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Carlos Carvalhal quis, Abel Ruiz sonhou, a obra do Sp. Braga nasceu (a crónica da final da Taça de Portugal)

Este artigo tem mais de 2 anos

Sp. Braga deu o pontapé de saída para um projeto, Benfica tem de repensar o projeto. Os minhotos venceram com o toque de Carvalhal, com uma enorme exibição de Ruiz e conquistaram a Taça pela 3.ª vez.

Ricardo Horta marcou o golo que sentenciou a final, já dentro dos últimos 10 minutos
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Ricardo Horta marcou o golo que sentenciou a final, já dentro dos últimos 10 minutos

EPA

Ricardo Horta marcou o golo que sentenciou a final, já dentro dos últimos 10 minutos

EPA

O facto de, em Portugal, a final da Taça acontecer já depois do final do Campeonato abre a porta a balanços obrigatórios. Este domingo, em Coimbra, Sp. Braga e Benfica colocavam um ponto final numa temporada em que ambos mudaram de treinador, em que ambos procuraram começar um novo projeto e em que ambos acabaram por não conseguir fugir às desilusões. E ambos, de forma clara, procuravam na final da Taça uma rampa de lançamento positiva para uma nova época que terá de ser necessariamente melhor.

Do lado do Sp. Braga, a aposta em Carlos Carvalhal — que tinha feito uma época assinalável no Rio Ave — revelou-se acertada mas com resultados curtos. Se é certo que, a dada altura, era claro e evidente que os minhotos eram a equipa que melhor futebol praticava na Primeira Liga, também é certo que nem sempre essa qualidade foi replicada em resultados. O Sp. Braga chegou à final da Taça da Liga mas perdeu com o Sporting; chegou aos 16 avos de final da Liga Europa mas foi eliminado pela Roma; foi competitivo no Campeonato mas não conseguiu lugar pelo terceiro lugar até ao fim. Este domingo, o conjunto de Carvalhal tinha o objetivo principal de mostrar que é mais do que a equipa do quase. E partir para uma nova temporada, sem Paulinho e provavelmente sem Ricardo Esgaio e Al Musrati, a ser bem mais do que a equipa do quase.

Ficha de jogo

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Sp. Braga-Benfica, 2-0

Final da Taça de Portugal

Estádio Cidade de Coimbra, em Coimbra

Árbitro: Nuno Almeida (AF Algarve)

Sp. Braga: Matheus, Ricardo Esgaio, Tormena, Raúl Silva, Sequeira, Castro (João Novais, 71′), Al Musrati (André Horta, 76′), Ricardo Horta, Lucas Piazon, Galeno, Abel Ruiz (Sporar, 87′)

Suplentes não utilizados: Tiago Sá, Bruno Rodrigues, Borja, Rui Fonte

Treinador: Carlos Carvalhal

Benfica: Helton Leite, Morato (Chiquinho, 81′), Otamendi, Vertonghen, Diogo Gonçalves (Nuno Tavares, 58′), Taarabt, Weigl, Grimaldo, Pizzi (Vlachodimos, 21′), Everton (Rafa, 58′), Seferovic (Darwin, 58′)

Suplentes não utilizados: Jardel, Gabriel

Treinador: Jorge Jesus

Golos: Lucas Piazon (45+3′), Ricardo Horta (85′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Ricardo Esgaio (35′), a Al Musrati (67′), a João Novais (82′), a Rafa (85′), a Nuno Tavares (88′); cartão vermelho direto a Helton Leite (17′), a Taarabt (90+4′), a Lucas Piazon (90+4′)

Do lado do Benfica, a aposta em Jorge Jesus — que tinha acabado de ganhar praticamente tudo no Brasil — era uma espécie de regresso ao futuro. Com o treinador português, Luís Filipe Vieira queria recuperar o sucesso de outros tempos, construir uma equipa que era uma ponte entre os tetracampeões e uma nova geração e garantir que a desilusão da época anterior, em que os encarnados perderam o título depois de terem sete pontos de vantagem para o FC Porto, não voltava a acontecer. Mas o Benfica não conseguiu chegar à Liga dos Campeões; não passou dos 16 avos de final da Liga Europa; não conseguiu confrontar a consistência do Sporting e aproximar-se dos dragões; e não chegou à final da Taça da Liga. Este domingo, a equipa de Jesus tinha o objetivo principal de mostrar que, depois de ter conseguido chegar à final da Taça de Portugal, conseguia ganhá-la. E partir para uma nova temporada, provavelmente com mais reforços, a ser o Benfica que Vieira idealizou no final do verão.

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Era um jogo decisivo para ambos os lados — em termos de projeto, de futuro e de tudo o que acaba hoje e começa de outra forma depois do Campeonato da Europa. Em Coimbra, Carlos Carvalhal tinha a ausência de última hora de Fransérgio, que foi um dos elementos mais importantes da temporada e que falhava a final da Taça devido a uma lesão. Mantinha-se a linha de três centrais, com Esgaio e Galeno a abrirem nas alas, Castro e Al Musrati no meio-campo e Piazon e Ricardo Horta no apoio a Abel Ruiz. Do outro lado, Jorge Jesus surpreendia com a titularidade de Morato, que substituía o lesionado Lucas Veríssimo do lado esquerdo, e também mantinha a linha defensiva de três, em conjunto com Otamendi, que jogava à direita, e Vertonghen, que fechava no meio. O setor intermédio era o habitual, com Weigl e Taarabt, Grimaldo e Diogo Gonçalves eram os responsáveis pelos corredores e Pizzi e Everton surgiam antes de Seferovic, com Rafa a começar no banco.

Os primeiros minutos permitiram perceber desde logo que seria o Benfica, de forma algo natural, a assumir a dianteira da partida. Ainda assim, os encarnados não conseguiam propriamente ter um ascendente no jogo: o Sp. Braga defendia com uma linha de quatro quando não tinha bola, com Esgaio e Sequeira a encurtarem distâncias para os centrais, e a equipa atuava muito compacta e com os setores muito juntos. No meio-campo, Al Musrati era um autêntico patrão, entre interceções e compensações defensivas e um balanço ofensivo assinalável, e a estratégia dos minhotos passava pela habitual transição rápida assente na velocidade de Horta, Piazon, Galeno e Abel Ruiz. Neste movimento, Galeno estava a oferecer um desequilíbrio particularmente intenso na ala esquerda, onde beneficiava das linhas de rotura de Ruiz e das incursões interiores de Horta.

O Benfica, do outro lado, tinha mais bola e mais iniciativa e procurava principalmente atrair o adversário para depois encontrar espaços disponíveis — num início de jogo em que o metro quadrado estava caro e o dono da posse era sempre extraordinariamente pressionado, tanto na hora de desenhar o ataque como no momento de um eventual remate. A final da Taça chegou ao quarto de hora sem oportunidades de golo e sem lances de grande perigo, contando-se apenas um corte importante de Raúl Silva perante Seferovic na grande área minhota (8′) e um passe letal de Abel Ruiz que não encontrou finalização (15′). Instantes depois, porém, tudo mudou.

Noutro momento de transição rápida, Abel Ruiz surgiu em velocidade tombado na direita; Helton Leite saiu da baliza, para tentar intecetar o avançado espanhol, e acabou por atingir o jogador minhoto. No entender do árbitro Nuno Almeida, o guarda-redes do Benfica fez falta quando Ruiz seguia isolado para a baliza: Helton Leite foi expulso com vermelho direto e os encarnados ficaram reduzidos a 10 elementos ainda antes de estarem cumpridos 20 minutos de jogo. Para lançar Vlachodimos, Jesus sacrificou Pizzi, que saiu de campo visivelmente desagradado e desiludido, e Carlos Carvalhal reagiu com a indicação praticamente imediata de que o Sp. Braga ia passar a atuar com apenas três defesas, com Sequeira a recuar na hora de defender e Al Musrati na hora de atacar.

Daí e até ao final da primeira parte, de forma natural, o Sp. Braga assumiu o controlo da partida. Galeno rematou duas vezes em dois minutos, uma para defesa de Vlachodimos (28′) e outra para fora (30′), e Castro também assinou um pontapé perigoso que passou ao lado (33′). Os minhotos aproveitaram o compreensível recuar das linhas do Benfica para avançar e assumiram um claro ascendente na partida, com Otamendi a fazer um corte gigantesco, absolutamente in extremis, para evitar a finalização de Ricardo Horta quando o avançado português só tinha de encostar para a baliza deserta (41′). Mesmo à beira do intervalo, Seferovic ainda esteve perto de marcar, com um remate cruzado que passou ao lado (45′), e Matheus evitou o golo no lance seguinte com uma enorme intervenção após um pontapé de Weigl (45+1′) — mas a jogada decisiva estava guardada para o último segundo da primeira parte. Num lance de grande descoordenação defensiva do Benfica, com Vlachodimos a sair da baliza de forma inexplicável e Vertonghen a aliviar para os pés de um adversário, Piazon tomou a decisão certa e assinou um chapéu perfeito que passou por cima do guarda-redes encarnado e abriu o marcador (45+3′).

Ao intervalo, nenhum dos treinadores fez substituições. O Benfica queria, naturalmente, balançar a equipa para o ataque e procurar o empate — mas não conseguia fazê-lo sem descompactar os setores, afastar as linhas e oferecer mais espaço de profundidade e velocidade ao Sp. Braga. Neste período e por isso mesmo, Vlachodimos foi forçado a quatro defesas importantes e os encarnados não conseguiam responder, mesmo arriscando progressivamente mais. À beira da hora de jogo, Jesus tentou reagir e tirou Diogo Gonçalves, Everton e Seferovic para lançar Nuno Tavares, Rafa e Darwin.

O Benfica começou a responder ao domínio do Sp. Braga com essa tripla alteração e ficou perto do empate na resposta de Darwin a um cruzamento de Taarabt (67′) e num lance de insistência de Rafa (69′). Ciente de que o adversário estava a ganhar metros e os minhotos estavam a cair em intensidade e rendimento, Carlos Carvalhal tirou um fatigado Castro para lançar João Novais e, instantes depois, foi forçado a tirar o lesionado Al Musrati para colocar André Horta. Com o relógio a aproximar-se do final da partida, o discernimento começava a desaparecer e os encarnados já atuavam mais com a emoção do que com o pragmatismo, ao passo que o Sp. Braga defendia de forma muito compacta, procurava controlar com posse de bola e só arriscava soltar a equipa em situações de contra-ataque ou superioridade numérica.

Jorge Jesus fez all in a 10 minutos de fim, ao tirar Morato para colocar Chiquinho. Abel Ruiz teve uma enorme oportunidade para acabar com a final, com um remate cruzado que Vlachodimos afastou com uma grande defesa (84′), mas acabou por ser Ricardo Horta a dar a Taça de Portugal ao Sp. Braga. Num lance em que Ricardo Esgaio roubou a bola a Rafa junto à linha lateral, Abel Ruiz fez a ligação com Horta e o avançado português atirou com muita força para dentro da baliza (85′). Até ao fim, já pouco mais aconteceu para além de um grave desentendimento entre Taarabt e Eduardo, treinador de guarda-redes dos minhotos, que acabou com a expulsão de ambos e de Lucas Piazon, que viu o vermelho direto sem ter percebido o que fez para o merecer.

O Sp. Braga venceu o Benfica na final de Coimbra e conquistou a Taça de Portugal pela terceira vez, depois de 1966 e 2016, coroando da melhor forma uma temporada que não foi brilhante mas que é o melhor pontapé de saída para um novo projeto. Já o Benfica termina a época sem qualquer troféu, falha todos os objetivos e está obrigado a repensar um futuro que há um ano parecia totalmente delineado. Carlos Carvalhal quis desde que chegou, Abel Ruiz sonhou com uma enorme exibição e a obra do Sp. Braga acabou por nascer.

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