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Interativo. Como os talibãs foram conquistando o controlo do Afeganistão e puseram em marcha a operação relâmpago de oito dias

Este artigo tem mais de 2 anos

Os talibãs avançaram pé ante pé na conquista de território, mas a saída das tropas americanas precipitou a ofensiva. Em 8 dias conquistaram 75% do país. Os gráficos mostram a velocidade do avanço.

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Ana Martingo/Observador

Ana Martingo/Observador

Bastaram oito dias para os talibãs reconquistarem territórios que lhes tinham sido retirados ao longo de 20 anos. Um atrás do outro, primeiro os distritos mais rurais e depois as capitais provinciais do Afeganistão caíram como peças de dominó nas mãos do movimento islâmico. Cabul, a capital do país, foi o mais recente triunfo da ofensiva talibã. Mas os mapas dos últimos três anos revelam como, afinal, os fundamentalistas islâmicos se moviam pé ante pé, perdendo domínio num lado, mas ganhando noutros, até ao ponto de 75% do país estar nas suas mãos, com outros 16% do território a serem contestados por eles.

O mapa do país desde 7 de agosto até à última segunda-feira revela a velocidade com que os talibãs cruzaram as fronteiras com o Afeganistão para se propagarem de fora para dentro. Há dez dias, caíram duas províncias: Nimroz, na fronteira com o Irão e com o Paquistão; e Jawzjan, junto ao Turquemenistão. Cinco dias depois, já eram 11 as capitais provinciais controladas pelos talibãs. No dia seguinte, a 14 de agosto, cairia Kandahar, segunda maior cidade do Afeganistão, capital cultural do país e centro espiritual do movimento talibã. A 15 de agosto, os insurgentes dominariam também Cabul, poucas horas depois de o Presidente afegão, Ashraf Ghani, ter abandonado o país.

Seria de pensar que, ao fim de duas décadas de treino militar norte-americano, o exército afegão estivesse mais preparado para defender os territórios sob controlo governamental. Mas os pontos fracos começam a evidenciar-se depois de o ex-presidente Donald Trump ter anunciado o acordo com os talibãs para retirar as tropas do Afeganistão; e sobretudo após Joe Biden, atual presidente, ter calendarizado o fim definitivo da presença americana no país para 11 de setembro. Sem o exército de Biden, o futuro dos territórios afegãos estaria apenas nas mãos do governo de Ashraf Ghani e da cúpula talibã. Mas as negociações entre estas duas partes nunca chegaram a bom porto, as forças aliadas ao Executivo começaram a fragilizar-se e o movimento fundamentalista islâmico ganhou tempo. E depois espaço.

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A ofensiva talibã entrou em ebulição sobretudo em junho, quando os militares fiéis ao governo abandonaram as bases e postos de controlo por Ashraf Ghani não ter cumprido duas promessas: reforçar as equipas em campo, numa preparação para um eventual confronto com os talibãs, e enviar suprimentos para quem já lá estava. Menos de um mês depois, os militares que ainda tinham resistido e os agentes da polícia renderam-se ao grupo fundamentalista depois de este ter enviado aos anciãos das aldeias uma mensagem: ou cediam ou morriam. A partir daí, os distritos foram desabando para domínio talibã como um castelo de cartas.

Apesar de todas as fragilidades exibidas pelos exército afegão, a rapidez com que os talibãs tomaram conta de pelo menos dois terços do país — há 94 distritos que continuam sob disputa e oito que estão nas mãos da resistência em Panjshir — surpreendeu o mundo. Ainda há um mês, Joe Biden admitia que um contra-ataque talibã era possível, mas que confiava na capacidade militar afegã: depois de 20 anos ao lado dos americanos, estava agora mais bem treinada, mais bem equipada e “mais competente”. No fim de contas não seria bem assim: os afegãos estariam já desmoralizados e cansados — problemas que os 83 mil milhões de dólares gastos pelos Estados Unidos no treino da força militar do Afeganistão (no total, os norte-americanos gastaram dois biliões de dólares nos últimos 20 anos) não permitiram ultrapassar.

Esse foi o gatilho para a mancha talibã se ter espalhado pelo país como pólvora ao longo das últimas semanas, mas sobretudo na última. O controlo do governo sobre a situação afegã já vinha sendo reduzido ao longo dos anos, com uma queda brutal entre o fim de 2017 e meados deste ano, mas parecia ter estabilizado nos últimos dois anos. Não passava de uma ilusão ótica: afinal, os talibãs estavam prontos para entrar à medida que os americanos saíssem do país. Em meados deste mês, o movimento islâmico escancarou as portas das províncias e este fim de semana encontrou o palácio de Arg já vazio, à sua espera. Pelo caminho, os militares afegãos que restavam não ofereceram qualquer resistência.

O comportamento das tropas afegãs perante o confronto com os talibãs mereceu críticas do presidente norte-americano, Joe Biden, num discurso na segunda-feira, em que acusou o governo e as forças aliadas a ele no terreno de cobardia: “Os líderes políticos do Afeganistão desistiram e fugiram do país. Os militares afegãos entraram em colapso, às vezes sem tentar lutar. No mínimo, os acontecimentos da semana passada reforçaram que o fim do envolvimento militar no Afeganistão agora era a decisão certa”.

Entretanto, os cidadãos afegãos correram para o aeroporto da capital na esperança de abandonar o país, com receio do fundamentalismo que os talibãs podem instaurar por lá, justificando as ações com interpretações rígidas do Alcorão e da lei islâmica. Nas últimas horas, tornou-se viral a fotografia de um avião norte-americano com capacidade para 188 pessoas que transportava 640 afegãos para fora do país. No exterior, várias pessoas tentaram viajar no topo do aparelho, em cima das asas e agarrados às rodas.

A história da fotografia de 640 afegãos amontoados dentro de um avião de carga

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