A consultora Eurasia considerou esta sexta-feira que o sucesso das tropas do Ruanda no combate à insurgência no norte de Moçambique abre espaço para críticas dos dirigentes da Frelimo e diminui a confiança na capacidade de Nyusi liderar as forças armadas.

Os sucessos das forças armadas do Ruanda no combate à insurgência levanta questões sobre a liderança em Moçambique”, escrevem os analistas num comentário sobre a evolução da situação no norte do país.

No documento, enviado aos clientes e a que a Lusa teve acesso, os analistas da Eurasia escrevem que “a rapidez com que as forças do Ruanda derrotaram os insurgentes em Cabo Delgado levou as elites dentro da Frente para a Libertação de Moçambique [Frelimo, no poder] a questionar a capacidade do Presidente, Filipe Nyusi, para liderar o exército moçambicano”.

Antes do envolvimento das tropas do Ruanda no combate aos insurgentes que espalham a violência na província há mais de três anos, “as tropas moçambicanas debateram-se para mitigar a insurgência e foram acusadas de cometer vários abusos”.

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Segundo a opinião destes analistas, “apesar de Nyusi dificilmente ser despedido, a diminuição da confiança na sua liderança pode afetar o debate sobre a sucessão dentro da Frelimo”.

O Presidente, concluem, “espera escolher o seu sucessor para evitar acusações devido ao seu provável envolvimento no julgamento sobre as dívidas escondidas”, concluem os analistas.

O comentário surge no mesmo dia em que o Presidente do Ruanda visita o norte do país. Paul Kagamé vai participar, como convidado de honra, nas celebrações do dia 25 de setembro, Dia das Forças Armadas de Defesa de Moçambique.

Mocímboa da Praia esteve ocupada por insurgentes durante um ano, até ao início de agosto, até ser reconquistada por forças moçambicanas e do Ruanda – que juntamente com tropas da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) estão a virar a maré do conflito a favor das forças estatais.

O Governo moçambicano aprovou na terça-feira em sessão do Conselho de Ministros o plano de reconstrução de Cabo Delgado para o período de 2021-24, cujos detalhes foram remetidos para cerimónias a realizar em breve.

A província é rica em gás natural, mas aterrorizada desde 2017 por rebeldes armados, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.

O conflito já provocou mais de 3.100 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED, e mais de 817 mil deslocados, segundo as autoridades moçambicanas.