Em fevereiro, Sydney McLaughlin integrou a lista dos Time100 Next, o grupo de 100 personalidades de várias áreas que a revista Time apresenta anualmente como as pessoas que vão marcar o mundo nos próximos anos. Tal como sempre, tal como todos, a publicação norte-americana pediu a uma figura do desporto, a área de Sydney McLaughlin, para escrever sobre a atleta norte-americana. A eleita não poderia ter sido melhor: Allyson Felix, a velocista que entre 2004 e 2016 conquistou nove medalhas olímpicas, entre seis ouros e três pratas.

“A Sydney tem uma confiança tímida que exige a nossa atenção. Está a criar o seu próprio caminho mas entende que caminhamos nos ombros daqueles que vieram antes de nós. Treino ao lado dela todos os dias e aquilo em que reparo mais é no seu tremendo potencial — e não só enquanto atleta olímpica. Ela tem o potencial para ser a melhor de todos os tempos nos 400 metros barreiras, sim, mas, mais importante do que isso, tem o potencial de impactar vidas. Essa é a sua maior força. Sei que a marca que ela vai deixar neste mundo será muito maior do que apenas recordes e medalhas”, escreveu Felix, cujo treinador é o mesmo da jovem atleta de apenas 21 anos.

Esta quarta-feira, Sydney McLaughlin venceu a final de 400 metros barreiras, conquistou a medalha de ouro e ainda pulverizou o recorde mundial que já lhe pertencia, estabelecendo uma impressionante nova marca mundial de 51.46. A norte-americana explodiu na reta final e foi mais forte do que a compatriota Dalilah Muhammad, campeã olímpica no Rio de Janeiro que também ficou abaixo do anterior recorde do mundo e ficou com a prata, e Femke Bol, dos Países Baixos, que alcançou o bronze e bateu o registo europeu.

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A vitória é a primeira grande conquista da atleta natural de New Brunswick, New Jersey, nos Jogos Olímpicos. Em 2016 e com apenas 16 anos, McLaughlin tornou-se a atleta mais nova desde 1972 a integrar a equipa olímpica de atletismo dos Estados Unidos. Na altura, no Rio de Janeiro, não conseguiu apurar-se para a final e não foi além de um 16.º lugar na classificação geral. Cinco anos depois, chegou a Tóquio já enquanto recordista mundial, como uma das maiores promessas do atletismo feminino norte-americano e depois de um crescimento cimentado e comprovado.

Em 2017, tornou-se a primeira a ser eleita a melhor atleta do ensino secundário dos Estados Unidos em dois anos consecutivos. Após uma única temporada na University of Kentucky, decidiu abandonar o desporto universitário e tornar-se profissional ao assinar um muito valioso contrato de publicidade com a marca desportiva New Balance. Estabeleceu o registo mundial que agora quebrou no passado mês de junho, nos trials olímpicos norte-americanos, tornando-se a primeira mulher a percorrer os 400 metros barreiras em menos de 52 segundos. Logo depois, assinou outro contrato publicitário, com a TAG-Heuer, e deu mais um passo rumo ao estatuto de velocista feminina norte-americana mais reconhecida e mediática do mundo.

Filha de dois atletas, já que o pai Willie e a mãe Mary eram ambos velocistas, Sydney é ainda a irmã mais nova de Taylor McLaughlin, que em 2016 foi medalha de prata nos 400 metros barreiras dos Mundiais Sub-20. Mais do que uma atleta de sucesso, a norte-americana tem-se tornado uma voz ativa contra o bullying e de sensibilização face à importância da saúde mental, revelando o assédio online de que foi vítima durante o ensino secundário e a depressão que sofreu logo depois dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro.

Depois de ser medalha de prata nos Mundiais de Doha em 2019, ficando apenas atrás da compatriota Dalilah Muhammad que foi agora a segunda classificada em Tóquio, Sydney McLaughlin regressou aos Jogos Olímpicos para conquistar o ouro, bater novamente o próprio recorde e começar a fazer história. Mas, mais do que isso, regressou aos Jogos Olímpicos para provar que já não é a próxima estrela — ela já é a estrela.