A Galp Energia vai terminar a atividade de prospeção e pesquisa de novos campos de petróleo e gás a partir do início de 2022. O anúncio foi feito pelo presidente executivo da empresa Andy Brown durante um pequeno almoço no quadro da participação da empresa na Web Summit.

A Galp vai ainda realizar algumas perfurações já contratualizadas no Brasil em São Tomé, mas a empresa deixará de procurar e concorrer a novas licenças de pesquisa e exploração de hidrocarbonetos.

“A Galp é uma empresa de exploração de enorme sucesso. Está envolvida em duas das maiores descobertas dos últimos 20 anos (pré-sal no Brasil e gás em Moçambique). Tem sido uma grande viagem e agora vamos terminá-la. É um grande passo para a Galp. Não vamos perfurar mais  não vamos fazer mais furos para procurar petróleo ainda por descobrir”.

Em declarações aos jornalistas esta quarta-feira, o presidente executivo da Galp revelou que a empresa ainda vai fazer dois furos de pesquisa em São Tomé e no Brasil, na base de Campos. Estes furos, que devem acontecer entre dezembro ou janeiro, “devem ser os últimos furos de fronteira”. Isso não quer dizer contudo que a empresa não vai realizar mais furos de avaliação ou em campos de desenvolvimento, mas sim que não vai procurar novas áreas, nem novas licenças.

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“Acho que somos a primeira empresa integrada de gás e petróleo das grandes petrolíferas” a fazer este anúncio, sinalizou o gestor, apesar de reconhecer que a menor dimensão da Galp face às congéneres torna esta opção mais fácil.

A empresa tem anda muitos recursos em desenvolvimento, em particular no Brasil onde anunciou recentemente o início da exploração do campo de Carcará, e em Moçambique onde aguarda a decisão da líder do consórcio, a Total, de desenvolver o campo de gás natural na região de Pemba. Estes recursos vão ainda gerar retorno durante mais de uma década. Mas a Galp tem também a ambição de realizar a transição mais rapidamente do que as congéneres e alcançar a meta de reduzir 40% das emissões da energia produzida até 2030. Por isso, “estamos a colocar metade do nosso investimento na expansão das energias renováveis”, sinalizou o presidente executivo.

“Queremos estar no pelotão da frente da descarbonzação. Não queremos ser empurrados pela sociedade e pela regulação. Queremos assumir esse desafio.”

A Galp pode ter começado mais tarde a mudar o rumo “mas estamos a ir mais rápido”, defendeu também o gestor que neste encontro falou ainda sobre o fecho da refinaria de Matosinhos e os projetos para tornar Sines uma unidade industrial descarbonizada e sustentável.

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A produção de petróleo da Galp começou em 1999 com o Bloco 14 nas águas profundas de Angola desenvolvido em consórcio com a Total e a Sonangol. Graças à descoberta das reservas do pré-sal nas águas profundas brasileiras e do campo Tupi, a Galp tornou-se uma das empresas mais bem sucedidas nas últimas décadas no upstream (pesquisa e exploração). Este sucesso refletiu-se em fortes valorizações na bolsa que tornaram o maior acionista, o empresário Américo Amorim, no homem mais rico de Portugal. Mas também deixaram a Galp exposta ao risco do preço do petróleo que comanda ainda o sobe e desce das ações da empresa.

Em Portugal, a Galp fazia parte de um consórcio com a Eni que ganhou a concessão da pesquisa e exploração de petróleo e gás natural ao largo da costa alentejana em Aljezur. Mas o projeto esteve sempre envolto em intensa polémica e contestação judicial e o consórcio acabou por deixar cair a concessão em 2018 sem realizar um único furo de pesquisa que deveria acontecer a 40 km da costa.

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Em 2020, e com os efeitos da pandemia a castigarem as ações e os resultados da petrolífera, a Galp Energia começou a reforçar os sinais para o mercado que ia acelerar o rumo para a descarbonização. Inicialmente com o reforço da capacidade de energia renovável pela compra de ativos solares em Espanha e, mais recentemente, no Brasil. O fecho da refinaria de Matosinhos e os planos para reconverter Sines aumentando a produção de biocombustíveis e entrando no hidrogénio verde são outros eixos desta estratégia que ambiciona tornar a empresa livre de carbono até 2050.