O líder do CDS afirmou este sábado que pretende que as eleições autárquicas sejam um momento para mostrar o “cartão vermelho” ao Governo do PS e que o seu partido seja uma “alternativa”, aproveitando para criticar duramente a escolha da adjunta da ministra da Justiça para o Departamento de Investigação e Ação Penal.

“Cada eleição autárquica envia também uma mensagem para quem governa o país e nós queremos que as próximas eleições autárquicas sejam um cartão vermelho para o governo socialista e que constitua, pela mão do CDS, uma alternativa firme e construtiva ao PS”, afirmou Francisco Rodrigues dos Santos, numa sessão de apresentação do cabeça de lista do CDS à Câmara da Batalha nas próximas eleições autárquicas.

O líder centrista acrescentou que o Governo tem vindo a “retirar rendimentos às pessoas para pagar aos seus amigos e familiares”. Mas apontou especificamente para uma “promiscuidade entre a política e a Justiça, referindo-se à nomeação da adjunta da ministra da Justiça para o DCIAP.

“O DCIAP está a investigar inclusivamente membros do próprio Governo. Tem que haver um partido como o CDS que diga que é preciso acabar com esta promiscuidade entre a política e a justiça. Esta dança de cadeiras descredibiliza as instituições. O PS está a ocupar a justiça com os seus ‘boys’, com os seus amigos, para depois fazerem favores e perdoarem alguma ilegalidade”, acusou.

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O líder centrista lembrou que o CDS “propôs no Parlamento que fosse proibido aos magistrados poderem exercer funções como membros do Governo”, o que “teria evitado esta nomeação”.

“Propusemos também que, na avaliação dos juízes, fossem consideradas as decisões revertidas em sede de recurso pelos tribunais superiores por razões de erro grosseiro. Se isso tivesse sido aprovado não tínhamos uma avaliação, como hoje soubemos, de Ivo Rosa, em que muitas vezes foi criticado pelos tribunais superiores pela inconsistência das sentenças que proferiu”, acrescentou.

Mensagem sobre covid-19 é “novela mexicana”

Francisco Rodrigues dos Santos falou ainda da pandemia de covid-19, classificando a comunicação que tem sido feita como “uma novela mexicana”.

“Ninguém tem dúvidas nenhumas de que a defesa da saúde pública exige medidas firmes, mas que sejam razoáveis e adequadas. Portugal não precisa de medidas desproporcionais que matam a nossa economia e que assustam os portugueses. Por isso, esperava ouvir de Marcelo Rebelo de Sousa [Presidente da República] e de Ferro Rodrigues [presidente da Assembleia da República], as duas figuras mais altas do nosso Estado, apelarem a António Costa [primeiro-ministro] que reavalie a matriz de risco da pandemia que determina as medidas que são aplicadas”, referiu.

Para o líder do CDS é preciso “incorporar os dados relativos à pressão sobre o Serviço Nacional de Saúde para se tornar mais verdadeira e adequada ao risco real e ao perigo da doença em Portugal”.

“Temos os grupos mais expostos ao vírus vacinados. O facto de subir o número de infeções não significa uma escalada no número de mortos, nem um aumento insustentável na pressão sobre os internamentos no SNS [Serviço Nacional de Saúde]. Temos que adequar o risco real às medidas que são aplicadas pelo Governo. Isso obriga a uma revisão da matriz de risco feita por especialistas”, afirmou.

PRR vai alimentar “clientelas”. Monteiro também discursou

O líder do CDS criticou ainda as escolhas do Governo para a aplicação dos fundos do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), por privilegiarem o setor público “em vez do setor privado”.

“Em Portugal o nosso PRR atira dinheiro para cima do setor público para alimentar as suas clientelas e afasta essas verbas dos nossos empresários e das nossas famílias. Na Grécia, observamos que apenas 30% dos fundos vão para o setor público, o que criará quatro vezes mais postos de trabalho do que Portugal”, salientou.

Francisco Rodrigues dos Santos lembrou ainda que, nos últimos seis anos, Portugal “recebeu de fundos estruturais 26 mil milhões de euros” e “99% não foram para as empresas”.

“A Irlanda gastou 30 vezes menos em investimento público. O seu PIB [Produto Interno Bruto] cresceu 3%. Portugal investiu no público e o seu PIB diminuiu 7%. É investindo prioritariamente no setor público que não tira Portugal da estagnação económica e social e vai atrasando cada vez mais o nosso país. Infelizmente, foi a receita que o PS decidiu seguir”, lamentou. Para o líder do CDS, “este PRR vai ser um tiro de bazuca no pé dos portugueses”.

Presente no evento, o antigo presidente do CDS Manuel Monteiro, que se voltou a filiar no partido recentemente, também alertou para a aplicação dos fundos comunitários. “Vejo hoje com muita angústia que Portugal se prepara para cometer um dos seus maiores erros da história pós-adesão à CEE [Comunidade Económica Europeia], quando o primeiro-ministro de Portugal anunciou aos portugueses que estava muito contente com o ministro do Planeamento, porque tinha conseguido convencer Bruxelas que Portugal não tinha estradas a mais”, adiantou o centrista.

Manuel Monteiro acrescentou que “aproveitar o dinheiro para mais infraestruturas e investimento público, é o segundo erro histórico deste país”. Para o ex-presidente do CDS, “Portugal corre o risco de dentro de pouco tempo ser um dos países mais atrasados da Europa, precisamente por erros continuados de quem tem governado o país há muitos anos”.

“Não é apenas um problema do PS”, disse, mas “de outros partidos que se dedicaram apenas a olhar para o lado e para baixo e não a olhar para a frente e a pensar no futuro”.

Na iniciativa foi apresentado oficialmente Horácio Moita Francisco, atual vereador do CDS, como candidato à Câmara da Batalha.