Três finais. Para Fernando Santos, Portugal estava apenas a três finais de garantir o apuramento para o Mundial 2022: Luxemburgo, Irlanda e Sérvia. A primeira acontecia já esta terça-feira, no Algarve e contra uma seleção luxemburguesa que deu trabalho no encontro anterior, e o selecionador nacional garantia que não tinha memória curta.

“Espero um jogo com grau de dificuldade. Não direi ‘elevado, elevado, elevado’ mas com um grau de dificuldade elevado, até por aquilo que vi deste último jogo de sábado frente à Sérvia. Foi um jogo difícil para a Sérvia. O Luxemburgo acabou por perder mas penso que foi injusto. A Sérvia teve algumas oportunidades em contra-ataque e, quem vir só um resumo, fica com a ideia errada. Mas a posse de bola foi quase toda do Luxemburgo”, explicou Fernando Santos.

Ficha de jogo

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Portugal-Luxemburgo, 5-0

Apuramento para o Mundial 2022

Estádio Algarve, em Faro/Loulé

Árbitro: Benoît Bastien (França)

Portugal: Rui Patrício, João Cancelo, Pepe, Rúben Dias, Nuno Mendes, João Palhinha (Rúben Neves, 73′), João Moutinho (João Mário, 65′), Bruno Fernandes (Gonçalo Guedes, 80′), Cristiano Ronaldo, André Silva (Rafael Leão, 73′), Bernardo Silva (Matheus Nunes, 80′)

Suplentes não utilizados: Anthony Lopes, Diogo Costa, Diogo Dalot, Nélson Semedo, José Fonte, Danilo, William Carvalho

Treinador: Fernando Santos

 

Luxemburgo: Moris, Jans, Chanot, Carlson, Mica Pinto (Muratovic, 89′), Sinani (Eric Veiga, 89′), Christopher Martins, Leandro Barreiro, Olivier Thill (Yvandro, 45′), Gerson Rodrigues, Sébastien Thill (Maurice Deville, 45′)

Suplentes não utilizados: Schon, Kips, Malget, Dzogovic, Selimovic, Diogo Pimentel, Skenderovic, Omosanya

Treinador: Luc Holtz

 

Golos: Cristiano Ronaldo (8′, gp, 13, gp e 87′), Bruno Fernandes (17′), João Palhinha (69′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Nuno Mendes (22′), a Christopher Martins (32′), a João Cancelo (84′)

Ora, como também já é apanágio da Seleção desde que o selecionador assumiu o cargo, o mesmo discurso é totalmente transversal a equipa técnica, jogadores e staff. Cumprindo esse desígnio, Bernardo Silva apareceu na conferência de imprensa de antevisão com a mesma linha de pensamento: a de que esta era a primeira final de Portugal rumo ao Mundial. “Nesta fase todos os jogos são importantes, porque a fase de qualificação está quase a terminar. Precisamos de uma vitória para irmos para os dois últimos jogos, em novembro, em boa posição no grupo. São três finais que temos de ganhar”, disse o avançado do Manchester City.

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Para esta final, a Seleção Nacional voltava a uma das equipas-tipo depois da revolução contra o Qatar: Pepe e Rúben Dias faziam dupla no eixo defensivo, Nuno Mendes era o lateral esquerdo e João Cancelo estava no lado contrário, Moutinho era a grande novidade no meio-campo e deixava João Mário e Rúben Neves no banco, Palhinha e Bruno Fernandes continuavam a ser aposta e André Silva era titular no ataque em conjunto com Ronaldo e Bernardo. O avançado do RB Leipzig repetia a presença no onze face à ausência de Diogo Jota, que foi dispensado por lesão, e Diogo Dalot não saltava para a titularidade apesar da boa exibição no particular com os qataris — tal como Fernando Santos tinha desde logo antecipado.

Num jogo que poderia ter-se tornado complexo, não só por essas boas indicações dadas pelo Luxemburgo em março e contra a Sérvia mas também pela noção clara de que a seleção de Luc Holtz está em notória evolução, Portugal acabou por beneficiar da fortuna — fortuna que procurou, ainda assim. Logo aos sete minutos, quando ainda praticamente nada tinha acontecido, Bernardo Silva foi carregado em falta no lado direito da grande área e Cristiano Ronaldo converteu a grande penalidade (8′). Instantes depois, o árbitro Benoît Bastien voltou a assinalar castigo máximo, desta feita por falta do guarda-redes Moris sobre Ronaldo quando o capitão tentava assistir André Silva. O final da história foi o mesmo: penálti de Ronaldo, golo de Portugal (13′), com o Luxemburgo a tornar-se o país a quem o avançado já marcou mais golos, com oito.

Apesar de conquistada essa confortável vantagem, a Seleção não quebrou desde logo a intensidade e procurou continuar com as linhas subidas e uma presença constante no meio-campo adversário. Ronaldo acertou no poste (16′), embora o lance tenha sido anulado por uma falta anterior, e o terceiro golo acabou por não demorar. Numa jogada pela direita, Bernardo levou dois adversários consigo e desmarcou Bruno Fernandes com um passe de rotura perfeito, com o médio do Manchester United a atirar cruzado e de primeira para bater Moris (17′). Em seguida, Rúben Dias ainda cabeceou na sequência de um canto para defesa do guarda-redes (21′) mas Portugal começou a recuar no terreno, permitindo uma posse de bola controlada ao Luxemburgo e atacando principalmente em transição e não tanto de forma organizada. A equipa de Luc Holtz colocava muita gente na frente, avançava com base na velocidade de Gerson e na qualidade de Leandro Barreiro mas não conseguia causar perigo, tendo muitas dificuldades para ultrapassar a organização defensiva portuguesa.

A reta final da primeira parte foi algo pobre, com algumas faltas, muita luta na zona do meio-campo e total escassez de aproximações às duas balizas, mas Portugal acabou por ficar perto de chegar à goleada mesmo à beira do intervalo. Depois de uma grande arrancada de João Palhinha, André Silva passou por um adversário com um bom pormenor e assistiu Ronaldo, que na grande área e em frente a Moris permitiu a defesa do guarda-redes (43′). Até à interrupção, o guardião luxemburguês ainda parou um pontapé acrobático de Bernardo (45′) e Portugal regressou aos balneários a ganhar de forma confortável e com a responsabilidade de manter, essencialmente, a competência na segunda parte.

Ao intervalo, Luc Holtz tirou os irmãos Olivier e Sébastien Thill e lançou Yvandro e Maurice Deville para tentar espicaçar o ataque luxemburguês. Os primeiros instantes da segunda parte mostraram desde logo que esta seria diametralmente oposta à anterior: se o primeiro tempo teve poucas oportunidades e três golos, o segundo teria diversas ocasiões mas pouca eficácia. André Silva foi o primeiro a desperdiçar, ao atirar para defesa de Moris depois de um canto na direita (48′); Ronaldo rematou ao lado na sequência de um grande cruzamento de Nuno Mendes (49′), Palhinha falhou o alvo após um livre (56′) e Bruno Fernandes não conseguiu desviar por centímetros na cara do guarda-redes (62′). Pelo meio, Sinani obrigou Rui Patrício à primeira intervenção mais atenta com um pontapé rasteiro na área (54′).

Apesar de o golo teimar em não aparecer, a verdade é que Portugal estava melhor do que na primeira parte e chegava à baliza adversária com maior criatividade e engenho. Grande parte disso, aliás, partia de Nuno Mendes: o lateral esquerdo subiu de rendimento depois do intervalo, tornou-se o grande impulsionador da toada ofensiva da Seleção e soltou inúmeros cruzamentos perigosos a partir da ala, motivando as oportunidades de Ronaldo, Palhinha e Bruno Fernandes. Nesta fase, Fernando Santos mexeu pela primeira vez na equipa e tirou João Moutinho para lançar João Mário, proporcionando a 50.ª internacionalização do médio do Benfica.

A pouco mais de 20 minutos do fim, Moris roubou a Cristiano Ronaldo aquilo que seria um golo extraordinário: João Cancelo cruzou na direita e o capitão português, com um pontapé de bicicleta exímio, viu o guarda-redes do Luxemburgo evitar o hat-trick com uma grande defesa (68′). No lance seguinte, porém, o golo acabou por chegar. Na sequência de um canto batido por Bruno Fernandes na esquerda, João Palhinha antecipou-se ao guarda-redes no primeiro poste e desviou de cabeça, repetindo o golo que já tinha apontado aos luxemburgueses em março (69′). Com a goleada alcançada, o selecionador nacional começou por fazer descansar tanto Palhinha como André Silva, lançando Rúben Neves e Rafael Leão, tirando depois Bernardo e Bruno Fernandes para colocar Matheus Nunes e Gonçalo Guedes.

Até ao fim, já pouco aconteceu. Portugal goleou o Luxemburgo no Algarve, carimbou a quinta vitória em seis jornadas da qualificação e mantém-se em boa posição para garantir o apuramento direto para o Mundial 2022, dependendo apenas de si para o alcançar. Cristiano Ronaldo fez um hat-trick, chegou aos 115 golos pela Seleção Nacional, já leva mais de 800 em toda a carreira e voltou a provar que é sobre-humano, imparável e como o vinho do Porto. Mas Ronaldo, com toda a certeza, foi para casa a sonhar com aquele extraordinário pontapé de bicicleta que Moris defendeu.