Um talento dificilmente pode crescer sozinho. Tem de ser estimulado, desafiado e colocado à prova para conseguir evoluir e desenvolver-se sem se fechar no cenário idílico de que o talento, por si só e sem trabalho, é suficiente para chegar a algum lado. Emma Raducanu, que acabou de ganhar o US Open com apenas 18 anos, tem claramente o talento mas também tem a capacidade de trabalho que lhe permite tirar 20 a matemática e ganhar um Grand Slam ao mesmo tempo. E parece que, para além dessa característica que já lhe é intrínseca, tem alguém exatamente igual ao seu lado.

Andy Murray, tenista britânico que ganhou em Wimbledon em 2013 e 2016 e também no US Open em 2012, tem sido o grande mentor de Emma Raducanu, que tem apenas 18 anos. De acordo com o The Telegraph, Murray enviou várias mensagens à tenista durante o verão, entre o percurso vitorioso no US Open mas também a chegada à quarta ronda em Wimbledon, e os dois chegaram a jogar e a treinar juntos em várias ocasiões nos últimos meses.

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“O que ela fez é incrível. Acho que muitas das pessoas que estão envolvidas no ténis britânico sabiam que ela é extremamente boa. Ela não competiu muito nos últimos 18 meses, com a escola e a pandemia e essas coisas, mas acho que em Wimbledon toda a gente conseguiu perceber o quão boa ela pode ser”, disse Andy Murray, já esta semana, depois de derrotar Yannick Maden na primeira ronda do Rennes Open. O tenista de 34 anos acrescentou ainda que tem passado “algum tempo” com Emma Raducanu. “Treinamos perto um do outro, por isso, vejo sempre o que ela está a fazer e é óbvio que é muito, muito boa. O que ela fez em Nova Iorque foi muito especial, um grande empurrão para o ténis britânico. Espero que dê às entidades responsáveis uma oportunidade para capitalizar tudo isto e envolver mais miúdos na modalidades. O que ela fez é ótimo e é uma enorme oportunidade para o ténis britânico”, atirou.

Segundo o The Telegraph, a relação de amizade entre os dois tenistas terá começado em 2019. Nesse ano, Raducanu e Jack Draper ganharam o Prime Video Future Talent Award e, para além das 30 mil libras anuais em financiamento, garantiram várias sessões de mentoria com Andy Murray. Depois de se conhecerem, depressa se tornaram mestre e aprendiz e acabaram por treinar juntos entre o final da época passada e o início desta, acabando por ser rivais em dois jogos de pares mistos na Battle of the Brits, em Roehampton.

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“Joguei contra o Andy duas vezes, na ‘Battle of the Brits’. Foi ótimo ver o quão rápida é a bola de serviço no jogo masculino, àquele nível, por isso foi uma grande experiência só tentar devolver o serviço dele. Ele é ótimo e aquilo que o torna um grande competidor são os pontos grandes — ele sabe exatamente o que fazer, quando forçar e que pontos é que importam. Ele concentra-se para esses pontos mais importantes e dá para sentir isso quando és o adversário, há uma pressão sobre ti”, explicou Emma Raducanu, que ficou em Nova Iorque depois da vitória no US Open e até passou no luxuoso Met Gala.

A ligação entre os dois chegou a aprofundar-se ainda mais nos últimos tempos, quando a tenista mudou de treinador e escolheu Nigel Sears, o sogro de Andy Murray que já orientou Ana Ivanovic e Amanda Coetzer. Ainda assim, entre Wimbledon e o US Open, Raducanu deixou Sears e voltou para Andrew Richardson, com quem já tinha trabalhado quando era mais nova. Certo é que, independentemente disso, Murray está muito atento ao futuro de um ténis britânico do qual foi definitivamente o nome maior da última década.