacinas. Com esperança de que o objetivo seja atingido essas vozes, como “as dos cidadãos”, irão “prevalecer sobre meia dúzia privilegiados”, afirmou.

As palavras dedicadas à Europa não foram mais meigas, uma vez que a eurodeputada considerou mesmo que as decisões da UE nesta matéria mostram uma “falta moral” e uma arrogância” que revelam “as prioridades do projeto europeu”.

Minutos antes, Moisés Ferreira, que no Parlamento costuma interrogar Marta Temido sobre esta questão, tinha subido ao palco para atirar também ao Governo, que, segundo o deputado, protege “a indústria farmacêutica”, rematando com ironia: “E ainda se diz socialista…”. Posição sobre vacinas arrumada e algumas referências de solidariedade para com a Palestina, a noite ficava encerrada. A convenção a sério arranca sábado de manhã e dura até domingo.