Os treinadores costumam dizer várias vezes coisas como “jogo a jogo” ou “o próximo adversário é o mais importante”, entre outras coisas semelhantes. Na antevisão ao encontro de estreia do Benfica na I Liga 2021/2022, no estádio do Moreirense, Jorge Jesus admitiu que a prioridade está na próxima quarta-feira. O presidente Rui Costa disse recentemente que o Benfica “tem de estar na Liga dos Campeões” e o seu treinador parecia seguir o repto: “Estamos a dar prioridade aos jogos da Champions e para que a equipa faça um segundo jogo com a capacidade física que demonstrou em Moscovo”. Mas claro, e não será aqui chocante pensar assim, arrancar o campeonato em igualdade com o Sporting, ainda para mais depois da exibição da equipa de Rúben Amorim, era obrigatório.

Jorge Jesus era obrigado a mudanças relativamente ao encontro de Moscovo, principalmente porque João Mário, que foi um autêntico patrão da bola contra o Spartak, não podia jogar este sábado. Como referiu antes do jogo o treinador do Moreirense, João Henriques, “o Benfica tem a capacidade de ter um plantel que permite apresentar três equipas que se equivalem”. Bem, podem não ser três, mas que Jorge Jesus tem opções, tem. E é também um jogo especial para JJ, visto ter treinado o Moreirense na época de 2004/2005, temporada em que a equipa desceu de divisão.

Havendo diferenças, quer queiramos, quer não, entre as duas equipas, os dois plantéis e os seus objetivos, o técnico da equipa de Moreira de Cónegos esperava competir pelo jogo. “Vai ser como o jogo do gato e do rato. A nossa filosofia é pensar em atacar e quanto tivermos bola vamos atacar a balizar. Quando não a tivermos, vamos atacar a bola. Não vamos defender, não é a nossa forma de estar”, afirmou João Henriques.

A época transata não é relevante quando arranca nova I Liga, visto que todos os conjuntos começam do zero com os seus sonhos e objetivos, mas o Benfica vem de uma boa senda nos jogos fora, com sete vitórias no mesmo número de encontros. Por outro lado, João Henriques não perdia com o Benfica no tempo regulamentar há três jogos.

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O Benfica entrava pressionado, como sempre, e o Moreirense sem nada a perder. Num arranque de I Liga para ambos os conjuntos, que mais se poderia pedir?

Rapidamente se percebeu o que o Moreirense queria fazer nos minutos iniciais. Vertonghen, Lucas Veríssimo e Otamendi? Pois que joguem entre eles à vontade, desde que não consigam fazer passes de risco. A estratégia foi resultando até porque as linhas da equipas de Moreira de Cónegos estavam bem juntas e organizadas. Aberturas nas alas estava difícil e servir Gonçalo Ramos, Everton ou Waldschmidt (titulares este sábado, Jesus fez seis alterações e até jogou Meïte) também não era fácil. O jovem avançado do Benfica, no entanto, não pára sossegado e foi numa das suas primeiras desmarcações, logo aos 9′, que quase fez golo. Foi canto e, numa enorme confusão, Lucas Veríssimo, que já tinha feito uma bela assistência em Moscovo, foi astuto e fez golo.

Pouco tempo passou quando o jogo foi obrigado a parar vários minutos. Tudo porque o árbitro Vítor Ferreira mostrou vermelho ao defesa Artur Jorge, por ter derrubado Waldschmidt à entrada da área. O árbitro foi ouvindo indicações pelo auricular até decidir ir ver as imagens. Aí, decidiu retirar o vermelho e seguiu o jogo…

Mas o avançado alemão gosta de marcar nas primeiras jornadas e, tal como o ano passado, fez o gosto ao pé na primeira parte. Numa das vezes em que o Moreirense não conseguiu estender a manta e o Benfica aproveitou as costas dos defesas verdes e brancos ao xadrez, Lucas Veríssimo descobriu Diogo Gonçalves. O ala direito do Benfica colocou na área e após um corte pouco decisivo da defesa da casa, Waldschmidt fez o 0-2.

O Benfica mostrava-se eficaz e foi criando mais ocasiões e boas jogadas durante a primeira parte, mesmo que por momentos a fluidez não tenha sido a melhor. O Moreirense acabou por reduzir antes dos 30′ por Rafael Martins e aí a equipa de João Henriques cresceu no jogo, obrigando até Vlachodimos a uma boa defesa. O jogo acabou por pender para o lado teoricamente mais lógico e o Benfica, por Gonçalo Ramos (na trave) e Waldschmidt (ao lado) podia ter feito terceiro.

Ao intervalo ficava uma indicação, sobretudo pelo Benfica. Nota-se que a vitória de Moscovo deu moral e, mesmo sem João Mário, Grimaldo, Pizzi, Rafa, Weigl e Seferovic, havia jogo suficiente para chegar ao intervalo a ganhar.

A segunda parte foi algo incaracterística, com o domínio do Benfica a ser muito e obviamente afetado pela expulsão de Diogo Gonçalves, com vermelho direto, após uma entrada dura sobre Conté, que saiu inclusivamente lesionado.

O Moreirense subiu, claro, mas apenas por uma vez obrigou Vlachodimos a trabalhos. A equipa da casa não dominou com lances de perigo, obrigando “apenas” o Benfica a tentar jogar longo. Mas, aqui, mérito para todos: os que não queriam deixar jogar e os que com apenas dez homens tentavam jogar.

E por falar em jogar, é preciso destacar a estreia de Meïte, que não sendo o centrocampista mais rápido do mundo esteve forte no passe e na recuperação de bola, e também Gonçalo Ramos. A concorrência é forte, com Darwin, Seferovic e Yaremchuk, mas a jogar assim o jovem português vai dar (boas) dores de cabeça a Jorge Jesus.

A prioridade era Moscovo, mas o caminho passava por Moreira de Cónegos. Era um jogo do “gato e do rato”, mas a equipa de João Henriques não conseguiu fugir.