A última grande cidade do norte do Afeganistão que ainda estava sob controlo do governo do país, Mazar-e-Sharif, caiu na noite deste sábado nas mãos dos talibãs, noticia o The New York Times. Isto significa que, entre as grandes cidades, o governo mantém agora apenas sob a sua alçada Cabul (a capital) e Jalalabad.

A tomada da cidade de Mazar-e-Sharif, capital da província de Balkh, aconteceu um dia depois de duas cidades importantes no sul e ocidente terem sido conquistas pelos talibãs. A cidade já estava cercada desde a semana passada.

Forças talibãs cercam maior cidade no norte do Afeganistão

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O The New York Times conta que bastou uma hora desde a entrada dos rebeldes na cidade para que esta cedesse. As forças governamentais e militares acabariam por entregar o controlo. “As forças do governo e populares deixaram a cidade”, disse um comandante pró-governamental, Hashim Ahmadzai ao jornal norte-americano. “Os talibãs ocuparam edifícios governamentais e militares. Não houve resistência”, acrescentou. Os talibãs controlam, assim, agora, as zonas sul, ocidental e norte do país, numa altura em que se aproximam da capital.

É que, depois de terem conquistado na sexta-feira duas capitais de província e de passarem a controlar Kandahar, a segunda maior cidade do país, localizada na região sul, e Herat, a terceira maior, na zona oeste, nos dias anteriores, chegaram durante a tarde desse dia aos arredores de Cabul. Mazar-e-Sharif era até aqui, a par da capital, Cabul, e de Jalalabad, no leste do país, uma das três grandes cidades que ainda eram controladas pelo governo afegão.

O norte do país era onde, historicamente, se assistia a uma forte oposição contra os talibãs. A região foi o coração da resistência contra a ascenção do poder dos rebeldes, em 1996.

Sobe para 23 número de capitais provinciais tomadas pelos talibãs

O número de capitais provinciais do Afeganistão sob o domínio dos talibãs subiu, nas últimas horas deste sábado, para 23, após a conquista de mais três cidades: além de Mazar-e-Sharif, Maymana e Mehtarlam.

“Todas as instalações do governo estão agora sob o controle dos talibãs e estão a ocorrer combates esporádicos em algumas partes da cidade”, disse um oficial de Balkh, que pediu anonimato à agência EFE, após a queda de Mazar-e-Sharif.

O presidente do Afeganistão, Ashrasf Ghani, defendeu a necessidade de enfrentar a grande ofensiva talibã que, em pouco mais de uma semana, resultou no maior avanço em duas décadas de guerra, gerando alertas sobre a possível queda de Cabul, capital afegã.

Num discurso transmitido pela televisão, Ghani garantiu que a “prioridade máxima” do governo afegão é a mobilização das forças de segurança para impedir a captura de mais capitais regionais no país.

O anúncio do presidente surge depois de muitas das tropas afegãs se terem rendido ou fugido dos territórios conquistados pelos talibãs, em alguns casos sem oferecerem resistência. Enquanto Ghani discursava, os talibãs anunciaram a conquista de sua 20.ª capital provincial: Asadabad, capital da região oriental de Kunar.

Pouco depois, assumiram o controlo da capital regional de Paktika, Sharana, que também foi entregue pacificamente e sem “disparar uma bala”, como revelou o deputado desta província na câmara baixa do parlamento à EFE, Khalid Asad. Algumas horas mais tarde, mais três cidades foram capturadas: Maymana, Mehtarlam e Mazar-e-Sharif.

O rápido avanço da ofensiva talibã foi motivado pela fase final de retirada das tropas do país dos Estados Unidos e da NATO, iniciada em maio e que deverá ficar concluída este mês.

Desde então, os talibãs assumiram o controlo de 140 centros distritais, 23 capitais de província e cerca de 10 passagens de fronteira, a maior conquista em duas décadas de guerra.

O medo crescente de que a capital afegã, Cabul, pudesse cair nas mãos dos talibãs a qualquer momento fez com que vários países se mobilizassem rapidamente para retirar o seu pessoal nacional em Cabul, bem como cidadãos afegãos que trabalharam de perto com eles durante os últimos vinte anos de conflito .

No fim de semana, espera-se que grande parte dos militares dos EUA enviados pelo Pentágono para ajudar na retirada da maior parte do pessoal da embaixada dos EUA e de outros cidadãos afegãos cheguem a Cabul.

Além dos Estados Unidos, também o Reino Unido, a Alemanha e Espanha, entre outros, anunciaram que nos próximos dias tomarão medidas semelhantes perante a situação atual, com os talibãs cada vez mais próximos de Cabul.