Há algum tempo que o Benfica não tem um jogo descansado. Desde a vitória frente ao poderoso Barcelona para a Liga dos Campeões, no Estádio da Luz, por 3-0, a equipa de Jorge Jesus conseguiu duas vitórias em cinco jogos. Na ressaca da exibição frente aos catalães, as águias foram derrotadas em casa pelo Portimonense para a I Liga, seguindo-se uma sofrida vitória no prolongamento frente ao Trofense, para a Taça de Portugal. No jogo seguinte apareceu pela frente o Bayern Munique, que saiu da Luz com um expressivo 4-0, o que obrigou Jorge Jesus a dizer antes do encontro com o Vizela que a sua equipa estava no “momento mais difícil” da temporada. Nesse jogo Rafa acabaria por salvar o Benfica em cima do apito final, o mesmo Benfica que empatou 3-3 no campo do V. Guimarães para a Taça da Liga. Este resumo e este puxar atrás do filme servem para explicar que as coisas não têm sido fáceis para os encarnados que, apesar de tudo, apenas dependiam de si e de uma possível vitória no Estoril para continuar na liderança do campeonato.

E foi o próprio Jorge Jesus, na antevisão à deslocação da sua equipa ao António Coimbra da Mota, que relembrou que “os jogos ganham-se com muita dificuldade” e que, por isso, os “adeptos do Benfica nunca vão estar descansados”, até porque “não existe nenhuma equipa, tirando exceções, que deixe os adeptos descansados”.

“Nós, Benfica, para ganharmos jogos temos de sofrer. Nem sempre conseguimos vitórias com um ‘score’ [resultado] superior para dar esse descanso. Já tivemos este ano, mas nem sempre isso vai acontecer. Muitas vezes não vai e amanhã [sábado] sei que também não vai acontecer”, disse, destacando que o Estoril é “uma equipa que defende bem” e com “uma linha de seis defesas” que iria causar, segundo JJ,  “imensos problemas”, motivo pelo qual “não vai ser fácil ter supremacia”.

“Podes ter supremacia em termos de posse de bola, de controlo de jogo, mas não vais arranjar tantas situações assim para fazer golos como possa, depois, o resultado ser dilatado. Vai ser um jogo muito próximo, de poucos golos, não tenho dúvida nenhuma”, garantiu o treinador do Benfica, acrescentando e relembrando que “o importante é arranjar soluções para uma linha de seis defesas” do Estoril. Jesus recordou que, dada a proximidade entre jogos, nomeadamente o último em Guimarães com o deste sábado, os jogadores “fizeram só treino de recuperação, não fizeram treino tático”.

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Sobre este último ponto, o treinador recordou que essa é uma dificuldade de todas os clubes que estão nas competições europeias: “Aconteça o que acontecer amanhã [sábado] no jogo, isto não é desculpa de nada. Isto é aquilo onde o Benfica quer estar. E se fosse possível, era jogar dia a dia, também era bom, é sinal que está em todas. Portanto, o que temos de fazer é trabalhar em cima do teórico e estarmos preparados para o que vai acontecer”.

E o teórico, na medida das estatísticas, não favorecia nada o Estoril, apesar de à entrada para a jornada o clube ser a grande surpresa da I Liga até agora, ao estar em 4.º lugar, apenas com uma derrota e em casa, com o campeão Sporting. É que há 48 jogos que o Benfica não perdia com a equipa da linha de Cascais. Foi há 71 anos, no já longínquo ano de 1950, que os canarinhos ganharam no antigo Estádio da Luz, por 3-2. Em casa, apenas venceu uma vez o Benfica, por 6-3, em 1946. Além disto, e apesar de o Estoril não perder há quatro jogos, apenas tinha vencido um em casa, com as águias a terem um excelente registo forasteiro, com sete vitórias (cinco em cinco jogos fora na I Liga) e três empates.

E ainda alguns adeptos se estavam a sentar nas bancadas do Estádio António Coimbra da Mota quando o Benfica marcou golo. Foram precisos apenas dois minutos e um pontapé de canto apontado por João Mário. Forte nas alturas, Lucas Veríssimo fez golo de cabeça e alterou tudo muito cedo, tornando-se o jogo uma incógnita muito rapidamente.

O Benfica parecia que ia arrancar para cima do adversário e tentou fazê-lo, ainda que, como acontece algumas vezes com a equipa de Jorge Jesus, a definição dos lances não ser a melhor, principalmente em contra-ataques ou jogadas rápidas em que Darwin conduz com velocidade mas com a cabeça em baixo, o que acaba por fazer parar várias vezes a manobra encarnada.

Mas a responsabilidade não era apenas do uruguaio, porque o Estoril também foi tentando perturbar a construção do Benfica logo junto dos centrais encarnados, ainda que não tenha sido a partir daí que criou muitos problemas. Vlachodimos acabou por ser assustado em lances onde a defesa encarnada se via próxima da igualdade numérica ou fruto de alguma distância entre setores. Houve cruzamentos estorilistas que causaram frisson junto dos jogadores mais recuados da equipa de Jorge Jesus, mas sem um lance de golo absolutamente claro.

Assim, o Benfica controlou o jogo até ao intervalo e criou dois lances com algum perigo junto da área do Estoril, um em que Gamboa podia ter feito autogolo e outro em que Rafa, em boa posição, rematou por cima. Manteve-se, no entanto, pouca qualidade nas alas encarnadas ao nível do cruzamento. Radonjic, que este sábado foi novamente a jogo para fazer a ala direita, tentou várias vezes, mas quase sempre com demasiada força. Tendo em conta todos os acontecimentos, o Benfica controlou o jogo, mas ficava no ar a ideia de que o Estoril podia conseguir alguma coisa. O jogo estava longe de estar fechado.

O Benfica parecia entrar um bocado mais mexido no segundo tempo, mas foi Vlachodimos o primeiro destaque, ao ter de aplicar-se para parar um livre marcado por Lucas Áfrico, logo aos 53′, que rematou de muito, muito longe, mas com perigo. Jorge Jesus ao intervalo Gonçalo Ramos para o lugar de Yaremchuk e o jovem avançado português viria a causar perigo na área estorilista, mas os primeiros 15 minutos da etapa complementar não tiveram consequências no jogo e, apesar de o Benfica continuar a somar cantos, eram muito mais as faltas e as paragens do que os lances de perigo.

Este estado do jogo era ambíguo, porque o Benfica ganhava e como que conseguia controlar a construção do Estoril, é verdade, mas não conseguia matar o jogo, com muito nervosismo para Jorge Jesus. Acabou por ser Lucas Veríssimo (imperial na defesa), em combinações com Rafa e Gonçalo Ramos, que foi avançando e avançando no terreno até conseguir rematar forte, mas para as mãos de Dani Figueira.

Foi um pequeno safanão no jogo e inspirou Gonçalo Ramos, que deitou um adversário na linha final e à entrada da pequena área quis servir Grimaldo para o espanhol se limitar a encostar, mas o passe saiu demasiado para trás. Pouco depois, aos 69′, Vlachodimos viu-se obrigado a intervir com qualidade num cruzamento muito traiçoeiro.

Pegando novamente no tema cruzamentos, estes continuavam a ser de qualidade muito pobre por parte do Benfica, que ia conseguindo soltar Diogo Gonçalves, que veio fresco do banco, e Everton, que também entrou, mas desinspirado. Da mesma forma, algo morna, o jogo acabaria por chegar aos 90’… quando o Estoril empatou. Pontapé de canto e Rosier marcou de cabeça, num balde de água gelada para as hostes do Benfica, cuja referida falta de capacidade para resolver o jogo mais cedo acabou por confirmar que as águias não conseguem ter um jogo descansado nos últimos tempos.

Em Vizela, Rafa conseguiu um milagre, mas este sábado à noite foi o Estoril que teve a sorte do jogo, misturada com o mérito de nunca se ter dado como vencido. O Benfica perde a liderança do campeonato num jogo em que tentou segurar uma vantagem curta com uma exibição pouco conseguida. Correu mal. Segue-se o Bayern Munique, para a Liga dos Campeões.