Nuno Melo entende que se o CDS não corrigir o rumo e continuar sem ter “mensagens nítidas” capazes de dar resposta aos anseios do eleitorado que sempre foi o seu, então, correrá o risco de ter o mesmo desfecho que muitos dos seus congéneres europeus e desaparecer. “Ou nos adaptamos, ou morremos”, avisou o eurodeputado.
Mesmo antes de discursar, no arranque da Escola de Quadros do CDS, que decorre este fim de semana na cidade de Portimão, Melo deixou a promessa de que não falaria sobre a disputa interna com Francisco Rodrigues dos Santos. Se é certo que, no essencial, cumpriu a promessa, a crítica à falta de capacidade de afirmação do líder do partido esteve presente em grande parte de um discurso que durou cerca de 3o minutos.
De resto, Melo começou a sua intervenção precisamente com a ideia de que o CDS corre o risco de ser varrido do mapa eleitoral se nada for feito.”Temos de evitar que suceda ao CDS o que aconteceu a muitos partidos de centro na União Europeia”, começou por dizer.
O agora candidato à liderança do CDS daria depois vários exemplos, desde a Forza Itália, ao Partido Republicano, em França, passando pelo PP, em Espanha, que ao estão hoje reduzidos a quase nada ou viram a sua capacidade de influência muito reduzida.
Para Melo, o risco de se repetir em Portugal o que aconteceu noutros países não só é uma evidência como pode atingir diretamente o CDS. “Durante alguns anos achámos que Portugal era imune [a estes fenómenos]. E nunca é. Desde a revolução francesa que o que se passa longe chega cá. E aconteceu.”
O ataque a Ventura
Para que o CDS consiga escapar a esse destino, Melo só vê uma saída: enfrentar de frente os partidos que nasceram à direita dos democratas-cristãos, em particular o Chega e o líder André Ventura.
“Aqui chegados parece-me evidente que no nosso espaço político temos de ter o Chega e a Iniciativa Liberal como adversários. Não me venham com essa conversa de que a direita se deve centrar na esquerda. Quem nessa direita quer aniquilar o CDS, apouca as nossas lideranças, vai a votos pescando no nosso eleitorado e os nossos dirigentes, não pode ser nosso aliado, tem de ser nosso adversário e temos de os combater fortemente”, defendeu Melo.
O eurodeputado acabou por centrar mais os seus ataques, naturalmente, em André Ventura. Com uma nuance que, sendo lida à luz do contexto de disputa interna em que vive o CDS, pode ser interpretada também como uma crítica direita à dificuldade de Francisco Rodrigues do Santos em impor-se a Ventura.
“Olho para o André Ventura e não vejo um aliado; vejo alguém que quer aniquilar o CDS. Um dirigente que chama ‘Chiquinho‘ ou chama ‘menino‘ não só não está à altura do cargo como insulta o CDS inteiro”, sublinhou Melo.
“Se os eleitores olharem para o CDS e virem aquilo que sempre fomos — os democratas cristãos de origem, os liberais e os conservadores — não têm nenhuma razão para estar a procurar na Iniciativa Liberal o que sempre receberam cá dentro; ou nas aventuras do Chega o que nós podemos tratar muito melhor”, continuou.
Falando depois sobre vários temas que deviam constar da agenda de prioridades do CDS — Antigos Combatentes, Agricultura, Desigualdades Territoriais, Reforma do Sistema Político — Melo voltou a visar diretamente André Ventura e, por arrasto, a criticar implicitamente a falta de afirmação de Rodrigues dos Santos.
“Quando Ventura fala da segurança e acha que descobriu a pólvora, nós toda a vida falámos sobre segurança e não temos de ter medo de falar sobre segurança porque podem achar ‘ah, está a querer copiar o Ventura’. Desculpem: nós estávamos aqui e o Ventura ainda estava a gritar para ter atenção”, atirou Melo, sempre muito aplaudido.
“O que está a acontecer com os combustíveis é uma indignidade”
Da necessidade de combater os adversários à direita do CDS, Melo concentrou depois os seus esforços em criticar abertamente António Costa e o Governo socialista à boleia da crise dos preços de combustível.
“O que está a acontecer com os combustíveis é uma indignidade. Quem se diz socialista permite que quem não tem dinheiro mas tem de abastecer o seu carro não o possa fazer. Isto não é socialista”, sublinhou o eurodeputado, antes de se atirar ao “discurso moderninho” da transição energética.
“O que é que o preço dos combustíveis tem que ver com a transição energética? Nada. Só tem a ver com uma coisa: socialismo. 60% do preço dos combustíveis são impostos. Estes impostos são socialismo não são transição energética. Não se pode querer nacionalizar empresas, querer nacionalizar a TAP e depois querer baixar os combustíveis. Porque o socialismo vive com o dinheiro dos outros e ele não chega para tudo.”
Nuno Melo falou ainda do aumento do número de funcionários públicos e de como o país está hoje nessa matéria muito perto “do momento em que caminhávamos para a bancarrota e a intervenção da troika”.
“Não quero que o Estado seja gordo, que absorva os nossos recursos. Quero é que o Estado não atrapalhe, que permita que as empresas possam criar emprego e riqueza”, defendeu o candidato à liderança democrata-cristã.
A terminar, o eurodeputado deixou um último ataque a António Costa, um primeiro-ministro que, no seu entender, está “em absoluto desespero” ao ponto de estar a negociar alterações profundas à lei laboral só para garantir a sua sobrevivência política, ignorando que a “perspetiva laboral do BE e do PCP são o assassinato de uma economia racional e produtiva”.
“Se o Orçamento do Estado não for aprovado a única certeza que teremos é que a tal solução duradoura e estável falhou. O que equivale a dizer que o que falhou foi o primeiro-ministro”, rematou Nuno Melo.