O ministro dos Negócios Estrangeiros português, Augusto Santos Silva, exortou esta quarta-feira ao respeito pelo direito à manifestação em Cuba e voltou a pedir o fim das sanções norte-americanas ao país, para tentar diminuir a crise económica.

A posição de Portugal é muito simples: nós esperamos que a situação em Cuba evolua de forma positiva e que sejam respeitados os direitos das pessoas, entre os quais, do nosso ponto de vista, se inclui o direito a manifestações e reuniões pacíficas”, afirmou o chefe da diplomacia portuguesa, em declarações à Lusa.

O chefe da diplomacia portuguesa manifestou o desejo de que “os problemas da natureza económica social e política tenham respostas e soluções políticas”, porque “essa é a melhor maneira de resolver os problemas“. O ministro também abordou as sanções económicas impostas pelos EUA à ilha do Caribe e reafirmou críticas antigas.

“Portugal também, entende como muitos outros países no mundo, que o levantamento de sanções por parte dos Estados Unidos ajudaria bastante superar algumas das dificuldades económicas com que Cuba se confronta”. O bloqueio económico norte-americano “não explica tudo, mas o regime de sanções é mais um elemento negativo, neste caso exógeno, com que a população cubana tem de lidar“.

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Agastados com a crise económica, que agravou a escassez de alimentos e medicamentos e obrigou o governo a cortar a eletricidade durante várias horas por dia, milhares de cubanos saíram às ruas espontaneamente no domingo, em dezenas de cidades do país, aos gritos de “Temos fome”, “Liberdade” e “Abaixo a Ditadura”.

Trata-se de uma mobilização sem precedentes em Cuba onde as únicas reuniões autorizadas são geralmente as do Partido Comunista Cubano (PCC, partido único), tendo as forças de segurança procedido a dezenas de detenções e se envolvido em confrontos com manifestantes.

Até ao momento, as autoridades não divulgaram ainda um número oficial de detenções, mas existe uma lista provisória elaborada por ativistas locais que conta já com 65 nomes só em Havana. Entre os detidos há personalidades conhecidas como o artista Luis Manuel Otero Alcántara, o dissidente moderado Manuel Cuesta Morúa ou o dramaturgo Yunior García Aguilera.

O Presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel, exortou no domingo os seus apoiantes a saírem às ruas prontos para o “combate”, em resposta às manifestações que aconteceram contra o governo em vários pontos do país. Comentando também a situação sanitária no país, o ministro português mostrou-se preocupado e solidário.

“Em relação ao combate à epidemia, desejo que tudo corra pelo melhor em Cuba como em qualquer outro país do mundo”, disse, recordando que a luta contra a Covid-19 tem sido um desafio muito grande para os governos de todo o mundo.

“É uma luta muito desigual que nós todos estamos a travar porque parece que o vírus anda mais depressa do que nós próprios na resposta”, pelo que deseja “a todos, e, portanto, também a Cuba, o melhor desempenho e o melhor sucesso no combate à pandemia“, acrescentou o ministro.

Preocupado com África do Sul, Santos Silva diz que serviços estão focados nos portugueses

Por outro lado, o ministro dos Negócios Estrangeiros português afirmou que os serviços diplomáticos na África do Sul estão focados no apoio aos portugueses e voltou a pedir cautela à comunidade, num momento em se verificam várias manifestações violentas.

“Espero que os acontecimentos que estão hoje a afligir a África do Sul terminem o mais depressa possível”, afirmou Augusto Santos Silva à Lusa, confiando que a normalidade regresse.

Nas ruas do país, milhares de sul-africanos têm saqueado lojas, atacado equipamentos públicos e vandalizado as ruas, protestando contra a crise económica e exigindo a libertação do ex-Presidente Jacob Zuma, preso na semana passada por desrespeito a uma ordem do Tribunal Constitucional, a mais alta instância judicial do país.

“Tomei muito boa nota dos apelos à calma e ao respeito pelas decisões dos tribunais sul-africanos que o Presidente [Ramaphosa] fez e tem insistentemente feito”, disse o chefe da diplomacia portuguesa. A África do Sul conta com cerca de 450 mil portugueses e lusodescendentes e Santos Silva admitiu que os serviços consulares estão focados no apoio à comunidade. “Como todos compreenderão, a minha prioridade, a minha preocupação, é com a situação dos portugueses”, disse.  “Infelizmente já temos a lamentar prejuízos em bens, […] mas felizmente no momento em que falo não há nenhuma notícia de que a segurança física dos portugueses tivesse estado em perigo”, acrescentou o governante.

O ministro reafirmou os apelos feitos pela secretária de Estado das Comunidades Portuguesas, Berta Nunes, pedindo “a máxima cautela e a máxima prudência” por parte dos compatriotas num momento de crise social no país. “A nossa embaixada e todos os nossos consulados na África do Sul estão mobilizados para seguir atentamente a situação e a situação dos nossos compatriotas e prestar lhes todo o apoio que seja necessário e seja possível”, afirmou Santos Silva.

Pelo menos 72 pessoas morreram e cerca de 2.400 foram detidas em distúrbios violentos, saques e ações de intimidação, que continuam pelo sexto dia consecutivo na África do Sul, depois da prisão do antigo chefe de Estado e ex-líder do Congresso Nacional Africano (ANC, na sigla em inglês), Jacob Zuma, na passada quarta-feira à noite, divulgou a Polícia sul-africana.